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   Lentamente, ele retornou ao mundo que havia deixado para trás. Noham e o oceano batendo contra os rochedos. O ar salgado. Tudo era tão familiar, e Harry ainda se encontrava em adaptação ao seu próprio lar mesmo depois de dois anos tendo se passado. 

     Ele plantou os pés no parapeito da janela e se sentou na borda, era sempre bom estar ali. Seu diário antigo nas mãos, lendo memórias de um passado obscuro demais para um garoto de apenas dezesseis anos enfrentar sozinho. Mas ele superou tudo aquilo e agora estava ali, tendo que superar mais uma de suas fases que nunca paravam de chegar. Ele nunca chegava ao fim do jogo, a estabilidade finalmente, era sempre uma fase mais difícil que a outra, mesmo que agora ele fosse um homem forte fisicamente, forte politicamente, ele realmente... Era apenas o mesmo gatinho de tempos atrás por dentro e ainda precisava de cuidados que nunca chegariam. 

     Nem todo o passado de Harry havia se perdido em momentos ruins... Mas para encontrar os momentos bons, ele tinha que fechar os olhos por um instante, sentir a brisa salgada batendo em suas bochechas rosadas e ignorar certas coisas, como por exemplo, o quão falsos eram esses momentos. 

Harry fechou os olhos e foi guiado pela mão de Louis para o desconhecido. A brisa quente batia em seu rosto e era como se ele recebesse um carinho da mãe natureza. Tudo com Louis era tão louco e suave, que ele poderia jurar que o rapaz era um anjo. 

-Pode abrir. 

   Ao abrir os olhos, Harry se deparou com uma plantação de flores amarelas bem cultivadas. Eram tantas flores, que ele poderia se perder entre elas. Onde aquele lugar esteve escondido o tempo todo? Mas não era só isso, além das lindas flores, havia um pano xadrez estendido ao chão, uma cesta de palha sobre ele e tipos diferentes de pães em pratos de porcelana. Tudo estava tão lindo. Harry mal podia acreditar que Louis havia preparado aquilo tudo para eles. 

-L-Louis... Isso é incrível. — Harry gaguejou, girando o corpo para apreciar toda a paisagem romântica. 

-Achei que merecia algo a sua altura. — Louis gargalhou para si mesmo. 

-Do que está rindo? — Harry colocou as mãos na cintura.

-Só estava pensando aqui com meus botões... E se eu fosse fazer algo a sua altura, seria algo bem baixo já que você é a pessoa mais pequena do mundo. — Louis riu revirando os olhos para a própria piada.

-Eu ainda vou crescer! — Bufou Harry, cruzando os braços. — Só tenho dezesseis anos, você terá que subir em tijolinhos se quiser me beijar.

    Harry abriu os olhos de repente e secou as lágrimas fujonas com a manga de seu agasalho. Ele estava tão farto de si mesmo, de ter que lidar com esse tipo de pensamento por mais que quisesse evitá-los. Ele estava cansado de ainda criar expectativas em alguém que talvez nem vivo estivesse mais, em alguém que apesar de ter matado seus pais e ter destruído sua família, deu todas as cores do arco-íris de mão beijada para que ele aprendesse mais sobre seus sentimentos e conhecesse mais do mundo com um sorriso de covinhas estampado no rosto. 

-Acorde, Harry.   — Era Niall quem o chamava, sem ao menos imaginar que ele havia passado mais uma noite em claro. 

-Eu já acordei, vou me vestir. — Informou Harry, descendo da borda da janela e fechando a cortina finalmente. 

-Com licença. — Niall pediu, abrindo a porta do quarto de forma intrometida, como sempre fazia. — Bem, aqui eu estou sua lista de atividades diárias. 

-Fale... — Resmungou Harry, lavando o rosto no banheiro. 

-Vejamos... Oh, agora cedo você terá uma entrevista com um dos primos do Françoá que trabalhará aqui. — Niall sentou-se na cama, folheando a agenda. — Também terá que falar com o Dr. Stone sobre a saúde de Aurora, hoje ela está muito agitada apesar da dor e não quer descansar. 

guerrilla; l.sOnde histórias criam vida. Descubra agora