19

1.9K 234 243
                                    

   Uma lágrima morna rolou pela bochecha de Harry, caindo no peitoral de Niall. O loiro sussurrou as palavras certas, ouvindo Harry concordar que sim, eles estavam em um lugar melhor. Os dois amigos haviam retornado do funeral e aquele havia sido o evento mais melancólico do século. Principalmente quando o celebrante disse algo relacionado a "pais maravilhosos que deixaram seus filhos órfãos" e Harry começou mais uma de suas crises. Ele não queria deixar que enterrassem seus pais, ele não queria que eles ficassem presos dentro de uma caixa de madeira. O lugar de seu pai era escrevendo discursos e finanças da família e o de sua mãe, era fingindo que sabia fazer roupas de lã e roubando os direitos autorais das sobremesas de Aurora. Eles nunca foram pais perfeitos mas eram os pais de Harry e Gemma, ninguém possuía o direito de arrancar eles assim de seus filhos. 

   Gemma ficou no controle da situação, como sempre tão autoritária e forte, Harry realmente a invejava. Enquanto ele se contorcia dentro do próprio corpo, afundando na própria dor e se consolava nos braços de um estranho que considerava seu amigo por tê-lo visto duas ou três vezes e ganhado bebidas dele. Niall surpreendeu-se pela forma que tudo aconteceu e Harry lhe contou cada mero detalhe. Contou que Gemma ouviu os ruídos de Anne se contorcendo e agonizando em cima da cama com sangue jorrando do lado esquerdo de seu peito e afundada na poça do sangue de seu próprio marido que a essa altura já estava morto. Gritou desesperada e Anne tentava lhe dizer algo mas tudo não passava de palavras inteligíveis e sem nexo algum. Harry destrancou a porta do banheiro e correu em direção aos choros desesperados e naquele momento foi como se tivesse morrido junto com seus pais. Harry estava totalmente morto, sem alma, sem amor a vida ou as pessoas, tudo acabou em questão de segundos, quando notou que nem mesmo a mais forte paixão seria capaz de segurar alguém tão desumano quanto Louis Tomlinson.  

    Niall pegou a mão de Harry, que estava tão fria que o assustou. Estudou o cacheado, que parecia mais pálido, mais frágil e mais velho do que na viagem de semanas atrás quando o mensageiro o guiava de volta ao vilarejo. Mas, de alguma forma, por baixo da pele fina e do olhar proeminente, algo ainda brilhava de forma efervescente, vindo de seu interior. 

-Harry? — O loiro sussurrou, acariciando os cachos do menino, que sentava no sofá e encostava a cabeça em seu peitoral.

-Hum...

-Quer subir? Você precisa de um bom banho, descansar e colocar a cabeça no lugar, pensar no que será daqui para frente. 

-E-Eles mal esperaram meu pai morrer para virem como hienas esfomeadas por poder, Niall. — Harry contou como se fosse a resposta para a pergunta do amigo, que permaneceu imóvel sem entender. — Eles querem que eu assuma a posição d-do meu pai, juntamente com Gemma. 

-Você sabe que não precisa disso... — Niall suspirou, preocupado com aquele par de olhos verdes marejados. 

-Eu não preciso de nada. 

-Você e Gemma precisam ser fortes nesse momento, oferecerem apoio entre si. Gemma é a única pessoa que você poderá confiar para sempre e vice-versa. 

-L-Liam não está aqui, hum? — Harry levantou a cabeça para encarar Niall nos olhos, em uma aproximação que seria perigosa demais se fosse entre ele e Louis. — Liam devia estar aqui.

-Talvez ele nem saiba do que aconteceu, não o culpe. 

-Não vou culpar ninguém por algo da resposabilidade de Louis. — Harry escondeu seu rosto na curva do pescoço de Niall e voltou a chorar, nada doía mais que ser traído por Louis de todas as formas possíveis. 

-Vamos... — Niall levantou-se, puxando Harry para seu abraço e o guiando até as escadas, assim como Gemma, Harry precisava de um bom banho, comer, descansar e começar tudo novamente no dia seguinte. 

guerrilla; l.sOnde histórias criam vida. Descubra agora