Capítulo 14

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Três pratos de trigo, para três tigres tristes.

Eu estava pensando sobre essa frase enquanto Bert remexia meu quarto. Eu girava meu celular novo na mão. Na verdade, eu passava o dia todo grudado com ele por motivos de pura loucura, já que eu desenvolvi aquela síndrome da vibração fantasma.

Três pratos de trigo, para três tigres tristes.

Cara, quem daria trigo? Em um prato? Pra tigres?!

- Isso é só um trava língua. – Ele disse, invejando minhas camisas de trabalho. – Uh, quando foi que você comprou isso? Em 1998? – Retirou uma camisa branca com o cabide e exibiu.

- É de trabalho. Tem que parecer sem graça. – Defendi minhas camisas, desanimado. – E aliás, pra mim as coisas têm que fazer sentido. E esse trava língua não tem sentido algum. 

- Ah qual é. Você não tem nada útil pra se vestir? Até meu avô tinha mais estilo que você quando ia trabalhar.

- Hummmmm. – Gemi com desgosto e me joguei com tudo na cama.

O celular começou a tocar. E eu pulei novamente, ficando animado.

Finalmente!”

O número era desconhecido, o que em tese, poderia significar uma coisa:

Gerard Way.

Minha animação repentina chamou atenção de Bert. E claro, como o bom detetive que era, notou na hora que se tratava de alguém importante para mim.

- Alô?

- Sr. Iero? Aqui é da Teleoasis, o senhor tem uma dívida de oitenta e...

Desliguei.

Ótimo. Não era Gerard e sim a moça do pós-pago. Acredito que ela tenha se sentido mal por eu ter desligado na cara dela, mas nada era mais importante e preocupante do que o sumiço do Sr. Way.

- O que está acontecendo, meu anjo celestial? – Bert perguntou, fechando a porta do meu guarda roupa.

- Nada. – Suspirei com frustração. Eu queria muito não transparecer estar um saco plástico com merda dentro, mas é isso aí. Eu me sentia e aparentava ser um saco plástico com merda dentro.

- Esse nada tem nome?

Frank segura essa língua”

- Não acho que eu queira dizer o nome. – Observei ele se sentar ao meu lado, enquanto minhas mãos suavam. E eu me exigia uma resolução para aquela encrenca, já que em hipótese alguma eu poderia citar o sobrenome “Way” na parada. Pois até então, eu falava super mal do Gerard.

- Eu sabia. Só pela sua cara esperando ligação de não sei quem, eu senti o cheiro de pau. – Disse orgulhoso.

- Não diga “pau”. É obsceno. – Falei, mais morto do que vivo.

- Então. O que foi que aconteceu nas Ilhas Carolina? O que tem nesse pau que te fisgou de jeito?

Bem, vamos começar pela grossura...”

Bert ignorou meu pedido. Mas ele estava me fazendo sorrir internamente, isso já era o suficiente para apaziguar o caos dentro de mim. Ele sabia que, por mais maluco e obsceno que ele fosse, estava me fazendo o bem, de certa forma.

- Argh. É um cara da Nova Tunísia. – Menti. – Família mulçumana, sabe? – Menti mais ainda.

Ele ergueu as sobrancelhas e num solavanco ficou de pé.

In The Meantime || Frerard ||Onde histórias criam vida. Descubra agora