01 - Dolores Frank

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Faziam duas semanas que não colocava o pé na escola, as meninas me mandavam mensagens o tempo todo, falando de uma garota incrível que estava causando rebuliço entre os garotos.

Ela não pode ser mais incrível do que eu, e muito menos ter chamado a atenção de Daniel.

Para todos os efeitos eu tinha ido acompanhar meus pais numa viajem de negócios, mas a verdade, é que estávamos alojados em um hotel barato na mesma rua da clínica de reabilitação que meu irmão estava internado havia 2 meses.

Ninguém pode saber da situação de Samuel, seria uma mancha muito grande na reputação da família.

Minha mãe é uma daquelas tipicas senhoras do comercial de Margarina. Quer manter as aparências de que tem a vida perfeita, de que tudo está devidamente em seu lugar. Que o cabelo dos filhos não está nem um centímetro desarrumado.  

Mas a verdade é que desde que Samuel foi internado, a impecável vida da família Frank, que tinham filhos lindos e inteligentes e iam todos os domingos a igreja, foi completamente destruída.

Os pais sempre dizem que amam seus filhos na mesma medida, mas essa é uma mentira que nem mesmo Edith Nash, a menina das convulsões, acreditaria. Eu sempre soube que Samuel era mais amado. Ele era o filho mais novo, o filho homem. Mas isso nunca significou que eu fosse excluída, e que não me esperavam para o café da manhã. Apenas significou que aos 15 anos ele já tem faculdade garantida, e eu aos 17 não.

Quando a saúde dele entrou em estado crítico, e começou a usar cocaína dentro do banheiro, usei minha popularidade para espalhar no colégio que ele tinha ganho uma bolsa de estudos na cidade grande.

Desde que ele foi internado, minha família começou a prestar menos atenção em mim, tanto, que quando cheguei em casa com o cabelo cortado na altura das bochechas, mamãe simplesmente fingiu não notar, e papai perguntou se eu estava treinando para ser o próximo desgosto da família.

— Preciso voltar pra cidade. 

— Porque isso agora?

— Não posso ficar tanto tempo afastada da escola.

— Desde quando se preocupa tanto com a escola?

— Desde que você teve que subornar o diretor para que me aprovassem ano passado. 

Na verdade eu só quero saber qual é a da garota nova.

Depois de muita insistência, tendo a colaboração do meu pai que perdia 100 dólares por hora, longe do emprego. Conseguimos marcar a última visita a Samuel a tarde e voltamos para Stacy hills a noite. 

Me arrumei o melhor que pude naquela manhã, talvez exagerando um pouco na maquiagem. Queria impressionar seja lá quem fosse a garota nova, e é claro Daniel.

— Querida, pode ir a pé hoje?

Talvez ele não se desse conta que dizia isso todas as vezes quando eu terminava o café. Todas as vezes desde que Samuel não estava mais lá.

— Claro.

Me levantei e andei devagar em direção a porta.

— O que vocês vão inventar quando ele sair de lá? Que perdeu a bolsa? — Não esperei resposta e bati a porta antes de sair.

Fui praticamente correndo até o colégio, as nuvens escuras que cobriam a cidade, indicavam que um temporal ia cair a qualquer momento. A Liberty Way School, era a típica escolinha particular de cidade pequena, aconchegante, bonita e barata. Alguns alunos das cidades vizinhas faziam questão de estudar lá, e de vez em quando alguma pérola como Cristina Stevens conseguia uma bolsa. As aulas do ensino médio aconteciam de manhã, e a tarde algumas extra-curriculares. 

Quando entrei, todos me olharam de lado, mas eu tinha esse efeito sobre as pessoas, ou talvez estivessem estranhando meu cabelo. Olhei para todos os lados procurando Daniel, a única pessoa que podia me entender, a única pessoa que sabia a verdadeira história de Samuel.

— Não encontro Daniel em lugar algum — disse me aproximando das meninas. 

— Você não soube? — perguntou Layla com o olhar penoso.

— Soube de quê?

Ela me entregou o celular aberto em uma foto, o pegando 3 segundos depois, quando percebeu que eu estava prestes a derrubá-lo. 

Mas aquilo...

O que significa isso Layla? 

— Foi ontem e....

— Quem é essa garota?

— Charlie.

— E QUEM DIABOS É CHARLIE ?

Helena foi para a frente de Layla.

— COMO ISSO FOI ACONTECER? SERÁ QUE ALGUÉM PODE ME EXPLICAR?

— Foi ontem a noite, antes de você chegar de viajem.

— AH É MESMO? 

Mary segurou meus ombros com medo de que eu agredisse Helena.

— Charlie e Daniel ficaram juntos a noite e....

— É, EU JÁ PERCEBI QUE ELES FICARAM!

— CHEGA DOLORES! NÓS NÃO TEMOS A MÍNIMA CULPA DO QUE ACONTECEU, E VOCÊ NÃO TEM MOTIVOS PARA FICAR ASSIM — disse Mary.

— Como eu não tenho motivos para ficar assim? Tem uma foto do meu namorado beijando outra garota no celular de todo mundo e você me diz que eu não devia ficar assim?

— Daniel falou que vocês tinham terminado — Layla disse de cabeça baixa.

— Como assim Daniel falou que....

Mas o olhar delas estava cabisbaixo, até mesmo culpado.

Vocês três tem alguma coisa a ver com isso? 

— Charlie não sabia que você e Daniel namoravam.

— Por que está defendendo essa vadia, Helena?

— NÃO CHAME CHARLIE DE VADIA! - Layla me empurrou.

— Mary.... — Olhei nos olhos dela, tentando entender porque elas estavam defendendo Charlie. Porque pareciam culpadas.

Nós eramos melhores amigas desde o 7° ano, desde que ela usava aparelhos. Mary não conseguia mentir para mim, nem mesmo que ela quisesse. Eu a conhecia. 

— Charlie não teve culpa — Ela abaixou a cabeça evitando meu olhar.

— VOCÊS VÃO PAGAR, PAGAR MUITO CARO!

Me afastei delas, indo em direção ao banheiro feminino.

— O QUE ESTÃO OLHANDO? — perguntei a um grupo de garotos que cochichavam as minhas costas, antes de bater a porta do banheiro.

Charlie Tem Que Morrer | Completo Onde histórias criam vida. Descubra agora