12 - Cristina Stevens

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— Então a Patrícia me pediu ajuda para falar com o diretor. Ele prometeu que tomaria uma providência.

Dolores andava de um lado para o outro no quarto, atirando perguntas em Edith como se sua vida dependesse disso. Edith já começava a tremer.

Por que nós tínhamos ido até ali? Por uma vingança boba? Não sei se Dolores pensava o mesmo, mas para mim as coisas tinham se tornado 10 vezes mais sérias. Charlie tinha feito muito mais do que roubar um namorado ou uma amiga, ela tinha levado uma menina para ser violentada. Charlotte Daves é um monstro. Pior do que pensávamos. Não importavam mais as outras coisas que ela tinha feito, agora nós tínhamos que ajudar Patrícia. Me sentia extremamente tola, afinal eu tinha ido até lá não por Patrícia, mas pela minha própria vingança. E tudo aquilo era pequeno se comparado pelo que Patrícia passou.

— E POR QUE DIABOS ESSE DIRETOR NÃO FEZ NADA?

Levantei com o grito de Dolores, voltando finalmente para a realidade depois de imaginar todas as situações pelas quais Patrícia passou acontecendo comigo.

Poderia ter sido eu. Poderia ter sido a Kay.

— RESPONDE!

— Pare, Dolores. — Seguro os ombros de Edith na tentativa dela parar de tremer.

— Desculpe. — Dolores mexe na cômoda de Edith, mostrando interesse pelas fotos da sua família. — Não sei como lidar com isso, pela primeira vez não sei o que fazer.

— Está obvio o que temos que fazer, isso não parece um caso comum de bullying resolvido pelo diretor da escola. Nós temos que falar para a polícia.

— Tem razão.

Dolores me encara, talvez ela tenha esquecido do Daniel, da vingança. Esse tempo todo ela praticou bullying com a Patrícia, as vezes até comigo e com Kay. Mas apesar de ter ganho o apelido de mesquinha, e diversos outros que as meninas fora do seu grupinho lhe deram, agora ela não parecia má.

Ou talvez a maldade de Charlie tivesse ofuscado a dela.

O diretor ia tomar uma providência. O problema é que a Patrícia retirou todas as acusações.

Eu e Dolores a encaramos.

— Eu tenho tentado convencer ela a retomá-las.

Edith parou de tremer, mas sua expressão ainda parecia nervosa. Segurei a mão dela tentando passar algum tipo de conforto.

— Não sei porquê ela fez isso.

— É óbvio. — Dolores retoma seu andar incessante pelo quarto. — Ela fez isso porque Charlie a ameaçou.

— Temos que fazer ela retomar as acusações.

— Ela não ouviu você, Edith. Por que ouviria a mim ou a Dolores?

— Preciso pensar. — Dolores pega a bolsa.

— Você já vai?

— Sim, tenho que pensar em uma forma de garantir segurança a Patrícia para ela retomar as acusações contra Charlie. É a melhor opção.

— Você não está mais pensando em... — Edith começa.

— Não se trata mais de vingança, se trata de justiça. Eu me envolvi nisso e vou ficar até o fim. Charlie vai pagar pelo que fez com a Patrícia.

Edith sorri, parece mais tranquila em relação a Dolores.

— E claro, também vai pagar pelo que fez comigo.

Dolores, como sempre...

— Você vem?

— Não, vou ficar mais um pouco.

— Até amanhã.

Dolores bate a porta ao sair, podemos ouvir ela dá uma explicação para a mãe de Edith lá embaixo.

— Então, Edith. O que você faz quando não estar na escola?

— Gosto de ler.

— Quero dizer... Você sai pra algum lugar?

— Não.

— Vai entrar um filme ótimo no cinema nesse final de semana. Quer ir comigo?

— Não posso, meu pai não gosta que eu saia. Ele tem medo que eu tenha um ataque em lugares públicos.

Fica aprisionada em um hospício por causa da sua doença?

— Você nunca sai?

— Só se estiver acompanhada do meu pai ou da minha mãe.

Pelo menos ela tinha um pai e uma mãe que se preocupavam com ela.

— O que mais você faz para passar o tempo?

— Gosto de jogar vídeo game.

— E o que você joga?

— Minecraft.

— Me mostre!

Saí da casa de Edith cinco minutos depois, me sentindo extremamente derrotada, por algum motivo.

Charlie Tem Que Morrer | Completo Onde histórias criam vida. Descubra agora