19. Bordando a liberdade

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Agora minha querida, você será minha esposa, e nada nem ninguém mudará isso. - ele falou em meus ouvidos. Eu estava entrando no salão, todos olhavam para mim. Estava com um nó na garganta, estava com medo, muito medo, procurava Gustavo por todos os lugares, mas ele não estava lá.

Quando cheguei ao altar Sidney me olhava com um olhar vitorioso, como se eu fosse um prêmio a ser disputado.

O padre anunciou o casamento, eu estava tão nervosa e assustada que não prestei atenção em nada do que ele falou, até chegar a pior parte.

Rei Sidney Cutberth, você aceita Amélia Albuquerque como sua legítima esposa? Na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, até que a morte os separe? -

Sim. -

Futura Rainha Amélia Albuquerque, você aceita o Rei Sidney Cutberth como seu legítimo esposo? Na saúde - eu estava ficando tonta - e na doença, na riqueza e na pobreza - a respiração estava falhando, e não me lembrava de um dia ter tido asma - até que a morte os separe? - não respondi, demorei uns cinco minutos até a resposta sair de minha boca.

Lembrei-me de sua ameaça a um dia atrás, me falando que se Gustavo não morrer em batalha ele o mataria caso eu não aceitasse casar com ele. Eu nunca me vi tão dividida, tão egoísta, era minha vida ou a de Gustavo, como eu poderia escolher assim? De um dia para o outro?! EU QUERO MUITO ESTAR VIVA! Mas também não o quero morto.

Sim. - eu escolhi casar com Sidney, para que nós dois ficassemos vivos.

Eu vos declaro marido e mulher. - o padre anunciou - pode beijar a noiva!

As pessoas aplaudiam, eu via Sidney chegando cada vez mais perto de minha boca, e quando nossos lábios se encostaram eu quis chorar, quis gritar, estava agoniada, como eu pude casar com o homem que me torturou? Como?!

Acordei num grito, estava suando frio e não conseguia respirar direito, fui até o banheiro, lavei o rosto, esse fora meu segundo sonho com ele, me olhei no espelho, eu tinha de fazer algo, não iria me casar com aquele velho. Não iria!

Me deitei novamente, vi pela janela a noite, estava tudo tão bonito, tirando a parte de quê ele havera se despedido de mim mais cedo, nunca me senti tão destruída e sozinha.

Olhei o relógio, marcava as uma da manhã, o exército real sairia as três ou duas, agora estariam celando os cavalos e vestindo suas roupas de guerra, suas armaduras.

Saí de meu quarto e fui até o de Celma, ela sabia onde ficava qualquer coisa do castelo, bati na porta de seu quarto e depois de um tempo ela abriu, me olhou e se assustou.

O que faz aqui? - perguntou rouca com a voz de sono.

Eu preciso saber onde fica o local que guardam as armaduras. -

Pra quê? -

É complicado... - ela me examinou e depois sorriu.

Os guardas guardam as armaduras em seus quartos. Eles tem pelo menos duas delas. - disse por fim.

E onde eles dormem? -

A maioria dorme em sua própria casa. - afirmou ela - Mas há alguns que tem quartos pelo castelo. Desça as escadas no terceiro corredor a esquerda, vai achar alguns quartos. - e então virei de costas - criança. - a olhei - o que quer que vier a fazer... por favor... pense bem.

Certo. - e então desci as escadas devagar para não fazer nenhum barulho, procurei o tal corredor, me surpreendera nunca tê-lo visto.

Havia pelo menos cinco cabines em cada lado. Andei pelo mesmo e encontrei um quarto aberto, entrei, acendi a luz e fechei a porta, comecei a caçar uma armadura no guarda roupa pequeno, posto ao lado da cama.

O que está fazendo? - uma voz invadiu aquele local o que me fez arrepiar. Virei-me devagar e vi Charles a minha frente, derrepente tudo ficou menos pesado. - Amélia? O que faz aqui? - perguntou fechando a porta novamente.

Não tive tempo de me despedir de você... Então vim aqui. - falei a ele, por um lado aquilo era verdade, realmente não tive tempo para me despedir de Charles.

E o que estava procurando em meu guarda-roupa? -

Nada. - falei, Charles já havia colocado sua armadura prateada e pesada. Ele estava com sua espada também, um verdade guerreiro. - procurando uma lembrança sua talvez... Para recordar. - acrescentei

Ah sim... - ele disse vindo até mim - Amélia eu... É que... Bem...

Calma, é só falar, não vejo motivo para ficar nervoso - brinquei com ele enquanto ria, ele me olhou sério e respirou fundo - está tudo bem? Você não me parece bem.

É que... Eu tenho algo pra falar. - ele disse - eu irei partir hoje, não sei se irei voltar ou se morrerei por lá. Evitei falar com você, pensei a que dor de te deixar seria menor Amélia, mas não foi.

O que você está falando? -

Eu não vou ser aquele tipo de pessoa que diz "se você não for minha não será de ninguém"... Longe de mim. -

Charles..? - eu estava ficando apreensiva com o que poderia vir depois disso.

Enfim, eu tenho algo a dizer. - e ele derrepente me puxou para um beijo, por incrível que pareça não recuei de imediato, era Charles, meu amigo, ele era doce e gentil, diferente de Sidney que era grosso e bruto, mas de qualquer forma, eu só tinha olhos para Gustavo.

O quê?? - eu não poderia acreditar que isso tinha acontecido.

Eu te amo... - ele disse, pegou algo e saiu dali me deixando sozinha, demorei um tempo para poder me movimentar de novo, eu procurava a armadura em suas coisas, e me sentia culpada por estar fazendo isso.

Não tem nada aqui! - falei em negação e então notei a presença de um criado mudo, abri as gavetas e tcharam! Estava lá! - isso!

Vesti a armadura o mais rápido possível, era muito pesada, pesada demais, mas eu conseguia aguentar. Me olhei no espelho, eu poderia passar despercebida pelos homens, o cabelo curto ajudava a encremetar meu novo eu.

Agora eu era um homem, e iria direto para Gardênia! Eu iria fugir de meu casamento! E agora eu conseguiria!

Corri pelo corredor e pelo castelo até chegar no porão, peguei minha espada e coloquei num espaço que tinha na armadura, peguei meu arco e flecha e o coloquei sob o corpo, por fim, saí do porão.

Ei você! - alguém me chamou.

Eu? - e então percebi que ainda falava como uma mulher - digo... O que quer senhor? - engrossei voz.

Iremos partir em cinco minutos, pegue seu cavalo e venha! -

Certo, senhor! - peguei meu cavalo de lindos pelos negros e montei nele, e depois cavalguei até a saída! Eu havia saído do castelo! Que sensação incrível! Eu estava livre! Livre!

Não iria mais ser a rainha! Seria só a Amélia! E iria lutar! E iria me sentir mais forte do que nunca havera sentido!

Porquê eu sou Amélia Albuquerque.

Quando o sol apareceu e eu percebi que já estava a horas de distância do castelo, estava tão longe que nem podia vê-lo, e que estava cavalgando com uma multidão de homens. Eu percebi que... Seu destino nunca está selado!

E que sensação incrível era aquela, de saber que poderia fazer tudo e muito mais, que tinha a mesma força que todos ali, e que no meio daquele exército, nós éramos um só.

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