20. DIA UM

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Hoje era realmente o primeiro dia longe do castelo, estava feliz e pouco cansada, sentia como se pudesse mover o mundo, como se pudesse fazer tudo que quisesse e muito mais, estava me sentindo invencível.

Exército! Iremos parar para descansar, comer, e beber água. - um amigo do príncipe vinha gritando isso desde o começo até o final do esquadrão, quando ele estava perto de mim, virei o rosto, não podia me dar o luxo dele descobrir o que estava acontecendo, que havia fugido, mesmo que não tenha sido só por mim, mas por ele também.

Ei, você. - me chamaram, olhei para trás e mantive a postura. - qual o seu nome?

Roberto. - falei engrossando a voz, ele deu meia volta e saiu. Suspirei aliviada. Agora eu era Roberto.

Paramos e descansamos, alimentei meu cavalo com maçãs e água e depois me alimentei, fui passear um pouco, fazer uma revista do local, só havia mato e mato.

Roberto não é? - a voz de hoje mais cedo havia falado comigo novamente.

Sim. E você? -

Diego. - ele disse, tentei não encará-lo, se fizesse isso provavelmente descobririam que eu era a Amélia. - você me lembra alguém...

Eu sou um guarda, faço parte do exército do rei, deve ter me visto no castelo. - o expliquei.

Deve ter sido. - eu o olhei rapidamente, tentei não sorrir.

É novato? Todo ano chega pessoas novas naquele lugar. -

Sim. - eu realmente era uma novata. - e você?

Não, entrei faz uns dois anos. -

Família? - ele perguntou

Não tenho família. - ele ficou em silêncio por um tempo.

Namorada? -

Sim. Estou aqui por causa dela. - o olhei novamente, mas desviei o olhar rapidamente. - e você?

Tenho uma família. Sou casado, tenho uma esposa e dois filhos de cinco anos. -

Desculpe intrometer, mas quantos anos você tem? -

27. - realmente, Diego não parecia ter mais que isso.

Você tem medo de morrer? De nunca poder voltar pra sua mulher e para seus filhos? - dessa vez o encarei.

Tenho, tenho muito medo. Eu tenho a eles, eu tenho para quem voltar, e me culparia e não me perdoaria se realmente morresse em batalha. - ele suspirou - Não posso. Entende? - assenti - se eu pudesse desistir de ter vindo eu desistiria, não poderia nunca ter posto tudo a perder por uma guerra... Mas e você, Roberto... Você tem medo de morrer?

Na verdade, não. Mas tenho alguém que não me perdoaria se isso acontecesse, e diferente de você, Diego, eu estou aqui por livre e espontânea vontade. -

Você é maluco - ele riu - como pode deixar exatamente tudo para trás? - e ele saiu me deixando sozinha com meus pensamentos.

Eu não tinha nada para deixar para trás, não tinha família, amigos, tudo o que eu realmente queria estava a minha frente, guiando esses homens para uma possível morte.

Bem, pelo menos era isso que pensava, mas depois de um tempo percebi uma coisa, eu tinha Rosa, tinha Celma, minhas duas amigas, elas me perdoariam se eu morresse? Eu me perdoaria? Por outro lado... A minha frente estava Charles, meu amigo, e Gustavo, meu príncipe.

E agora eu sentia medo de morrer, não queria deixá-los para trás, talvez fosse como Diego havia dito, eu era um maluco. Roberto e Amélia, vocês são malucos.

Voltamos a cavalgar, duas horas encima de um cavalo, até que anunciaram o primeiro rio a nossa frente.

Fizemos uma fila para poder atravessar pelo rio com os cavalos, o tráfego era devagar e lento, eu ainda esperava minha vez chegar.

Olhei em volta, vendo a paisagem, de qualquer forma, eu estava feliz, estava longe do castelo.

Era difícil arrastar um cavalo pela água, ela batia em minha cintura, meus passos ficavam pesados por causa da armadura que usava, a água do rio não era mais tão albina assim, eu via muitas algas, lodo nas bordas, e poucos peixes passavam por lá, quando finalmente consegui atravessar eu estava exausta pelo esforço, acalmei meu cavalo e sentei perto de uma árvore enquanto ele ficava descansando ao meu lado.

Ei! Todos montem novamente em seus cavalos! Iremos prosseguir! - Gustavo havia acabado de anunciar isso enquanto cavalgava até o final do esquadrão - ei, você... Eu te conheço? - ele olhou para mim

Não. - engrossei a voz

Tem certeza? - ele perguntou enquanto eu me levantava da árvore e esperava o cavalo levantar também

Sim, senhor. Sou novato, cheguei faz poucos meses. - fiz a reverência

Não precisa de reverência, aqui somos todos iguais, irmãos. - e eu tinha ainda mais orgulho do meu príncipe - como é seu nome? - de alguma forma, Gustavo parecia interessado em mim.

Roberto. - falei, o cavalo finalmente havia levantado. Montei nele.

Boa sorte. - ele falou e saiu, acho que nunca quis tanto que Gustavo saísse da minha frente antes.

Estávamos cavalgando a seis horas, eu conversava com Diego para me distrair. Acredite, andar de cavalo pode ser bom, mas passar seis horas montada nele, é horrível.

PARADA PARA DESCANSO E JANTA! - a voz do general podia ser ouvida de longe

Desci do cavalo, remexi minha mochila e peguei duas maçãs, uma para mim e uma para ele.

Se continuar assim vai morrer de fome antes que cheguemos a Gardênia! - um homem falou para um outro, enquanto riam, a conversa parecia interessante

Entreguei uma maçã a ele enquanto eu comia a outra, o acariciei e fiquei falando com ele.

MUDANÇA DE PLANOS! ACAMPAREMOS AQUI HOJE! - nunca agradeci tanto por aquilo, peguei meu saco de dormir e estendi no chão, perto de uma árvore grande, o cavalo deitou-se ao meu lado, nos proibiram de fazer algum tipo de fogueira, pois estávamos perto, e ia chamar atenção, coloquei o arco e flecha e a espada ao chão, do meu lado esquerdo, enquanto ele se aprontava para dormir ao meu lado direito. As vozes em minha cabeça diziam que eu tinha que voltar, que eu era uma louca por estar fazendo isso, era maluquice, muita maluquice, eu não tinha nenhuma dignidade. Era um briga interna contra o certo e o errado, e eu não sabia se o que estava fazendo era um dos dois, ou estava no meio deles. Olhei para o belo animal ao meu lado e notei uma espécie de pingente que ele usava em seu pescoço, tinha um nome escrito. Max II. Max segundo... Engraçado. Dormi pouco tempo depois.

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