43 - 3° pessoa

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Narrado em 3° pessoa.

Não, Charlie não havia sido abandonada em uma cestinha na porta do orfanato. Se tivesse sido assim, ela teria sido uma criança feliz na companhia de tia Sophia e das outras crianças. Talvez ela tivesse sido adotada por pais amorosos e talvez seu nome fosse algo como Alice ou Anne.

Charlie teve uma mãe até os oito anos de idade.

Ela se chamava Ellen Daves e Charlotte a amava.

O que Miriam descobriu sobre Ellen Daves, é que ela era uma possível adolescente que fugiu da casa dos pais após engravidar aos 17 anos. Chegou com o namorado em Stacy Hills quando estava grávida de 6 meses, e que esse homem a abandou antes mesmo da pequena Charlotte nascer.

Mais tarde, a senhora Sophia Agatha tentou descobrir o paradeiro desse homem. Mas não chegou muito longe, tomou a conclusão de que ele era um canalha que abandonou a namorada grávida em uma cidade estranha e a esqueceu.

Ela estava certa.

Sozinha e grávida em uma cidade desconhecida e longe das pessoas e dos lugares que conhecia, Ellen vagou pelas ruas até encontrar por acaso alguém disposto a oferecer emprego a uma mendiga. Uma mulher de nome desconhecido, chamada por todos de "A dama".

A dama ofereceu um lugar para Ellen ficar e comida até o bebê nascer, em troca Ellen trabalharia por dois anos para ela sem receber nenhum salário. O trabalho era numa casa de prostituição. Ellen aceitou.

Mas nem todas as coisas ruins duram para sempre, embora possamos dizer que em nada a situação de Ellen melhorou após passados quatro anos em prostituição. A dama acrescentou mais dois anos por pequenos empréstimos e juros que ela mesma inventava.

Aos 21 anos Ellen saiu da casa com a filha pequena. Não tinha para onde ir e viveu na rua dormindo ao relento, achava que qualquer coisa era melhor que sua antiga vida, e desde que conseguisse esmola suficiente para alimentar a filha, tudo estava bem.

Quando Charlotte tinha seis anos, Ellen começou a trabalhar com algo obscuro. Algo que a pequena Charlotte não entendia. Mas agora ela tinha uma casa e até estava indo para a escola. Isso durou dois anos. Novamente Ellen estava em uma situação terrível, mas todas as vezes que via a pequena Charlie chegar em casa e contar as coisas novas que a professora ensinou, Ellen se sentia melhor e continuava.

Ela tinha se metido a vender drogas. Mas um dia alguns "clientes" não a pagaram e Ellen teve que prestar contas com o seu fornecedor, ou patrão.

Ela não conseguiu.

Era uma noite de dezembro, Charlie e Ellen montavam distraidamente uma árvore de natal na pequena sala da casa alugada. Charlie desenhava e pintava e Ellen recortava suas legiões de estrelinhas e anjinhos, enquanto contava histórias sobre a visita que o papai Noel fazia as crianças na noite de natal.

Como Charlie ela era uma menina boazinha, aquele ano ela ganharia uma linda casa de bonecas.

A sociedade jugou Ellen Daves de várias formas diferentes. Quando seu assassinato foi divulgado na televisão local, Ellen foi chamada de ex-prostituta, traficante de drogas ilícitas, criminosa, procurada, entre outras coisas. Esqueceram apenas de dizer que ela era mãe, e ninguém entendeu que o motivo de todas aquelas coisa era dar uma vida melhor para sua garotinha.

Charlie estava desenhando sua décima oitava estrela quando um homem entrou na casa sem bater. Ellen se sobressaltou e mandou a filha se trancar no banheiro, mas ela desobedeceu e se escondeu atrás do sofá.

- Já fazem oito meses, Ellen.

- Preciso de mais tempo.

- O patrão não pode esperar.

- Não depende de mim... Por favor, não sou eu quem não estou pagando.

- Sinto muito.

Ele não sentiu. Atirou duas vezes no peito de Ellen, que caiu no chão da sala sobre os desenhos que estavam sendo feitos por Charlotte, os olhos arregalados, morta. Seu último pensamento tinha sido a filha. Tudo foi tão rápido que ela não teve tempo de gritar.

Charlie gritou e chorou, chamou pela mãe e rastejou até o corpo dela.

- Mãe, por favor acorde!

O homem saiu e a polícia nunca o encontrou.



Charlie Tem Que Morrer | Completo Onde histórias criam vida. Descubra agora