49 - Edith Nash

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Os últimos dias tinham sido cansativos, minha família tinha me apoiado mas eles não sabiam o que eu tinha feito. Ficava mais difícil me olhar no espelho, me reconhecer e aceitar o que eu fiz. Passava a maior parte das horas trancada no quarto, as vezes chorava e ficava paranóica com a polícia.   

Uma voz repetia o meu erro constantemente. Eu tinha participado do assassinato de uma pessoa, uma pessoa má, porém era um ser humano, e agora ela estava debaixo do chão. Seu corpo em estado de decomposição sendo devorado por vermes a cada segundo. Se eu tivesse falhado em abrir aquela porta ela estaria aqui, respirando, vivendo. 

Essa imagem me perseguia, me atormentava a cada segundo. Em que momento eu tinha falhado? Em que momento um ser humano se torna um monstro? Você sente quando isso acontece? 

Ouvi uma batida na porta do meu quarto, mas será que alguém realmente tinha batido? Eu estava escutando tantos barulhos tentando forçar minha mente a ficar em silêncio que parecia duvidoso.

— Tem alguém ai?

— Edith, uma senhora quer falar com você. — Era a voz da mamãe.

— Que senhora?

Alguém da família da Charlotte veio me acusar? 

— Da polícia. 

Meu corpo gelou, era o meu fim.

— Não estou bem, mãe.

— Se não for agora vai ter que ir depois. Acha que vai ser presa? — Mamãe riu.

Para mim aquele riso soou um tanto nervoso, achei melhor acreditar que ela apenas estava muito preocupada comigo.

— Já estou indo. 

Respirei fundo e amarrei meu cabelo em frente ao espelho. Seria muito suspeito ter uma convulsão agora, mas ao meu ver até minha respiração parecia suspeita. 

Desci as escada devagar. Miriam, a mulher que tinha me interrogado estava conversando com papai no sofá, bebendo uma xícara de chá.

— Estamos zelando pelo bem estar da Edith, ela é uma menina frágil. Deixe que eu esteja presente nessa conversa de vocês.

— Entendo perfeitamente senhor Nash, mas a Edith já foi interrogada em um lugar muito menos acolhedor do que a própria casa. Garanto que serei breve e cuidadosa, tudo ficará bem. 

— Olá... 

Papai me deu um beijo na testa. — Estarei perto, querida. — Observou até que eu estivesse confortavelmente acomodada ao lado de Miriam e depois saiu.

— Não vai beber chá? — ela perguntou.

— Não, obrigada. 

— Também odeio chá — disse dando um gole.

Fechei as minhas mãos tentando fazer com que parassem de tremer. 

— Você foi para a enfermaria no dia, Edith?

— Sim, as vezes isso acontece.

— Eu sei. 

Fechei os olhos, ciente de que ela estava estudando minhas expressões.

— Eu sei que já perguntei sobre a sua relação com a Charlotte, mas seu pai me contou que você estava sofrendo muito com tudo isso. Será que tem algo mais a acrescentar?

— Não.

— Suponho que você já saiba como tudo aconteceu, o sumiço das chaves...Tudo está na televisão.

— Sei.

Será que minhas resposta deveriam ser maiores? Não estavam muito automáticas?

— Se você tem algo a dizer, diga agora.

A voz dela estava calma, porém de um jeito assustador. Me senti um pouco tonta e minha visão ficou turva. As ideias ficaram desorganizadas na minha mente. 

Chaves, Patricia, porta, Dolores, troféu.

— Você é tão jovem e inteligente. Se você tiver feito alguma coisa e cooperar comigo agora, eu garanto que não vai ter um final muito ruim. Entende? Mas se resolver não dizer eu vou descobrir, sabe que vou. E você não vai ter a palavra "colaboração" a seu favor.

 A culpa é sua, vocês a colocaram naquele túmulo. Vocês devem pagar.

— POR FAVOR, CALE A BOCA!

— Falou comigo, moça?

— NÃO FOI MINHA CULPA, EU FIZ ISSO POR ELAS!

Edith, você é uma assassina. Por que me matou? Está vendo esses vermes rastejando pelo meu rosto e devorando meus olhos? 

 — O que você fez por elas, Edith? Fale agora, eu estou do seu lado. 

— Pare com isso, a minha filha não está bem. 

— Vamos processar a senhora por abuso de autoridade!

— A Patrícia me entregou as chaves, eu abri a porta e a Dolores...

Perdi os sentidos. 

Charlie Tem Que Morrer | Completo Onde histórias criam vida. Descubra agora