Ninguém derrubou meus livros, ou colocou o próprio casaco para eu passar por cima.
Eli era um príncipe, mas não desse tipo.
Na verdade, acho que ele não faz o meu tipo. E graças aos céus que Deus não nos dá o nosso tipo, mas sim o tipo dEle, que é bem melhor.
Eu moro em uma cidade no interior do Mato Grosso, Acorizal. É uma cidade que todo mundo conhece todo mundo, então você já deve imaginar que ou as pessoas já "arranjaram" um parzinho para você desde criança, ou todo o restante das pessoas deve ser seus primos.
A minha igreja não era muito grande também, e quando Eli chegou ficou maravilhado. Como ele era de São Paulo, tudo para ele era em uma escala trezentas vezes maior que o que eu já tinha visto.
Ele havia ido passar algum tempo em nossa cidade com seus pais para abrir mais uma empresa de água que eles tinham e que era muito famosa em São Paulo. Eles já tinham cinco filiais em outros estados e eu só escutava os comentários de outras jovens de como Eli era importante.
Então imaginem só o que eu pensei! A maioria das pessoas que eu conhecia que tinham um pouco mais que outras, e ao invés de agradecer a Deus e ajudar a sua Obra, grande parte empinava o nariz e se achava a última bolacha do pacote.
Eu tentei não julgar Eli, mas também não fiz questão de me aproximar do rapaz. Era ele lá e eu aqui, mal eu sabia que essa minha distância fazia com que chamasse ainda mais a atenção dele.
Então em uma quarta-feira, após a reunião, eu estava limpando o bebedouro. Sempre após as reuniões eu procurava fazer algo para limpar a igreja, era a Casa do Meu Pai, e Ele merecia o melhor.
-Olá! -Eli se aproximou de mim sorrindo. Seu sotaque paulista era nítido em cada sílaba.
-Oi... -Falei e desviei o olhar.
-Desculpe, Noemi... Certo?
-Sim... E o seu é Eli...
-Elimeleque.
-O quê?! -Perguntei sem conter a surpresa. -Achei que meu nome era estranho! -Quando percebi o que havia falado, levei as duas mãos a boca e senti minhas bochechas queimarem. -Quer dizer... Desculpa, eu não quis...
Eli começou a rir, sua risada era natural e naquele momento me senti confortável perto dele.
-Por favor, Noemi! Não precisa se desculpar, quem deve desculpas são os meus pais!
Eu comecei a rir junto com ele e Eli parou me encarando.
-O que foi? -Perguntei sem graça.
-Nada de mais...
-Você quer beber água? -Perguntei pra afastar aquela tensão.
-Eu adoraria.
Ele se inclinou ao bebedouro. Alguns anos depois, nós dois iríamos rir daquilo, dizendo que aquele havia sido a nossa nova versão do poço. Antigamente os heróis da fé, encontravam suas amadas em poços, e ali faria muito sentido se eu não estivesse sentindo meu estômago rodopiar.
Semanas se passavam e a cada dia sem perceber, eu e Eli ficávamos mais próximos um do outro. E as pessoas também começavam a perceber isso. Eli não ficava próximos de outras garotas e só em uma terça-feira eu fui entender o motivo.
Eu havia acabado de chegar na igreja, quando flagrei Nívea praticamente em cima do pobre rapaz o forçando a beija-la. Nívea era uma moça muito bonita, alta e magra, com os cabelos escuros e longos, qualquer homem ficaria aos seus pés. Ela não era uma moça atirada, mas sabia escolher bem as suas opções.