Capítulo 06

331 55 71
                                    

Acordei com um zumbido.

Dei um salto no que achei ser o banco do carro, pois mesmo em meio à confusão mental, eu soube distinguir perfeitamente de onde ele vinha e o que ele significava.

Abelha.

Como em toda fobia, a única coisa no qual você consegue pensar quando está diante de seu medo é que ele vai fazer algum tipo de mal e seu corpo reage das mais diversas maneiras.

E foi exatamente o que aconteceu.

Meu coração bateu acelerado, me dando algumas pontadas no peito. Meus sentidos se recuperavam, mas minha cabeça ainda estava toda atrapalhada. As coisas não estavam em ordem. Lembro de um vaca mastigando feno e nos olhando tranquilamente antes do carro... Bater em uma cruz? Não... Acho que não foi bem assim. Olhei para o lado, vendo a abelha sair de dentro do carro e ir para qualquer outro lugar. Passei a mão na testa. Senti ela molhada e juguei que era suor. Quando olhei para as minhas mãos, na realidade, havia sangue.

Ok, as coisas começavam a tomar ordem cronológica dentro da minha cabeça. Estava em um carro. Mas não estava dirigindo. Lembro das cruzes fincadas por toda rodovia, indicando que muita gente tinha morrido ali. Então eu vi uma vaca e... Chamei seu nome.

Porra, o Gerard!

Olhei para o lado e apenas consegui ver o airbag e nem mesmo consegui ver o assento.

Merda, será que o airbag sufocou ele?”

Com muito esforço, manchando o aparato de segurança alvo como neve de sangue, afastei-o.

Mas ele não estava lá.

Não era possível que ele tinha me deixado ali, sozinho. A porta do motorista estava aberta. Ele teria sido arremessado para fora? Não faz sentido. Ele estava de cinto. Acho que... Ele estava de cinto? O vidro do painel da frente não estava quebrado. Mas o seu capô estava com um amassado em forma da letra “V” bem no meio, por ter se chocado contra uma árvore. Tive a sensação de que... Estava inclinado para frente.

Abri a porta com dificuldade, sentindo uma tontura. Olhei para dentro do carro mais uma vez, vendo a minha mala vermelha (que não era tão mala assim) jogada miseravelmente como um trapo no piso do carro.

Droga, meus óculos de sol estavam lá dentro”

Caminhei por trás do carro, agradecendo por estar todo rasgado ao invés de morto.

“Eu sou um cara de muita sorte”

De fato, aquilo era um barranco, ribanceira... Ou que quer que seja. Não era tão íngreme. Sua descida não era tão longa, no final tinha um córrego, que em outras circunstâncias eu até diria ser bonitinho.

Mas o que eu vi jogado no chão não era bonitinho.

Gerard estava jogado no chão, de braços abertos. Sim, como se estivesse crucificado. Ele estava sujo do que eu supus ser capim e estava muito pálido. Tinha sangue no seu rosto e não sei porque as mangas de sua camisa estavam tão cortadas com pequenas manchas vermelhas na borda de cada laceração.

No choque inicial, eu apenas me curvei e coloquei a mão na boca em horror.

Caramba, eu deveria estar satisfeito por ver ele tão ferrado. Mas não tô”

E depois eu lembrei do curso de primeiros socorros que aprendi acampando quando era adolescente. Ele estava muito pálido. Mais que o normal. E não se mexia. Tomei coragem e desci até onde seu corpo estava. Encolhi os dedos perto da boca temendo ver de fato um cadáver ali. Chutei suavemente uma de suas mãos, mas o suficiente para ela sacudir brevemente e parar sem vida e sem nenhuma reação dele.

In The Meantime || Frerard ||Onde histórias criam vida. Descubra agora