22. O rei

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Chame-a Rosa. - pedi ao notar que não a tinha visto o dia inteiro, mas ela não se movia, apenas parecia preocupada - Qual o seu problema? Chame-a!

Claro meu rei... - então ela se virou e eu voltei a atenção nos folhetos encima de minha bancada, assinava quase todos eles, e então ela parou ao pé da porta, e em relutância voltou-se a me olhar, a olhei impaciente - Amélia... Não está aqui... Senhor...

COMO? - a caneta voou bruscamente de minhas mãos quando as bati encima da mesa - COMO ELA NÃO ESTÁ?

Ela fugiu. -

ELA FUGIU? É ISSO QUE TEM A ME DIZER? ELA FUGIU? - eu estava fervendo de raiva e ódio, aquela garota era uma desgraça! Ela era tão teimosa e inconveniente quanto Isadora! Maldita seja!

Ela não está no quarto, nem em nenhum lugar do castelo! Ela não aparece dês de de manhã. -

E VOCÊ SÓ ME AVISA AGORA? - gritei me levantando e andando até ela - IMCOMPETENTE!  - a empurrei bruscamente e saí de minha sala, percorri o castelo inteiro gritando seu nome - AMÉLIA! AMÉLIA! - em cada cômodo que conhecia, e eu sabia de todos eles, invadi os quartos dos meninos do exército, cada um deles - AMÉLIA! APAREÇA! - minha raiva virou desespero, onde ela estava? Onde ela estava? Onde estava Isadora? ONDE ESTAVA AMÉLIA?

Notei a porta de um guarda-roupa aberta e vi um fio de seus cabelos pretos, perto dele, saí daquele quarto e fui até Rosa, ela me daria satisfações.

ROSA! - gritei a sua procura, ela apareceu encolhida. Maldita velha! - de quem é o quinto quarto a esquerda?

Eu não sei senhor. -

RESPONDA MULHER! -

EU NÃO SEI! - ela gritou

COMO OUSA GRITAR COM SEU REI? QUER PERDER SUA LÍNGUA? -

Não. Me desculpe... Mas eu já disse senhor, eu não sei. -

SAÍA DA FRENTE! - subi as escadas me pondo no ponto mais alto possível - TODOS OS EMPREGADOS APAREÇAM! - gritei, eles foram se tumutoando lá embaixo, aparecendo de todos os lados, descendo as escadas para ficarem em seus devidos lugares, bem abaixo de mim. - Amélia fugiu. - eles se entreolharam - Ela fugiu ontem a noite, durante a ida do exército para Gardênia. Eu poderia mandar vocês para lá, para que morressem no lugar dela e a trouxessem para mim, mas seria inútil! Não dá para alcançá-los. - suspirei - Quem a viu ontem? - um silêncio se formou - DE QUEM É O QUINTO QUARTO A ESQUERDA?

De Charles! - Júlio se pronunciou, então havia sido Charles

Maldito! - minhas mãos estavam fechadas em punhos, faltavam duas horas para o casamento, tudo já estava planejado, os empregados estavam com arranjos nas mãos, estavam com a decoração nas mãos! TODOS ESPERAVAM ESSE ACONTECIMENTO! E o que eu falaria? Que ela fugiu? Não! EU NÃO PODIA FALAR ISSO! Agora eu já não queria casar com ela, eu a odiava, eu odiava aquela cretina, eu a queria morta! Eu a queria fazer sofrer! Queria vê-la se despedaçar pedacinho por pedacinho.

Amélia era a coisa mais linda e trágica que me aconteceu! Amélia era minha maldita esposa! Amélia era Isadora! Era tão maldita quanto! Tão cretina quanto! Tão egoísta e injusta quanto! Ela era o próprio terror. Amélia era a desgraça em um rostinho bonito.

Respirei fundo, estava completamente irado e atordoado, minha cabeça girava e girava, meu corpo estava quente.

Júlio. - o chamei - quando voltarem, quero o Charles morto.

Não! - uma voz familiar de mulher me chamou atenção, olhei ao redor procurando ela - Charles não fez nada, você não vai matá-lo. - era aquela cozinheira intrometida

Então quem fez? -

Eu! - e todos pareciam chocados, aquela mulher magra, alta e fraca, no meio da multidão, havia acabado de se entregar.

Você? Por que fez isso?! -

PORQUÊ VOCÊ É UM MONSTRO REI SIDNEY! AMÉLIA LHE ODIAVA! ELA LHE ODEIA! - aquela mulher levantava a voz para mim - EU QUE A AJUDEI A FUGIR DESSE INFERNO! EU QUE A DISSE ONDE FICAVA OS QUARTOS DOS HOMENS DO EXÉRCITO! CHARLES NÃO TEM NADA HAVER COM ISSO! FOI TUDO EU! - ela mantinha uma postura firme, uma coragem encantadora

Então você se entrega? -

Sim. -

TRAGAM-NA AQUI! - meus dois guardas de confiança a seguraram, cada um por um braço, enquanto ela vinha calmante, como se soubesse o que iria acontecer e não tivesse medo. Tola. Segurei seu rosto com minha mão esquerda - você é uma miserável.

Você que é! - e ela cuspiu em meu rosto

Você merece misericórdia pela sua coragem. - seu semblante parecia confuso - E por isso eu vou lhe dar um presente. Não aprisionarei você hoje, não farei isso. Por outro lado... Também não a matarei amanhã, pra quê esperar você se arrepender do que fez? - a joguei da escada, vi aquele corpo caindo enquanto todos gritavam, e ouvi o estalo de seu pescoço quebrando antes de chegar ao chão, notei pessoas correndo até ela, todos estavam completamente desesperados, assustados. Desci os degraus e cheguei ao chão, parei perto do corpo - tirem todos daqui e joguem ela no rio. - chutei seu braço estendido, que atrapalhava minha passagem - O casamento está acabado, avisem a todos. Inventem qualquer coisa. Já não me importo com o que vocês pensam de mim.

PrometidaOnde histórias criam vida. Descubra agora