36 - Edith Nash

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Na frente da sala, o professor explicava alguma coisa sobre os blocos econômicos na aula de geografia. Mas ninguém estava realmente prestando atenção, era como se todos soubessem que alguma coisa ia acontecer. 

Cristina não havia falado nada desde o começo do dia, apenas tinha deixado claro que não ia desistir. Dolores, por outro lado, estava tagarelando alguma coisa no meu ouvido. Algo sobre sua série favorita, mas ela não estava animada, estava morrendo de medo. 

Assim como eu. 

Olho para Patrícia, seguro as chaves que ela havia roubado da sala do zelador no bolso do casaco. Como a garota que tinha tramado todo esse plano estava? Eu não sabia como estava sua mente, mas sua aparência era a mais normal possível. 
Anotava as coisas importantes que o professor dizia com uma letra impecável, calada como sempre foi. 

Patrícia levantou a mão e perguntou qualquer coisa relacionada a aula ao professor, com sua voz baixa e melodiosa. 

De acordo com o plano, aquele era o sinal. 

Dolores parou de falar.

Era hora do show. 

Não deve ser tão difícil destrancar uma porta, as pessoas destrancam portas o tempo todo. A única dificuldade seria achar a chave certa no chaveiro, como aquela cena em Titanic. E se eu tivesse uma convulsão antes de achar a chave na frente da sala se música? 

"Quando você pensa muito seu cérebro dá pane." É isso que o meu irmão costuma dizer. 

Parei de pensar e fiz. 

— Com licença. — Tentei gaguejar o máximo possível. Algumas garotas na sala, inclusive Charlie, riram. Não me atrevi a olhar para ela.

— Sim, Edith? — O professor parou sua explicação e olhou para mim.

— Não me sinto bem...

Dolores teve um breve ataque de tosses.

— É melhor deixar ela sair — Charlie disse — As convulsões de Edith são dignas de filmes de terror.

Acredite, Charlie, era melhor que ele não me deixasse ir.  

— Pode ir a enfermaria se estiver se sentindo mal.  

Droga! Internamente eu estava torcendo para ele dizer não. Olhei para Dolores quando sai, ela abaixou a cabeça imitando Cristina.

Muito bem, Edith. Que desculpa você vai dar quando acharem você tendo uma convulsão na frente da sala de música com as chaves na mão? 

Afasto aquela voz da minha cabeça e vou em direção a sala de música, não era suspeito. Tinha que passar por lá para chegar a enfermaria. 

Todos os alunos estavam em horário de aula. Tiro a chaves do bolso e começo a tentar.

Primeira.

Você não vai coseguir....

Segunda.

Minhas mãos tremem.

Terceira.

A menina das convulsões é uma inútil.

Quarta.

Quinta.

Você perdeu...

Sexta.

A porta abre, respiro aliviada mas continuo tremendo. Guardo as chaves no sutiã e vou para a enfermaria. 

Dois alunos estavam lá, provavelmente algum incidente na aula de educação física. 

A enfermeira revirou os olhos ao me ver.

— Eu não tive e nem vou ter uma convulsão. O professor me mandou para que me acalmasse. 

— Isso significa que você PODE ter uma convulsão. 

Deu alguma coisa para me acalmar. Bebi e fiquei sentada na enfermaria olhando para a parede branca e ouvindo a conversa dos meninos sobre Futebol. Não pretendia voltar para a sala, o toque do sinal para a hora da saída indicaria também a hora da morte de Charlie.

Aquele seria o som que me assombraria para toda a vida.  

Charlie Tem Que Morrer | Completo Onde histórias criam vida. Descubra agora