Alguma coisa balançou no topo das árvores. Um vento gélido e salgado indicava que eles estavam próximos ao oceano que interligava a parte afastada da floresta até o retorno por trás, em Noham. Louis havia decidido que não simplesmente chegaria. Mesmo que quisesse acreditar em um tratado, ele não poderia, seria muito ingênuo de sua parte. Ele faria tudo as escondidas nem que para isso tivesse que atravessar o mar em discrição, e enfim, buscar Harry sem que ninguém notasse. Ele estremeceu, olhando a sua volta, na úmida floresta. Algumas sombras camufladas, obscuras e fétidas. Então eles surgiram, mesmo que de má vontade. Calum e Ashton carregavam nos ombros, uma espécie de canoa virada, seria o meio de transporte deles. Logo atrás, vinham Michael e Luke, de mãos dadas. A expressão facial dos dois, diferentemente de Calum e Ashton, não eram nada amigáveis. Permaneceram em silêncio, nada precisava ser dito, eles simplesmente acataram. Jogaram o pequeno barco/canoa no mar e seguiram rumo ao sul. Louis sentiu as alfinetadas geladas da água salgada batendo em seu rosto, rompeu o barulho das ondas em um soluço, ele não saberia dizer se seus olhos ardiam pelo sal que se apossava das águas, ou pela dor que se apossava de seu coração. Louis obrigou-se a parar e respirar fundo, ele sabia que em breve teria Harry em seus braços mais uma vez. Observou os rapazes esforçando-se para lutarem contra a força natural das ondas a medida que remavam e remavam. Suas espadas cruzavam as bainhas indicando preparatória para qualquer circunstância, incluindo uma guerra mundial caso fosse preciso. Diferente de outras ocasiões, os cavaleiros que outrora dominavam estradas de terra e eram barulhentos como ienas esfomeadas, eles agora eram dominados pelo mar e permaneciam em silêncio.
A garota sorria para Louis mesmo sabendo que sua expressão não seria correspondida tão cedo.
-Eu sei que muitas coisas são necessárias na vida de um guerrilheiro rebelde. — Michael suspirou, quebrando o silêncio desconfortável. — Mas nenhuma dessas coisas, é a amante lhe acompanhando na viajem pela qual você espera reconquistar o traído.
Louis não sabia bem o motivo de estar levando Eleanor consigo. Ele se preocupou com os olhares julgadores que se derramaram por cima da moça logo após o "incidente", talvez ele quisesse apenas protegê-la, apesar de que mesmo sem querer, sentia repulsa ao se imaginar nos braços dela.
-Eleanor não irá nos atrapalhar, eu garanto. — Louis sorriu forçadamente para Eleanor, que apenas fugiu o olhar e demonstrou desconforto pela primeira vez no dia. — Ela sabe que foi apenas um deslize, que eu sou apaixonado pelo Harry... Agora somos bons amigos.
-Já parou pra pensar na possibilidade do Harry cometer um pequeno deslize com você? — Ashton sugeriu, expondo as covinhas provocativas. — Você o perdoaria?
-Claro... — Louis respondeu de imediato, balançando-se no ritmo do pequeno barco. Ele ficava enjoado ao imaginar Harry nos braços de outro homem ou... Outra mulher. Ele não perdoaria jamais, ele sabia disso. Mas Harry era diferente, então não custava mentir para si mesmo.
As ondas voltaram violentas, como que em forma de castigo para Louis. Elas ficaram barulhentas, impedindo conversas, impedindo mentiras. Eles então ficaram em silêncio apreciando o momento único na vida dos rebeldes: o líder rebelde apaixonado pelo filho de seu arque-inimigo político. Um resgate. Uma fuga. Uma paixão tão grande quanto aquele mar em que flutuavam como pequenas formiguinhas em uma grande poça d'água após um dia chuvoso.
***
Já era noite, a lua estava oblonga e baixa no céu. As corujas dormiam nos bosques vizinhos. Dali de cima, da janela de seu quarto, Harry podia ver as ondas quebrando suavemente na costa; no outro lado do vilarejo, havia uma única luz acesa no alto de um poste, próximo a praça que a dias atrás era palco de sua mais desastrosa peça teatral. Suas mãos estavam trêmulas e ele não sabia o que escrever em seu diário. Queria ver a irmã e a mãe mas não foi autorizado pela governanta. Assim que chegou ao vilarejo, deu de cara com cartazes influenciando a história de um casal rebelde, suspirou com a coincidência, até notar que os cartazes motivacionais se referiam a ele e a Louis. O vilarejo os apoiava, não apenas Gemma mas o vilarejo inteiro depositou suas esperanças no jovem casal apaixonado. Era muito doloroso para Harry não ter palavras para explicar o fim repentino de sua paixão por Louis, agora tudo o que ele conseguia sentir, era nojo. Sabia que todo aquele sentimentalismo por ele, não passava de mera ilusão. A governanta havia lhe avisado que Des estava providenciando novos guardas para que pudessem vigiá-lo, como se Harry não tivesse mesmo vindo por vontade própria!
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guerrilla; l.s
RomanceAlgo havia mudado em seu rosto e, sob a luz fraca da lamparina, Louis não conseguia decifrar o que significava. Era quase como se ele já soubesse suas razões mas quisesse ouvir da boca de Harry, que sim, ele era o motivo de sua chateação.