26 - Edith Nash

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Segunda-feira é um péssimo dia para ir ao colégio, segunda-feira é um péssimo dia para se estar viva. É isso que penso quando saio de manhã, minha disposição para enfrentar Charlie era inexistente. Mas eu sabia que Dolores estava comigo, não teria que passar por isso sozinha. De qualquer forma, prefiro não arriscar. Ando devagar e me atraso alguns minutos. Charlie não poderia fazer nada comigo se o professor estivesse em sala quando eu chegasse.

— A nossa querida representante de classe chegando atrasada? — Charlie diz quando entro na sala. Dolores tira seu livro da cadeira ao seu lado, ela guardou o lugar para mim.

— A Cristina está se recuperando.

— Eu sei.

— Quer ir lá depois da aula?

— Edith? — o professor me chama na frente da sala, imagino que vá me dá bronca por ter chegado fora do horário.

— Entregue para mim.

Ele joga alguns exemplares do livro 1984 de George Orwell sobre a mesa, dá algumas instruções sobre o trabalho e manda que formemos equipes de três.

Entrego um livro para cada equipe que está se formando, deixo Charlie por último. Quando vou até o fundo da sala entregar o último livro para a equipe dela, Mary coloca o pé na frente para que eu tropece.

— Isso é sério? Porque faziam isso comigo no 6° ano. A Charlie ainda não te ensinou a praticar Bullying?

Todos na sala olham para mim, inclusive o professor. Me arrependo no mesmo instante, procurando uma explicação racional no meu cérebro para ter feito aquilo.

Charlie pega o livro da minha mão, entediada. Abre na primeira página e ler a biografia do autor. Mary parece envergonhada, o que me deu certa satisfação. Volto para perto de Dolores, que quase deixou o livro cair ao ouvir minha resposta.

— Não se preocupe, eu já li esse livro. — Tento mudar de assunto. — Acho que devíamos comparar o enredo da estória com a ditadura Stalinista e...

— Com a ditadura o que?

— Patrícia, por favor entre em uma equipe — diz o professor.

Patrícia anda derrotada até nós, éramos as únicas que estavam fazendo dupla.

Dolores pega o livro e finge ler, penso em alguma coisa para dizer a Patrícia.

— Você foi para a festa dela no sábado? — pergunta de repente. — Eu sei que ela te convidou.

Observo Patrícia com atenção. Ela nunca foi uma pessoa muito extrovertida, mas desde Charlie ela piorou. Sempre aparentava medo e preocupação, sua aparência tinha se tornado doentia.

— Fui.

Patrícia me olha com expectativa, esperando que eu continue.

— Por que confiaríamos em você, se você não confiou na gente? — Dolores finalmente diz.

— Tem razão. — Abaixa a cabeça.

Pego meu caderno e escrevo algumas anotações sobre o livro, tentando ignorar o clima tenso entre Dolores e Patrícia.

— A Charlie é perigosa, não quero mais me meter com ela.

— Eu também não — digo. — Mas eu faço isso porque sei que é o necessário. Sei que posso ajudar outras pessoas se colocar um fim nos planos nela.

Mais uma vez me surpreendo com as minhas próprias palavras, eu nunca fui de dizer o que penso. Talvez muitas coisas tenham mudado em mim depois da noite de sábado.

Passamos o resto da aula em silêncio, Dolores continua fingindo ler o livro e eu fazendo minhas anotações. Mas algo me deixou extremamente feliz e orgulhosa; o que eu disse fez Patrícia pensar.

Charlie Tem Que Morrer | Completo Onde histórias criam vida. Descubra agora