50 - Dolores Frank

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— Você está presa pelo assassinato de Charlotte Daves.

— Espera, como assim?

Uma viatura estava parada na porta de casa, dois policiais entraram com a ordem de prisão. 

Meu mundo caiu, eles haviam seguido as pistas e me encontrado. 

E quanto as minhas amigas? Será que tinham chegado a elas?

Senti minhas pernas tremerem, a única coisa que consegui perguntar foi "Como assim?" Mas minha dúvida não era verdadeira, eu sempre soube que eles iam chegar a mim. Era como se estivesse apenas esperando. 

Todas as coisas que eu fiz, todo o meu caminho me levou até aquele momento. 

Dolores Frank, a garota de 17 anos condenada por assassinato. A mesma garota que há um ano atrás estava no cinema com meninas que ela agora sentia que não conhecia. A garota que tinha alimentado uma ideia obsessiva de vingança e manipulado outras garotas a seguirem. 

Quando exatamente tudo na minha vida havia dado errado? Por que exatamente eu tinha sentido prazer em matar Charlotte? Seria eu tão terrível quando ela? 

— Tem o direito de ficar calada. 

O resto das coisas passaram em câmera lenta diante da minha visão: O policial me algemando, papai gritando em desespero, mamãe olhando estupefata para o outro policial que tentava lhe explicar a situação. 

Ela não esboçava nenhuma reação. Uma parte dela tinha morrido quando Samuel foi internado, eu tinha acabado de matar a outra.

Acho que o policial tinha explicado algo pra mim, mas não entendi bem. Quando voltei a realidade e comecei a prestar atenção ao meu redor outra vez já estávamos perto da delegacia. 

Com todas as forças eu esperava que as meninas não estivessem lá. 

Patrícia estava.

— Dolores...

— O quê... Eles?  — Não sabia o que perguntar, e nem podia conversar com ela com os policiais ouvindo. 

— Meu pai já conseguiu um advogado. 

Tiraram as minhas algemas. Eu e Patrícia demos as mãos.

— Eu sinto muito.

Ficamos por muito tempo assim, não consegui evitar que as lágrimas caíssem. Patrícia ficou quieta, ela tinha uma força espetacular. Uma força que eu não imaginava que aquela menina que tantas vezes fiz chorar tinha.

Passei os anos em que estudei na Liberty Way praticando bullying com a Patrícia e a fazendo chorar, vendo ela segurar os óculos e voltar correndo para casa. Agora ela segurava minha mão enquanto eu chorava. 

Depois de um tempo fomos levadas para uma sala na delegacia, a mesma sala em que os interrogatórios haviam acontecido. Miriam estava lá. Nos deixaram a sós com ela. 

— Patrícia Parker, você é acusada de ter participado diretamente do assassinato de Charlotte Daves. Dolores Frank, você é acusada de ter praticado o assassinato. O que as duas tem a dizer?

Como ela tinha descoberto? Edith e Cristina estavam em outra sala? Eu acreditava que sim, e elas iam se ferrar. Nós quatro sofreríamos. Me lembro claramente de quando fui até a casa de Cristina e depois de Edith convencer as duas a participarem dessa vingança boba. A culpa era minha, eu as tinha puxado para aquele buraco.

— Não tenho nada a declarar — Patrícia disse. — Miriam deu uma risadinha. 

— Eu tenho. — Dei um passo a frente.

Soltei a mão de Patrícia a deixando assustada, Miriam prestou atenção em mim.

Eu as tinha puxado para esse buraco e eu ia tirá-las dele, mesmo que isso aumentasse minha pena. Eu ia proteger as três até o fim. 

— Eu confesso ter manipulado Patrícia, bolado um plano e ter matado Charlotte. 

Não falei sobre Edith e Cristina, isso podia ser um jogo mental ou elas podiam estar livres. 

— Como a matou?

— Duas pancadas, não consegui concluir da primeira vez. 

— Você mandou Patrícia e uma terceira pessoa cuidarem da porta e das chaves?

Edith... 

— Sim.

— Sabe, Dolores... Eu já sei de toda a história, não se preocupe, nós ainda teremos muitas conversas em particular e vocês duas vão poder me explicar tudo. Na verdade as chamei aqui porque sei que querem conversar e aqueles policias lá fora ficam olhando. A próxima vez que vocês duas se verão será no tribunal, então aproveite. Não se preocupe, não tem escutas nessa sala. Ela é tão segura quanto a sala de música.

Miriam saiu e no mesmo momento Patrícia me abraçou. 

— Qual o problema dessa mulher?

— Ela não tem problema nenhum, o problema sou eu. 

— Por que fez isso, Dolores? Se você contar a ela que o plano foi meu e que a Cristina deu a primeira pancada sua pena vai diminuir. 

— Eu vou proteger vocês três até o fim, mesmo que isso signifique que vou passar o resto da minha vida presa. 

— Não faça isso...

— Eu era a líder de vocês e se eu não tivesse insistido em levar esse plano adiante ninguém teria levado, e agora não estaríamos aqui. 

— Você acha que pegaram elas? 

— A Edith sim, mas a Cristina não.

— Como nos envolvemos nisso? Como tudo começou?

— Uma vez eu disse a Cristina que a maioria das amizades começavam por um inimigo em comum... Acho que nós tínhamos esse inimigo.  

Charlie Tem Que Morrer | Completo Onde histórias criam vida. Descubra agora