35 - Patrícia Parker

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Para entrar na sala se música, local da morte de Charlie, primeiro tínhamos que conseguir as chaves das salas de aula.

Essa era minha parte.

Eu sabia que a sala de música tinha 3 chaves, uma ficava com o professor, uma com o diretor e uma com o zelador, que era responsável por trancar todas as salas no final do dia. 

Era quase impossível mexer na bolsa de um professor, e a diretoria era o único lugar da escola vigiado por câmeras, porém, a terceira chave já estava praticamente na minha mão. Se tudo saísse de acordo com o plano, aquela sexta-feira seria lembrada pra sempre naquela escola pela morte de Charlie. 

Talvez até fizessem algum tipo de memorial pra ela, a aluna brutalmente assassinada em uma sala de aula. 

Que seja, os mortos não podem ver. 

Exatamente as 6:45 o zelador saía da saleta dele e ia humildemente tomar uma xícara de café na sala dos professores, com quem reclamava do salário, dos alunos e da amante. 

Eu tinha exatamente 15 minutos para entrar sem ser vista, pegar a chave e dar o fora. 

A sala dele era afastada da entrada do colégio e da quadra, de forma que poucos alunos passavam por perto na hora da entrada ou em qualquer horário. Como eu falei, aquelas chaves estavam na minha mão. Aquilo era simples, porém arriscado. Não pude me impedir de ficar nervosa, por isso vomitei duas vezes antes de sair de casa. Eu só ia pegar uma chave, Cristina ia matar naquele mesmo dia. Ela devia estar bem pior, e claro, havia o risco dela desistir, de alguém falhar. Será que tudo aquilo valia a pena para matar Charlie?

Sim, pois ela também teria me matado. Ela me ameaçou, pena que eu não ia fazer o favor de avisar a ela também. 

6:47.

Saio dos meus devaneios quando vejo o homem ruivo saindo de sua sala enquanto assovia desafinadamente. Espero ele sumir de vista e me certifico de que não tem ninguém por perto. 

6:49.

Entro quase correndo na saleta e fecho a porta atrás de mim. 

O lugar, um pouco maior que um box de banheiro é entulhado de matérias de limpeza, bolas de futebol velhas e mais coisas que considero inúteis. Procuro as chaves com certo desespero.

 E se não estivessem ali?

Sim, elas sempre ficavam ali. Eu estudava naquele colégio desde os 5 anos, eu sabia das coisas.

Estavam bem ali, em um gancho enferrujado na parede. 

Pego as chaves e jogo de qualquer jeito dentro da mochila. O zelador só iria dar pela falta dela no final da manhã. Eu já estaria bem longe e provavelmente já teriam descoberto o corpo de Charlie.   

Abro a porta da sala e saio, não me dou ao trabalho de checar se alguém tinha me visto sair. Um belo motivo para dor de cabeça mais tarde. 

Devo agir normalmente...

Não consegui, vi Charlie sentada esperando o sinal tocar. Estava estranha, ignorava as meninas que a rodeavam. Talvez estivesse prevendo a morte. Corro para o banheiro feminino e me olho no espelho embaçado. Tiro os óculos e lavo o rosto, como se tentasse tirar alguma máscara.

Patrícia, essa não é você.  




Charlie Tem Que Morrer | Completo Onde histórias criam vida. Descubra agora