23 - Cristina Stevens

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Fico atrás da mesa de bebidas, perto o suficiente para escutar toda a conversa de Edith e Charlie. Posso entender claramente que Charlie quer convencer Edith a ir com ela.

— Cristina? 

Um minuto depois de ver Dolores se aproximar escuto o barulho de vidro quebrando, me levanto rápido o suficiente para ver Edith cair no chão em um ataque epilético. Charlie a encara com uma expressão orgulhosa, como se quisesse ver Edith morrer ali mesmo, ela se divertia com aquilo.

— EDITH!

Corro até ela sem pensar duas vezes, Dolores vem logo atrás de mim. Me ajoelho perto dela e seguro sua cabeça, enquanto tateio minha bolsa em busca da seringa e do frasco de remédio.

— Dolores Frank...

Charlie a provoca e Dolores me deixa cuidando de Edith para encará-la. 

— O QUE VOCÊ FEZ COM A EDITH?

 — Eu acho que você não foi convidada. 

— RESPONDA!

— Eu não fiz nada. Não tenho culpa se o cérebro dela veio com defeito. Mas eu ia fazer...

— SUA VADIA! 

Charlie ri, não se sente nem um pouco ofendida, acha a reação de Dolores no mínimo engraçada. Encontro o frasco do remédio e passo para a seringa com cuidado, tentando fazer com que o braço de Edith fique um pouco parado para que possa aplicar a injeção. 

Volto minha atenção para Dolores mais uma vez, a bolsa dela está jogado no chão a vários metros. Provavelmente tentou acertar Charlie. Alguns garotos seguram ela pelos braços enquanto ela tenta se soltar e grita xingamentos para Charlie, que por sua vez, a olha com uma expressão calma e divertida. Talvez se eu me levantasse agora e fosse rápida conseguisse dar um soco na cara dela, mas não podia deixar Edith de lado.

Consigo imobilizar o braço de Edith para injetar o remédio.

— Vai ficar tudo bem. — Sei que ela não pode me ouvir, está inconsciente.

Alguém toma a seringa da minha mão, o movimento da pessoa não leva mais que um segundo.

— EI!

Eu sabia que algo ia dar errado. Agora Edith ia sofrer as consequências por nossa culpa. Por minha culpa.

Ela tinha confiado em mim.

Vejo Kay sorrindo maleficamente enquanto entrega a seringa a Charlie.

Como eu não tinha visto antes o monstro que ela era? 

Penso em me levantar e tentar recuperar aquilo, mas sabia que alguém ia me segurar. Tudo que eu conseguiria fazer seria ficar presa como um cachorro em uma coleira e proferir xingamentos, como Dolores estava fazendo.  

— Charlotte, ela precisa disso — digo em tom calmo. Em resposta Charlie simplesmente joga a seringa no chão, o remédio que pararia a convulsão de Edith fica em uma poça aos seus pés. 

Charlie esmaga os cacos de vidro da seringa com o salto alto. 

— QUE TIPO DE PESSOA VOCÊ É? — é tudo que consigo dizer.

— Tirem-nas daqui — Charlie responde e se retira.

Os tremores de Edith ficam mais violentos, choro por ter falhado com ela enquanto tento fazer o seu corpo ficar parado, inutilmente.

Me perdoe...

As pessoas que estavam segurando Dolores a soltam, noto que ela também está arrasada. Cai no chão de joelhos, se recusando a olhar para Edith. Escorre sangue das suas mãos, vários cacos de vidro perfuraram sua pele quando ela caiu. Alguém joga a bolsa nela, atingindo seu rosto. Algumas pessoas riem, outras até batem fotos. Aquela era uma humilhação por qual Dolores não estava acostumada a passar.  

— DOLORES, EU PRECISO DE AJUDA.

Alguém me segura pelo braço e me levanta, tento me soltar mas não consigo. Em alguns minutos eu Dolores e Edith somos arrastadas para fora da mansão e jogadas na rua, sinto uma dor insuportável no nariz quando minha cara bate contra o asfalto.

— PELO AMOR DE DEUS, ELA ESTÁ TENDO UMA CONVULSÃO. — Escuto Dolores dizer. A pessoa que carrega Edith não a joga como o outro fez comigo, coloca ela no chão como se estivesse levando o lixo para fora e limpa as mãos na jaqueta. 

Levo as mãos ao nariz e grito quando vejo sangue. Dolores olha para nós de forma confusa sem saber como ajudar.

Apesar da dor e de estar apavorada só consigo pensar em Edith 

— EU ESTOU BEM, NÃO SE PREOCUPE COMIGO.

Dolores corre até Edith, sinto que as coisas ao meu redor estão girando.

Não apague agora, Cristina.

Charlie Tem Que Morrer | Completo Onde histórias criam vida. Descubra agora