25. DIA CINCO

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Tínhamos finalmente chegado ao rio plutão, ele estava logo ali, com suas águas fundas e misteriosas, e eu não conseguia pensar em nada.
Estava só, queria compania, queria atenção.

Os homens saiam de seus cavalos e os puxavam pelas arreias, a água batia mais ou menos acima do peito, eu estava no penúltimo pelotão, mas dava para ver, mesmo que de longe, a altura da água e o esforço para passar.

Diego... Hm... O que realmente jogam nesse rio? -

As vezes corpos... O rei ainda gosta de utilizar atos pré-históricos - e era essa a resposta que eu temia, eu ia passar por uma água suja de corpos de pessoas que eu nem conhecia, aquela água tinha mais dor do quê talvez todo aquele castelo.

O tempo ia passando, e parecia mais demorado que nunca.

Diego. Vem aqui! - eu já havia escutado aquela voz, era Charles! Virei-me rapidamente e ele me olhou e ergueu os olhos, droga!

Fingi que nada havia acontecido e Diego se dirigiu a ele. Pouco tempo depois, retornou.

O que ele queria? -

Ele só achou você estranha... Sua máscara pode está caindo Amélia, cuidado. - ele desviou o olhar - você confia nele?

Sim. Ele é uma ótima pessoa... Por quê? -

Nada, eu só acho ele um pouco estranho. Não gosto dele. - não entendia como isso era possível, mas também não busquei entender

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E finalmente chegou a minha hora de descer do cavalo, peguei a arreia e o puxei pela água, era gelada, gelada demais, o que era incrível já que naquela semana tinham feito muito calor, parecia que o sol estava com raiva de todos nós.

Foi mais ou menos trinta passos, difíceis, para chegar ao outro lado, e quando cheguei pude finalmente notar que a alguns metros dali todos tinham parado para acampar.

O que é isso? Pensei que seguiriamos em frente. -

Precisamos de banho, vamos parar aqui. - alguém me respondeu, mas não pude distinguir quem foi

E eu via o pessoal indo em direção ao rio se banhar. Só estava esperando a hora certa para ir, não queria que me descobrissem tão cedo. Ou melhor, tão tarde.

Algum tempo depois fui forçada a me dirigir ao rio, andei e andei procurando o local mais afastado possível. De lá não dava para ver o acampamento, era um lugar escuro e cheio de árvores ao redor, parecia solitário.

Tirei a armadura o mais rápido que pude, foi tão bom sentir o vento batendo em meu corpo! Já nua, entrei na água, estava com saudade daquilo, meu corpo precisava daquilo, e eu posso afirmar que nunca gostei tanto de tomar banho como hoje. Fui para mais fundo, a água agora batia em meu pescoço, estava alí a mais de dez minutos, bem, era o que achava, mergulhei uma vez, e mergulhei de novo, levantei e passei a mão em meus cabelos, que incrível a sensação, aquilo tudo era incrível, eu poderia ficar ali pra sempre.

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Quando finalmente fui para a borda senti um leve arrepio em meu corpo, olhei para trás e dei um grito. Eu via um corpo passando por mim, bem perto, subi correndo e me controlei para não gritar mais, minha adrenalina naquele momento havia aumentado em mil por cento!

O corpo bateu numa pedra e parou ali, não conseguindo sair, cheguei mais perto para ver quem era, e eu dei outro grito! Era Celma! Provavelmente jogada numa das extremidades mais próximas ao castelo! Como isso tinha ocorrido? Como?!

O corpo estava inchado e roxo, sua boca estava entreaberta, derrepente eu não acreditava mais no que via, era a minha amiga alí! Minha amiga! Eu não conseguia chorar, as lágrimas não saiam, apenas sentia uma dor imensa e uma agonia horrorizante. Eu não tinha medo dela, eu não tinha medo daquele corpo, apenas estava horrorizada com a situação. Voltei ao rio e cheguei perto do corpo, o empurrei para fora da pedra e ele se foi levado pelas ondas.

Me virei e me deparei com Gustavo, bem a minha frente.

Amélia! - arregalei meus olhos e saí da água rapidamente - o que você faz aqui Amélia?! O que faz aqui?!

O corpo de Celma! Eles a mataram Gustavo! A mataram! - e foi aí que percebi que a minha voz estava desesperada, e já meu corpo parecia calmo e tranquilo. Como era possível?

O quê?! - ele praticamente gritou aquilo, saí de perto dele e senti minhas pernas bambas, peguei a armadura no chão e comecei a me vestir

Ele a matou! O corpo dela estava ali! - apontei pro rio enquanto vestia a calça, Gustavo se aproximou de mim bruscamente, cheguei perto dele e gritei - CELMA ESTÁ MORTA! ELA ESTAVA NO RIO! ELA ESTAVA LÁ! EU A VI GUSTAVO! EU A VI! - e sem perceber eu batia em seu peito com as mãos enquanto falava aquilo

PARA COM ISSO! - ele segurou meus braços e os soltou bruscamente virou para trás e eu não entendia o que estava acontecendo

Gust -

O QUE VOCÊ FAZ AQUI?! ERA PRA VOCÊ ESTÁ NO CASTELO! NO CASTELO! - eu toquei sua costa, mas ele apenas me mandou afastar

O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO?! - gritei - NÃO VÊ QUE ESTOU AQUI POR VOCÊ!

POR MIM? - ele riu - VOCÊ SÓ ESTÁ AQUI POR VOCÊ! SÓ PENSOU EM VOCÊ!

Como pode dizer isso?! - agora eu estava o empurrando enquanto falava - como tem coragem de me falar isso?!

Você deveria ter ficado lá! Se pensasse em mim ficaria lá! -

QUERIA QUE EU ME CASASSE COM SEU PAI? É ISSO? -

SIM! SE ISSO A IMPEDISSE DE VIR AQUI, SIM! -

EU NÃO ENTENDO GUSTAVO! POR QUE? POR QUE? - ele segurou minhas mãos, e me fez olhar em seus olhos, e eu pude perceber que agora estava chorando - VOCÊ É EGOÍSTA! UM EGOÍSTA!

VOCÊ É EGOÍSTA! AMÉLIA! - ele começou a derramar lágrimas, e desviava o olhar de meus olhos, ele não queria nem olhar na minha cara, eu já não conhecia o príncipe - Amélia! Amélia... Se você realmente pensasse em mim teria ficado no castelo, lá você estaria protegida...

EU ESTARIA PROTEGIDA? DE QUEM? SERIA MIL VEZES PIOR! - puxei meus braços me soltando dele e indo pegar a parte de cima da armadura, a segurei em minhas mãos, incrédula, eu não podia acreditar naquilo, ele estava louco!

E VOCÊ ACHA QUE CORRE MENOS PERIGO AQUI? AMÉLIA! POR FAVOR! - ele levou as mãos aos olhos - se você morrer aqui, eu nunca vou me perdoar! Você não pensou que se eu te ver morrer, isso acabaria comigo? EU NUNCA ME PERDOARIA! NUNCA!

E seria melhor eu ser sua madrasta Gustavo? É isso? -

NÃO HÁ SOLUÇÃO PARA A MORTE! - ele gritou e então olhou para o lado e saiu grosseiramente

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAA! - dei um grito tão alto que minha voz falhou, apertei a armadura contra mim e por fim notei que estava pelada da cintura pra cima, mas eu não ligava, aliás, era o príncipe... - PRÍNCIPE IDIOTA! - vesti a parte de cima

Amélia? - me virei, era Charles

O que é? Vai me julgar também? Vai gritar comigo? -

Não! - e ele correu até mim e me abraçou, aquilo me surpreendeu por completo, era essa a reação que esperava do príncipe - que bom que está aqui! Não queria que se casasse com rei! Obrigada por vir Amélia!

Ah Charles... - e eu o abracei fortemente - você é... incrível...

Tudo o que eu mais quero é te ver feliz. - ele falou em meu ouvido - você teve muita coragem... - e ele suspirou, por que o príncipe não poderia reagir assim? Por que tinha que ser tão estúpido?! - Eu... Eu... Eu te amo... Amélia... - e meus olhos se arregalaram. Era Charles, meu melhor amigo, ele era encantador, era o sonho de qualquer menina, ele poderia ser bem melhor que o príncipe, o que eu tinha a perder? Pelo menos ele me queria aqui, ele me apoiou e não gritou comigo, ele era... diferente...

Me afastei devagar e o olhei nos olhos, me aproximei de seu rosto e o beijei. Ele se surpreendeu no começo, mas logo deixou fluir.

Por que me beijou? - ele perguntou ao terminar

Porquê... Você é incrível. - e então o abracei novamente, fiquei alí por um bom tempo, pensando que talvez, ele valha mais apenas.

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