30 - Charlotte Daves

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Não era que eu não tivesse coisas mais importantes pra fazer do que atormentar um grupinho de meninas. Mas se aquele ia realmente ser meu último na escola, seria divertido fazer algo lendário. E de qualquer forma eu já tinha "avisado" Dolores. Se você faz uma ameaça deve ir até o fim. 

Como prometido, a primeira jogadora se chamava Cristina.

Eu sabia exatamente o que fazer. Sabia uma coisa sobre ela, uma coisa que até então eu não tinha dado a devida atenção. Afinal, era só uma besteira que Kay sempre contava sobre sua ex amiga quando estava muito bêbada. Agora era algo muito conveniente. 

Eu sabia sobre a sua mãe alcoólatra, e era isso que ia usar.

— Kay, você sabe onde a mãe da Cristina trabalha, não sabe?   

— Sei.

— Pode me levar lá depois da aula, preciso fazer uma coisa.

— Posso, o que você vai fazer?

Não respondo a pergunta dela e vou para a aula. Dolores tinha conseguido integrar Patrícia em seu grupinho, de algum jeito. Faltava uma integrante do quarteto fantástico, claro. Mas eu sabia que Cristina voltaria para as aulas no dia seguinte, depois de ter se recuperado o máximo possível do nariz quebrado. Ela teria uma boa surpresa. Talvez preferisse ter quebrado a cabeça.

Espero o horário certo para ir até o bar e encontrar a mãe de Cristina bêbada. Sabia que teria que ser a noite. Kay me leva até o lugar, localizado nos subúrbios da cidade. Ruas que eu conhecia bem quando era criança, mas que hoje era feliz por não ser obrigada a andar.

— É um pouco perigoso andar por aqui por essas horas, Charlie.

— O perigo sou eu.  

Dispenso ela assim que chegamos a frente do bar, preferia trabalhar sozinha do que ter uma pateta me atrapalhando. Desvio dos bêbados e vou até o balcão.

— Stevens? — chamo

Uma garçonete vem até mim, o cabelo arrumado em um penteado espalhafatoso e o uniforme amassado, claramente já tinha bebido algumas doses. 

Mas pode piorar. 

— Se sente comigo, pela minha conta. 

— Estou trabalhando, loirinha.

Tiro algumas notas na carteira e coloco no balcão, ela as pega rapidamente e guarda no sutiã.

— O que quer de mim?

— Quero apenas companhia para beber.

— Ruth. — Ela estende a mão, mas não a toco. Sem se sentir ofendida enche dois copos e vem para o meu lado do balcão.

— Me fale sobre você, Ruth. 

Finjo ouvir as besteiras que ela fala enquanto conto os copos que bebe. Depois de um tempo sua voz fica mais embargada e seus movimentos mais desengonçados. Tinha chegado o momento.

— Você sabia que a melhor arma de uma garota no século XXI é seu celular? — Tiro ele de bolso.

— No meu tempo era a sedução. 

— No seu tempo as mulheres ainda precisavam dos homens. 

— Por isso tive duas filhas bastardas. 

— Conte mais.

Com um pouco de persuasão consigo que ela conte exatamente o que preciso sobre as filhas. Acabo percebendo que sua maior decepção se chama Isabel e não Cristina. Mas isso não era totalmente ruim. Filmo por dois minutos ela falando das garotas e me preparo para sair.

— Aonde vai? 

— Pra um lugar onde esse cheiro de álcool não me alcance. — Ruth não responde nada, apenas enche seu copo mais uma vez.

Espero que isso te mate.

Chamo um táxi e volto para casa. Edito o vídeo no próprio celular, cortando as partes irrelevantes e deixando aquelas em que Ruth fala coisas mais absurdas.

Cyberbullying, acho que é assim que chamam essa coisa.

Charlie Tem Que Morrer | Completo Onde histórias criam vida. Descubra agora