Boáz
A claridade que a lua proporcionava ao quarto entrou por debaixo das minhas pálpebras, tentei abrir os olhos, mas era difícil com a dor latente que existia na minha cabeça. Não só na minha cabeça, todo o meu corpo reclamava como se um caminhão de nossas empresas houvesse passado por cima de mim.
Na minha garganta um gosto horrível fez meu estômago se revirar anunciando o que estava por vir. Inclinei meu corpo para fora da cama e vomitei.
Que nojo.
Quando finalmente vi que era seguro, voltei a minha posição inicial e finamente reparei aonde eu estava.
As paredes de um bege claro, a cor da empresa. Eu sabia que estava em um lugar seguro, mas não fazia ideia da onde eu estava. Olhei para as minhas roupas e uma vaga lembrança que eu estava na festa, Suzana estava próxima a mim... Aí que dor! Levei a minha mão para a cabeça e foi quando meu coração deu um solavanco. Rute estava sentada no chão com a cabeça adormecida aos meus pés.
Meu Deus! O que havia acontecido?
A garota levantou a cabeça e me encarou sonolenta, percebi tarde de mais que as palavras que eu achei que só estavam na minha cabeça, eu as havia pronunciado, em alto e em bom som.
A ânsia de vomito veio novamente e inclinei meu rosto para fora e vomitei toda água existente de dentro do meu estômago.
Mais uma vez, que nojo!
-Boáz! -Rute se levantou e veio até mim tropeçando em seus próprios pés, mas assim que vi sua menção de tocar em mim a afastei. -Senhor... -Ela pareceu preocupada e angustiada.
Mas não me deixei levar pelo seu olhar. Eu não fazia ideia do que estávamos fazendo sozinhos juntos, mas deveria cortar qualquer pensamento de que poderia continuar aquilo, mesmo gostando de Rute, não por ela, mas principalmente por mim.
Afinal, eu não tinha sacrificado as minhas vontades durante todos aqueles anos para chegar ali e largar tudo por alguns momentos.
Então olhei para as nossas roupas, tanto eu como ela estávamos devidamente vestidos, sem nenhum amasso que indicasse que alguma coisa a mais havia acontecido ali.
-Desculpe... -Limpei a boca com as costas da mão. -O que está acontecendo?
Rute olhou para mim apreensiva e suspirou. Contou cada detalhe desde a conversa que havia escutado até aquele momento e eu não conseguia processar tudo aquilo.
Não vomite, Boáz!
-A Suzana... -Repeti incrédulo. Sabia que ela tinha segunda intenções em relação a mim, mas não sabia que ela poderia chegar a esse ponto. Olhei para Rute e minha admiração cresceu ainda mais por aquela mulher. Seu caráter, sua postura e seu respeito por mim eram coisas admiráveis. -Que você seja muito abençoada por Deus. Pois essa sua atitude não se compara com as primeiras. -Eu ainda podia ver o receio em seus olhos. Foi quando uma lembrança daquela noite veio a tona, eu falando que achava Rute linda.
Certo, eu estava meio drogue com o remédio, mas eu lembro dela ao meu lado e eu sussurrando essas palavras, eu não conseguia lembrar sua reação, mas eu estava morrendo de vergonha. Imaginava de todas as formas falando que ela me interessava, não em um quarto todo vomitado.
Grande príncipe eu era.
Mas eu precisava falar aquilo, precisava resolver toda aquela situação de uma vez por todas. Rute poderia não me ver além de seu chefe, mas eu precisava tentar.
-Rute... -Me inclinei para poder observa-la melhor, mas dessa vez foi ela quem recuou. -Não precisa ter medo de mim, não farei nada que desonre você ou ao nosso Deus.