Capítulo 10

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Se eu tivesse sentindo minhas pernas, diria à elas apenas algo como "corra". Ou até mesmo "ainda dá tempo de ir ao banheiro".

Ele estava usando um terno azul marinho matador, e sua gravata vermelha parecia me sufocar de um jeito muito prazeroso. Depois de vê-lo tão impecável e galante, acho que seria conveniente me jogar em uma piscina de gelo e vergonha na cara.

Seu terno era tão catastrófico quanto sua beleza; um maremoto estético que me fazia tremular e salivar.

Oras, ponha-se no seu lugar.

Donna Way me deu um choque de realidade. Ela me lembrou de quem eu era. Apenas um secretário, que sem via de dúvidas não deveria nem estar ali.

Mas ele sorriu para mim. Sorriu timidamente. Como se só eu pudesse provocar isso nele. (Já deu pra perceber que eu estou completamente iludido, né? ) E isso era muito ruim. Eu poderia ter comido o pão que o diabo amassou na mão dele, mas a única coisa que eu conseguia pensar naquele momento era de como ele estava incrível e maravilhoso naquele terno.

-Então... – Ele falou, com outra caixa na mão. Dessa vez ela era quadrada. – Acho que você precisa disso. – Me ofereceu a caixa.

Outra porra de caixa. Por que ele estava me dando presentinhos agora? Ótimo. Agora eu estava subindo à outro patamar.

Passei de secretário à Sugar Baby.

-Olhe, Sr. Way... Eu não posso ficar aceitando as coisas assim. Sua mãe odiou o fato de termos ficado no mesmo sobrado, e fazemos parte de um hierarquia. Eu sei o meu lugar... – Falei sincero e desanimado, perdendo todo deslumbre que eu tive anteriormente. – As pessoas vão pensar que... Eu sou ambicioso.

-Se tem uma coisa que você não é, é ambicioso. – Se aproximou e colocou suas mãos junto com a caixa nas minhas. Segurei meio perdido.

Hehe. Os dedos dele estavam gelados.

Eu deveria me sentir bem com isso?

-Eu apenas... – Mexeu a cabeça para o lado, fazendo uma careta como se tivesse acabado de beber algo azedo. Uma mania que só ele tinha. – Achei que você precisava... Fica olhando para o meu pulso...

Minha boca se abriu em um "O" de revolta.

-Não, não estou dizendo que você estava desejando meu relógio. Só achei que você gostou, já que fica encarando meu braço e...

-Não... Não, Sr. Way... – Fechei os olhos, constrangido. - ... Não é por isso que fico olhando... Os seus braços... – Falei abrindo os olhos e desviando o olhar, morrendo de vergonha. E como eu poderia explicar isso para ele? "Oh Sr. Fucking Way, eu tenho fetiche por pulsos, poderia franzi suas camisas de manga mais vezes pra eu gozar?" Claro que não.

-Me desculpe... Eu... – Ele pareceu perceber o que estava fazendo e se afastou.

-Só precisamos ir logo para o salão. – Eu disse, pousando o relógio na mesinha do corredor.

Tínhamos que ir antes de todos os convidados chegarem, para ele não ser visto. Eu parei um pouco para pensar e isso era uma boa jogada de marketing pessoal. As pessoas pareciam se interessar ainda mais pela empresa apenas por saber da excentricidade de seu presidente. Mas como eu estava mais perto, percebia o quanto isso era desesperado e sufocante. Era como se... Ele evitasse algo pior não sendo visto.

De repente fiquei triste por isso.

O Sr. Way entrou para uma das saletas do salão de festas do hotel. Fingi estar desocupado e confortável, como um boi no corredor da morte. Andava para lá e para cá, me sentindo desesperado e nervoso. As pessoas começaram a chegar e eu senti a síncope em forma de gente se aproximar de mim.

In The Meantime || Frerard ||Onde histórias criam vida. Descubra agora