Capítulo 03

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Não consegui conter a minha surpresa.

E espanto.

Todo aquele medo sumiu de repente e mais questões me vinham à cabeça.

Eu deveria me sentir privilegiado por ele ter virado a cadeira? Provavelmente não. Talvez eu devesse me preocupar. Já que ele meio que me “revelou” uma coisa – no caso, sua própria cara, que ele trabalhou tanto para esconder... É no mínimo esquisito. Logo eu, o seu secretário no qual  despreza diariamente.

Claro que esperava ver algum tipo de verruga, mancha, ou até mesmo ver um cara feio  na minha frente. Mas tudo não passou de uma grande invenção da minha imaginação. Ele era estupidamente bonito. Estupidamente.

Chegava até ser imoral.

-O gato comeu sua língua... – Olhou para o meu currículo, eu, já imaginando que procurava meu nome. – Frank Iero?

-Não. – Disse, ainda olhando para seu rosto. Eu seguia firme. Não me deixaria abater por aquele rosto que poderia muito bem estampar uma capa de revista. E sem contar que o fato de ele ser bonito, não retirava o outro fato de ele ser um desgraçado.

-Você vai viajar comigo. – Disse, juntando as mãos.

-Eu vou o que com você?! – Me alterei. Mas que porra ele queria de mim?!

Ele arqueou as sobrancelhas numa sinal de “abaixe a sua bola aí queridão”.

-Sim. Temos negócios nas Ilhas Carolina. Vamos inaugurar um hotel lá. Um lugar com temática musical, muitos shows e etecetera. Quero que vá comigo, para me ajudar em algumas coisas.

Eu iria negar? Obvio que não. Ele nitidamente (e não sei porque) não me demitiu.  O que tornava a situação muito esquisita.

Teríamos que sair de Oasis, passar pela cidade de Kaya para enfim pegar um barco e ir para aquele lugar.

-Será daqui à um mês. Se organize. Falaremos disso mais tarde. Agora pode sair... – Fez um sinal de desprezo com a mão para que eu saísse. Mas antes que eu abrisse a porta... – Você não deveria ter feito aquilo ontem no estacionamento. Sorte a sua que é um bom funcionário. – Disse, e eu permaneci calado e petrificado. – Pelo menos agora matou sua curiosidade.

Percebendo que ele não iria dizer mais nada, a porta fora destrancada e saí.

❇❇❇

-Você sabe que isso engorda, não é mesmo? Espero que saiba. – Bert diz, colocando a salada em seu prato com se estivesse plantando uma árvore.

Acontece que eu estava puto demais para me importar com as drogas das calorias daquele bife com fritas. Era ridículo, aliás, eu pensar nisso.

-Não é como se eu precisasse emagrecer. E além do mais... – Decidi colocar purê de batata também. – Não me importo com peso.

-Olha só, sabe como mantenho a forma? – Bert me questionou, tirando a atenção das opções do self-service, exibindo seu tronco ao que afastou o seu prato para mostrá-lo.

-Hm? Transando sete dias por semana? – Olhei alguns instantes para ele, que revirou os olhos e tornou a colocar mais salada no prato.

-Claro que não. – Disse como quem queria dizer “claro que sim”.

-Tem uma mesa vazia ali. Vamos, antes que peguem. – Apontei para a outra extremidade do refeitório.

Andamos e ele se explicou:

-Eu como coisas leves e saudáveis para que no fim de semana, se eu quiser ir na praça de alimentação, poder enfiar o pé na jaca.

Pé na jaca. De onde havia surgido esse ditado e quem em sã consciência enfiaria o pé em uma jaca?

In The Meantime || Frerard ||Onde histórias criam vida. Descubra agora