24. DIA QUATRO

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*Gustavo*

Estava alí a quatro dias, tentava manter a postura de príncipe e líder de um exército, mas minha mente só pensava em Amélia, nos primeiros dois dias eu pensava nela em cada momento, agora estou me acostumando com sua ausência e com o fato dela agora ser literalmente minha madrasta, e aquilo acabava comigo.
Chorei duas das noites seguidas... Normalmente não é isso que esperam de um príncipe.

Um príncipe deve ser forte, corajoso, independente e deve saber guardar seus sentimentos, mas eu não era assim, eu era fraco, covarde e chorava por quase tudo, não é isso que se espera de um príncipe, como eu iria subir ao trono dessa forma?
O povo quer se sentir seguro, e eu não sou nem de perto um homem seguro.

Tive várias oportunidades de falar, de negar e protegê-la, mas não fiz nenhuma. Sinceramente, não sabia o que Amélia via em mim, havia tantos homens mais atraentes e interessantes que eu, tantos outros homens...

Me pergunto todos os dias sobre por quê eu a amo. Sempre sei a resposta. Amélia é inteligente, engraçada, misteriosa, corajosa, educada, determinada, e ela faria de tudo pra conseguir o que quer. Ela é tão o meu oposto, e eu só queria ser um pouco dela.

Na verdade não sabia que gostaria dela, quando meu pai chegou com a notícia de que ganharia uma madrasta pensei numa mulher velha, da idade dele, nunca imaginei que seria jovem, nunca imaginei que seria ela. Eu me preparava para receber uma mulher de quarenta e poucos anos, mas quando ela apareceu, fiquei atordoado, não sabia o que fazer, era diferente do que imaginava, ela era diferente e de alguma forma eu ficava nervoso só de pensar nisso.
A tratava mal porquê eu não queria aceitar aquilo. Amélia tinha a minha idade, e eu sentia algo por ela, e isso me encomodava pois era impossível de acontecer, não podia trair meu pai, mas as coisas não foram como planejado, infelizmente ou felizmente, eu não manti minha promessa.

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Havia um homem aqui, que me lembrava ela de alguma forma, e aquilo era pertubador, é claro que ela não poderia estar aqui, não queria que ela estivesse e nem pensaria nisso. Não sei como agiria se a encontrasse no meio do batalhão, seria um pesadelo, de uma forma egoísta eu a queria mais no castelo do quê aqui perto de mim.

*Amélia*

Eu via Charles, ele ficava logo a minha frente, eu o observava encima do cavalo, naquela armadura e pensava o quão corajoso ele era, e pensava que tudo seria diferente se eu estivesse apaixonada por ele, não por Gustavo. Eu tinha saudades dele, queria poder o abraçar e falar "oi Charles, sou eu", mas se fizesse isso ele ficaria incrédulo e não entenderia, e aliás, eu não podia dizer a ele que só estava aqui por causa do príncipe. Charles gostava de mim, ele tinha deixado isso bem explícito a quatro dias atrás.

Eu pouco via Gustavo, notava que as vezes quando o via ele estava olhando para mim, talvez tentando saber quem eu era ou percebendo que não era pra eu estar aqui. Ele poderia estar desconfiando que, afinal, Roberto era Amélia e Amélia era Roberto. Gustavo quase sempre arrudeava o esquadrão inteiro com o exército, se certificando que estava tudo bem, ele avisava que estávamos chegando e quando parar. Meu coração palpitava no peito quando ouvia sua voz ou o via passar, eu sabia que não podia ir até ele, e nem pensaria nisso, ir até Gustavo não estava nos meus planos.

Max parecia cada vez mais cansado e faminto, eu dava carinho e comida a ele, o deixava descansar a noite toda e o vigiava, já que já não conseguia dormir direito. O esquadrão inteiro fedia, e cheiro de homens suados e de cavalos sujos não era lá dos muitos bons. Fazia quatro dias que eu não tomava banho, fazia quatro dias que Max não se banhava, fazia quatro dias que ninguém alí via a água caindo sobre eles.

Uma agustia batia em meu peito de vez em quando, mas eu ignorava, não podia me dar o luxo de desistir, sabia que agora só faltavam três dias e que não tinha mais como voltar atrás, eu tinha feito minha escolha sem pensar nas consequências, eu agi pela emoção mais uma vez. Por um lado, eu agradecia por estar ali, longe daquele lugar e daquele rei, por outro eu só queria estar em casa, segura, sem sentir medo de morrer ou ver alguém morrendo. Eu já tinha encarado a morte tantas vezes naqueles meses, minha mãe, o trabalhador durante o ataque ao castelo, Freya...
O que estava por vir? Gustavo? Charles? Diego? Não. Diego não, ele tinha uma família, não podia morrer aqui.

Eu sentia calor debaixo daquela armadura, mas não podia tirar, sentia fome, mas não podia comer mais que duas coisas ou ficaria sem nada. Estava mais magra, disso eu sabia, até Diego havia notado "Roberto, você emagreceu mais esses dias". Mas eu estava bem, um pouco magra, mas bem. Ainda conseguia empunhar uma espada, ainda conseguia atirar arco e flecha, e ainda sabia andar a cavalo. Charles me ensinou tudo direitinho, foi uma das melhores pessoas que já entraram na minha vida, ele era doce, era gentil, era engraçado e bonito, Charles era um encanto, qualquer um se apaixonaria por ele.

Parada para descanso! - Gustavo vinha gritando, o olhei e tirei o olhar rapidamente, eu fazia muito isso.

Desci do cavalo, minhas pernas estavam bambas e provavelmente assadas, andei devagar até uma árvore perto e sentei, estirei o pé e senti um enorme alívio.

Como conseguem ficar tanto tempo em um cavalo? - perguntei a Diego que se sentava perto de mim - é impossível! Minha perna dói e arde! Meus braços doem!

Não é impossível, você só não foi treinada pra isso Amélia. - o olhei assustada e desesperada

Como? - como ele sabia? - como você sabe?

Eu não esqueceria o rosto da menina que disse não ao rei. E, Amélia, eu passei quatro dias com você, impossível não notar a semelhança. - eu estava completamente boquiaberta

Por favor, não fale a ninguém. -

Claro que não. Mas isso só comprova o que eu disse a você a quatro dias atrás. Você é maluca! - ele sorriu para mim - Tente exercitar as pernas, talvez melhore. Quanto aos braços, exercite-os também, vai precisar para empunhar a espada - ele se levantou e saiu com seus cabelos castanhos aloreados.

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