Capítulo 05

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Nota:esse é um dos meus capítulos preferidos




-Vamos no meu carro. – Ele diz assinando o papel que eu acabei de passar para suas mãos. Até a forma que ele assinava, com aquela caneta incrivelmente elegante, era metida. Não “metida” no sentido real da palavra. Mas... Cheio de si. – Não precisa ir por conta própria.

Quis questionar porque não iríamos de avião. Demoraríamos algumas horas de carro até chegar no porto de Kaya. Isso era ridículo para quem tinha dinheiro o suficiente para alugar ou até mesmo comprar um jatinho.

-...Tudo bem... – Falei, recebendo a folha que ele acabara de assinar e lhe dando a outra. Observei a cicatriz em forma de arco na sua mão. Mas me limitaria a falar apenas coisas dentro do contexto do trabalho.

-Quem era a moça no seu carro ontem? – Ele perguntou calmamente. Eu poderia considerar essa pergunta como informal. Então, tecnicamente, ele estaria descumprindo a própria exigência.

-Não era ninguém. – Disse mais rápido do que deveria dizer. Soou nervoso e ele se vangloriava por isso. Deu para ver no sorriso de canto dele, o que tornou ele com um aspecto quase infantil, já que não exibiu os seus dentes. Mas isso não tirava o fato de ele gostar do medo das pessoas de si.

Fingi analisar a papelada dentro da pasta na minha mão. Eram do Rh, o setor do Bert. Ele estava assinando as demissões. Não entendo porque estavam demitindo tanto. Não era como se a Way Holding estivesse numa situação crítica. Aliás, não havia uma “situação ruim” em relação à situação econômica. Ele largou sua caneta e apoiou os pulsos na sua mesa. Mesmo “analisando” os papéis, pude perceber seu olhar sobre mim. Ele espremia os olhos e quem estava sendo analisado, na realidade, não eram os papéis. Era eu.

E parecia que ele ia me matar em questões de segundos.

O Sr. Way queria que eu falasse sobre Jamia? Me abrisse e dissesse o porque de ela estar dentro do meu carro, no estacionamento do meu trabalho?! Pelos céus, nós nem éramos íntimos. Ele fazia questão de mostrar isso, e agora me olhava daquele jeito, como quem estivesse esperando explicações. Eu sequer sabia o primeiro nome dele. Quando fui contratado, o dono da empresa em si não era ele. Era uma tal de Donna Way que eu supus ser ou sua esposa ou sua mãe. Mas quem casaria com aquilo?! Ele era chato; malvado e antiquado. Tratava as pessoas muito mal e continuava me olhando daquele jeito!

-Sempre é alguém. – Disse por fim e depois tornou sua atenção ao seus papéis idiotas.

Ele sempre conseguia me deixar em um mal estar horrendo. Será que com a família dele, ele agia desse jeito? Que horror.

Eu fiquei sem reação. Fiquei com raiva, porque ele falou uma coisa que ia completamente contra o que eu treinava a minha cabeça. “Jamia não é ninguém para mim”. Mas para ele era. E fiquei com mais raiva ainda por ele estar certo. Ela era alguém na minha vida e no momento, alguém muito perigoso.

-Agora, pode ir. Frank Iero. – Falou, naquele desprezo rotineiro que tinha por mim e que era merecidamente recíproco. E claro, sempre enfatizando muito bem o meu nome, como se ele fosse motivo de escárnio ou uma espécie de castigo empregado pela minha mãe para mim.

❇❇❇

Adentrei o local estranhando a calmaria.

Bert pode estar deprimido

Ele geralmente me chamaria para um lugar barulhento, como no mês passado, onde fomos à um bar de motoqueiros. Mas tivemos que sair depois que algumas cadeiras voaram.

Procurei por ele, até que o avistei, sentado em uma mesa, compenetrado na digitação de seu celular. Caminhei até ele, que só percebeu que eu estava ali quando sentei com força na cadeira.

In The Meantime || Frerard ||Onde histórias criam vida. Descubra agora