39 - 3° pessoa

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Esse capitúlo é narrado em 3° pessoa, não teremos o ponto de vista de nenhuma personagem.

Charlie foi puxada abruptamente por Dolores para dentro da sala de música.

- Ei! - gritou.

No mesmo momento que Charlie percebeu que mais alguém estava na sala, Dolores jogou uma cadeira usada pelos alunos na frente da porta, bloqueando-a para que ninguém pudesse entrar em um momento crítico.

"Uma emboscada" - Charlie pensou. - Não tinha identificado o rosto de Cristina, mas imaginou que fosse ela. Também pensou que a emboscada seria para bater nela, que levaria uma surra. Quando sentiu uma dor lancinante na cabeça e caiu no chão de joelhos, Charlie perdeu imediatamente a capacidade de pensar. Teve medo, medo e choque foram as únicas coisas que lhe restaram. O resto havia sido apagado pela dor.

Mas ela não havia morrido.

Cristina, com as mãos trêmulas, olhou para a "obra de arte" que tinha feito. Um corte profundo, de onde o sangue escorria manchando os cabelos loiros de Charlie."Por que diabos ainda está viva?"

Olhando pela perspectiva de Cristina, se podia ver perfeitamente o osso do crânio afundado, o sangue vermelho e espesso escorrendo até pingar. Cristina gritou, mas se tivesse visto a expressão vazia de Charlie, se pudesse ter enxergado seus olhos naquele momento, se Cristina tivesse visto a sombra da morte passando pelos olhos de Charlotte, sua expressão contorcida, ela teria gritado mais. Talvez as paredes da sala de música, feitas especialmente para isolar os sons de dentro da sala, não tivesse abafado esse possível grito.

Dolores tinha visto tudo isso, mas ela não gritou.

Pelo que fez a seguir, pode ter achado tudo no mínimo bonito.

Dolores se abaixou e aproximou o rosto do de Charlie, era como estar encarando a própria morte de perto, sentiu o cheiro de sangue, de medo.

- Está vendo, Charlie?

Se por acaso alguém tivesse entrado naquele momento e tentado ajudar Charlotte, mesmo com todos os cuidados especiais que qualquer médico pudesse oferecer, ainda assim ela teria morrido.

- A morte é mais assustadora do que a verdade.

Charlie não ouviu.

- Acabe com isso, Cristina.

Mas Cristina também estava em choque, ninguém tinha ouvido as palavras que Dolores acabava de dizer. Estava claro que Cristina não conseguiria fazer mais nada contra a garota ajoelhada, que apenas esperava que o sistema nervoso desligasse.

- Termine!

Sem resposta, e já sentindo um certo receio que estivessem demorando demais, Dolores retirou as luvas rapidamente das mãos de Cristina e colocou nas suas próprias. Pegou o troféu e foi para trás de Charlie.

"Vou terminar de afundar o seu cérebro"

Foi o que Dolores fez, seu golpe de misericórdia foi quase uma bondade. Charlie não sentiu nada.

O som da sua cabeça sendo esmagada mais uma vez e de seu corpo sem vida caindo sobre o piso branco foram a gota d'água para Cristina, ela começou a chorar.

- Vamos embora.

Dolores colocou o troféu ao lado do corpo de Charlie, a arma do crime ao lado do cadáver. O lado esquerdo da sua cabeça completamente deformado, os olhos saltados para fora, o sangue espalhado pelo chão. Tudo era digno de filmes de terror.

Ao perceber que Cristina não dava um passo, Dolores se adiantou até a janela, a abriu e praticamente empurrou a garota pra fora.

A janela, dava para uma rua escondida e sem casas, um beco sem saída que as pessoas normalmente usavam para jogar lixo mas que a escola fazia o imenso favor de deixar sempre limpo.

Algumas roupas estavam dobradas cuidadosamente no chão perto do muro dos fundos. Patrícia havia deixado lá.

Sem medo de serem vistas, as meninas se trocaram rapidamente. Dolores ajudou Cristina com a simples tarefa de trocar a camiseta. Em seguida, colocou as roupas sujas com o sangue de Charlotte dentro da mochila. Mais tarde ela teria o cuidado de queimar tudo.

Olhou sorrateiramente antes de sair do beco, ninguém estava por perto.

Muitas coisas estavam se passando pela sua cabeça, formas da polícia chegar até ela, as palavras que disse para Charlie, a forma como ela morreu. Arrependimento não era uma dessas coisas.

Dolores segurou o braço de Cristina delicadamente e a levou para fora do beco. Não sabia se ia para a casa dela ou para a sua, mas achou prudente ficar por perto de Cristina até ela se recompor.

Cristina não conseguia pensar em nada. Só queria chorar, gritar, talvez se matar. Ela era de fato uma assassina.

Charlie Tem Que Morrer | Completo Onde histórias criam vida. Descubra agora