Primeiro mês de casados? Uma maravilha!
Era incrível a forma como nos dávamos bem e aos poucos fomos nos conhecendo ainda mais, enquanto isso era ótimo, eu acabei descobrindo outras coisas.
Eli tinha defeitos, assim como o restante do planeta.
Mas isso não entrou na minha cabeça e eu conheceu a me tornar a pessoa mais chata que poderia ter se casado com ele.
Eli trabalhava duro na empresa, já se faziam três anos que ela estava aberta, mas ainda assim era uma luta para permanecer financeiramente. Tinha dias que Eli chegava e não aguentava mais escutar nem o barulho do talher contra o prato que sua cabeça parecia que ia explodir.
Eu trabalhava como professora particular, trabalhava no mínimo quatro horas por dia na casa da pessoa, então eu não tinha o mínimo do estresse que Eli tinha.
Resultado? Eli chegava em casa querendo apenas descansar e ficar em silêncio perto de mim.
E eu? Ah, eu queria atenção, mas de outra maneira. E o ficava cobrando isso! Eli já tinha tantas pessoas que cobravam o seu trabalho na empresa e chegava em casa, parecia a mesma guerra comigo!
Eu era insuportável! Por mais que tivéssemos o Espírito Santo, eram humanos cheios de defeitos que não sabíamos lidar.
Fora que o que eu achava ser a minha metade, Eli tinha uma visão bem mais fantasiosa do que a minha.
Eu tentava fazê-lo enxergar a realidade, mas de maneira errada e isso me tornava uma pessoa chata.
Foram dois anos que agora eu vejo que praticamente perdi ao lado de Eli. Por sermos um casal jovem o diabo todos os dias colocava milhares de dúvidas em nossas cabeças, será que havíamos acertado ao escolher se casar naquele momento? Aquelas brigas não eram um sinal mostrando o quanto aquilo estava errado?
Então finalmente criei coragem e fui buscar ajuda. Eu amava Eli, e não o queria perder.
Cheguei até a esposa do Pastor, Dona Marisa e contei a situação, ao invés de uma palavra de consolo, ela falou algo que na hora eu não quis aceitar:
-Noemi, você está agindo errado.
Eu errada?
-Seu marido precisa chegar em casa e encontrar um local de paz, não um local que o cobre da mesma forma que o trabalho, se fosse assim, seu esposo ficaria lá na empresa vinte e quatro horas!
O Espírito Santo te proporciona muitas coisas e a maior força é a de reconhecer o nosso erro.
Por mais que eu não quisesse admitir, Dona Marisa estava certa. Eu estava sendo um peso para o meu marido e eu precisava mudar, para que através de mim Eli viesse a mudar também.
Isso é muito difícil para nós entendermos. Se é a outra pessoa que está errando, por que eu tenho que mudar?
Mas se ninguém iria dar o primeiro passo, como a mudança aconteceria?
Não é fácil mudar, mas com o tempo se torna menos complicado.
Eli não mudou da noite pro dia, mas percebeu a minha diferença. Eu havia me tornado uma pessoa agradável, uma mulher que ele queria estar próximo. Eu não entendia nada sobre sua empresa, mas ainda assim ele vinha conversar comigo, às vezes ele não precisava que eu desse opinião, ele só precisava ser escutado.
Na verdade, ele precisava se escutar.
Começamos a ter o jogo de cintura e contornar os nossos defeitos para nós encaixarmos um no outro.
Eu o colocava para cima em todos os momentos e como retorno ele me levava para estar ao seu lado sempre.
Mas teve um dia que eu cheguei mais tarde do serviço e vi como Eli estava pra baixo. Era como se uma nuvem de preocupação estivesse ao seu redor. Ele estava sentado no sofá com vários papéis ao seu redor. Eu esperei para irmos dormir juntos, mas quando o avisei que já era tarde, ele não queria. Disse que precisava resolver aquele problema.
Eu não gostava de dormir sem o meu marido, peguei alguns cobertores e meu travesseiro e me deitei no sofá ao lado, tentei ficar o máximo possível acordada, mas por fim me rendi ao sono.
O que pareceu apenas minutos de cochilos, duraram quatro horas quando Eli bateu na mesa em frustração me acordando.
-Eli? -Perguntei sonolenta.
-Oh, Noemi! Me perdoa meu amor, eu não queria te acordar... -Ele passou as mãos pelo rosto frustrado.
-Está tudo bem? -Perguntei me levantando e me sentando ao seu lado.
Eli ficou em silêncio e encostou a cabeça em meu ombro, depois de alguns segundos algumas lágrimas caíram nas minhas mãos.
Meu esposo estava chorando.
-Eli? -Levantei o seu rosto para mim e ele fechou os olhos. -Meu querido, calma eu estou aqui.
-Nossa empresa aqui de Mato Grosso faliu, Noemi. -Ele encostou a testa na minha.
-Está tudo bem. -Falei tentando transmitir firmeza. -A gente vai dar a volta por cima, como sempre fazemos.
-Não, meu amor. Dessa vez não tem como.
-Como assim?
-Desculpa, minha querida. Mas dessa vez não tem como dar a volta por cima. Eu vou ter que voltar para São Paulo.
Arqueei as sobrancelhas:
-São Paulo?
-Sim, olha... Eu sei que você ama esse lugar... -Ele não terminou a frase.
Eu nunca havia saído da minha cidade, e Eli sabia disso. Sabia que eu vivia lá e não tinha sequer projetos de sair daquele lugar, ainda mais ir para São Paulo, uma cidade grande, agitada e populosa... Eu sendo uma simples professora, como iria me dar bem na correria do dia a dia?
-Eli, não se preocupe. -Engoli em seco. -Eu vou com você.
-Você vai?
Abri um sorriso convencendo mais a mim do que ele:
-Aonde você estiver, meu marido, eu vou estar ao seu lado. Vamos vencer juntos.
-Já viu aquele versículo que a esposa é a coroa do marido?
O beijei sem deixá-lo terminar.
Eli não era mais apenas um príncipe, era um rei. E quando todos olhavam para o rei, identificavam seu poder pela coroa que possuía acima de sua cabeça.
Aquilo era a única coisa reconfortante em saber que no dia seguinte eu estaria em um avião para uma cidade que eu não conhecia.