Caminhei hesitante até a sala onde ele estava. Bruna não quis me acompanhar, só explicou aonde era e eu tive que seguir sozinha.
Eu nuca tinha feito uma entrevista com o próprio chefe da empresa, sempre era com pessoas que faziam parte do RH. Talvez fosse por isso que eu estava tão nervosa. Me aproximei da porta e li o letreiro, o nome "Boáz" estava gravado em uma placa brilhante e dourada, bati calmamente, sua voz abafada veio com um "Pode entrar" e eu entrei.
Seu escritório era branco com alguns detalhes azuis, atrás de sua mesa uma janela enorme clareava o lugar que sequer precisava de luz elétrica. Estávamos em um andar alto e o céu contornava o lugar com alguns prédios vizinhos da cidade.
Olhei para ele que estava falando com alguém ao telefone. Ele apontou para a cadeira a frente e eu me sentei esperando a ligação terminar.
-Sim... Sim. Entendo. -Sua voz era preocupada, uma linha de expressão estava entre suas sobrancelhas e seus olhos observavam a parede a sua frente. -Eu sei que não dá, mas estou pedindo uma chance! A empresa precisa disso... -Uma pausa e um alívio passou sobre seus ombros. -Ok. Te ligarei amanhã sem falta, obrigado. -Ele desligou, respirou fundo passando as mãos sobre seu rosto e finalmente olhando para mim.
Seus olhos me sondavam e dessa vez não desviei o olhar. Eu não precisava ter medo.
-Desculpe. -Ele estendeu a mão. -Pois bem, meu nome é Boáz.
-Prazer, Rute. -Aceitei seu aperto de mão e entreguei os papéis com algumas informações.
Ele pegou seus óculos dentro da caixinha e começou a ler por cima.
-Certo, eu irei fazer algumas perguntas e dependendo da sua resposta, você irá passar para a próxima etapa. -Concordei com a cabeça. -Antes de mais nada, fale sobre você. -Ele não olhou para mim como era de se esperar e isso me fez ficar mais calma.
-Bom, meu nome é Rute, tenho vinte e quatro anos. Nasci em Santa Catarina e cursei Administração enquanto morava em São Paulo, onde eu trabalhava na empresa filial daqui. -Achei que quando eu revelasse que era uma antiga funcionária da empresa causaria algo em Boáz, mas seu rosto continuava sem emoção alguma. -Então, por motivos pessoais, vim morar aqui.
-Seus objetivos profissionais. -Ele era o mais direto possível.
-Além de poder crescer e adquiri experiências nesta empresa, pretendo continuar estudando e fazer pós em Gestão de Pessoas.
-Prefere trabalhar sozinha ou em equipe?
-Equipe. -Tentei ser direta também.
-Como é que você lida com a pressão?
Eu odiava me sentir pressionada e eu sabia que o Espírito Santo estava me ajudando muito, mas respirei fundo, mesmo que eu mentisse para conseguir o cargo, logo ele descobriria que eu era falha.
-Estou aprendendo a lidar da melhor forma.
Ele levantou o rosto concordando e tirou os óculos, finalmente Boáz me encarou e mais uma vez seus olhos claros pareciam querer buscar algo além de uma entrevista de emprego que poderia te oferecer.
-Para finalizar, você tem alguma pergunta para me fazer?
Levantei as sobrancelhas.
-Não senhor. -Talvez se tivéssemos menos contato possível meu estômago ficaria no lugar certo.
-Ok, Rute... -Ele tentou lembrar meu sobrenome. -Desculpa, eu esqueci. Como você se chama? -Falei meu sobrenome e ele franziu as sobrancelhas. -Tem certeza? Achei que no papel estava escrito diferente...
Burra! Repeti para mim mesma, havia acabado de trocar o documentos para o meu nome de solteira e havia falado para Boáz o sobrenome de casada.
-Desculpa, esse era o meu nome de casada. O que está no papel, é o oficial.
-Me perdoe ser indiscreto, mas você parece ser muito nova para ser divorciada.
-Ele faleceu.
-Desculpe, eu não sabia...
-Não tem problema.
O clima ficou estranho e Boáz se levantou para me acompanhar até a porta, ele limpou a garganta e estendeu a mão:
-Muito prazer em conhecê-la, assim que possível, entraremos em contato. -Ele sorriu.
Não consegui sorrir de volta. Sai do prédio sentindo o nervosismo ficar para trás.
Era só o que me faltava!
Cheguei em casa, nem comentei nada com Noemi. Ela até me perguntou algumas coisas, mas eu respondia vagamente. Entrei no meu quarto e após um banho me enfiei nas cobertas, mas era difícil quando toda hora eu tinha que afastar os pensamentos de Boáz.
Não só por ele ser bonito fisicamente, isso eu sabia que tinha muitos que eram, mas algo dentro de Boáz era confortável.