13 - Edith Nash

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— Bom dia!

Cumprimentei os alunos do ensino fundamental assim que entrei no colégio, mas eles não me deram atenção.

— Edith!

— Oi. 

— Tenho um plano para você falar com a Patrícia. — Dolores sorri.

— Qual é?

— É muito simples, na verdade. Você só precisa falar o que sabe.

— Como assim falar o que sei?

— Você vai dizer a ela que sabe que Charlie a ameaçou.

— Mas e se ela não tiver ameaçado?

— É claro que ameaçou, por quais outros motivos ela retiraria as acusações?  

Já tinha me ocorrido algumas vezes o fato de que talvez as acusações fossem mesmo mentiras. Mas essa ideia nunca durava muito tempo, talvez pela forma como Patrícia tinha me contado as coisas, mas principalmente por que ela não parecia alguém que inventasse algo assim.

Mas e se ela tivesse confundido as coisas? Se tivesse bebido demais e ficado confusa? 

Cristina e eu já conversamos, você vai dizer para a Patrícia exatamente o que eu te disser. 

— Mas e se ela não me ouvir? E se me ignorar outra vez?

— Nós não podemos ajudar Patrícia se ela mesma não quiser se ajudar, o único meio de conseguirmos alguma coisa é fazendo com que ela fale.

— Eu não sei se...

— Preste atenção no que eu vou te dizer, e por favor faça direito. Nada de convulsões.

O sinal toca indicando o início das aulas, tento dividir minha atenção entre a aula de biologia e as instruções de Dolores. Patrícia está no lugar de sempre, a cabeça sempre baixa, tentando ignorar os apelidos e as risadas de Charlie. 

— Você está pronta? — Dolores e Cristina me levam para o lugar combinado depois que o sinal para o intervalo toca. 

— Na verdade, não. Nós não temos certeza se Charlie ameaçou ela, vou está contando uma mentira.

— Se não temos certeza, agora vamos descobrir. — Cristina sorri.

— Eu tenho certeza disso, agora faça o combinado e não tenha uma convulsão. - Dolores e Cristina vão para um lugar seguro onde possam ouvir a conversa sem serem vistas.

Patrícia se aproxima do lugar, o mesmo em que fica todos os dias, está tão imersa no livro que ler que nem percebe que estou esperando.  

— Patrícia...

— Não quero conversar. — Revira os olhos e se vira.

— Sei que a Charlotte te ameaçou.

Patrícia para.

— Sei que retirou as acusações porque ela ameaçou você. 

— Como sabe disso?

Dolores tinha razão. 

— Não importa, quero te ajudar. 

— E como você poderia me ajudar? Se eu retirei as acusações é porque tenho medo do que Charlie possa fazer, não acha? — Patrícia me encara.

— A questão é essa. Não vamos mais pedir ajuda ao diretor, vamos falar com a polícia. 

— E você acha que eles acreditariam em mim? Não tenho nenhuma prova.

Lembre do que Dolores te falou. 

— Nós vamos encontrar provas. 

— Como?

— Tem mais de uma pessoa que não gosta de Charlie nessa escola, essas pessoas podem nos ajudar. 

— Quem não gosta da Charlie? A Dolores?

Sim, a Dolores.

Começo a me sentir um pouco tonta. Patrícia tinha mudado sua expressão de curiosidade para raiva. A ideia de Dolores tinha sido extremamente idiota, é claro que não ia funcionar. 

Por que comecei isso?

— Não especificamente ela, mas outras pessoas podem nos ajudar. Se contarmos para mais alguém sua verdadeira história sei que as pessoas vão...

— E VOCÊ ACHA QUE EU QUERO CONTAR PARA ALGUÉM QUE EU QUASE FUI ESTUPRADA?

— Não foi o que eu quis dizer...

— ACHA QUE EU QUERO QUE AS PESSOAS TENHAM PENA DE MIM? QUER SOLIDARIZAR AS PESSOAS PARA QUE ELAS MONTEM UM BATALHÃO CONTRA A CHARLIE?

— Eu não...

— Acha que eu não tenho medo do que ela possa fazer? Como espera que eu enfrente uma pessoa que colocou um revólver na minha coluna? 

Ela fez o que? 

Minha visão fica turva e meu corpo inteiro treme, antes de cair de cara no chão sinto alguém me segurar. 

Cristina.

Tento me segurar nela e controlar meus próprios tremores, enquanto Patrícia observa Dolores com aflição  

Elas tiveram que sair do esconderijo para me ajudar, minha doença estragou tudo, como sempre. 

— O QUE FAZEM AQUI? O QUANTO OUVIRAM? 

— Você precisa de ajuda, Patrícia.

— Não da sua ajuda!

— Na situação que você está...

— Escute bem, Dolores. Você não vai usar o que aconteceu comigo para satisfazer sua vingança tosca!

Começo a controlar meus tremores. Cristina parecia perdida, seus olhos iam de Dolores para Patrícia. Tentei dizer a ela de alguma forma que tinha que me levar para a enfermaria, mas ainda não conseguia falar. 

— Não quero me vingar de ninguém, quero ajudar você. 

— Você não é muito pior do que a Charlotte, Dolores. Provavelmente estaria rindo com ela agora se não tivesse levado chifres.

Ela tinha entendido, Patrícia era inteligente. Ela tinha entendido que eu tinha contado sua história para Dolores e que agora ela queria usar isso em benefício próprio. 

Enfermaria, por favor...

Patrícia finalmente olha para mim e para Cristina. Consigo virar meus olhos para ela com dificuldade, mas minha visão ainda está turva.

— Patrícia, isso é ridículo. Você está acobertando Charlie — Cristina fala pela primeira vez desde que tudo começou. 

— Escutem bem, meninas. Não se esqueçam disso, para o seu próprio bem. EDITH NASH NÃO SABE GUARDAR SEGREDOS! 

Patrícia sai.

— Enfermaria! — consigo finalmente dizer.  

Charlie Tem Que Morrer | Completo Onde histórias criam vida. Descubra agora