41 - Miriam Ferreira

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O assédio da mídia estava constante sobre o colégio, a cidade esquecida ficou de repente famosa pelo assassinato de uma aluna em plena sala de aula. Fugir de câmeras e repórteres loucas se transformou em um esporte para a polícia e os funcionários da escola.

A arma do crime e as pistas foram recolhidas, sabíamos que a vítima havia sido morta com duas pancadas e o assassino, destro, havia fugido pela janela. O sumiço das chaves do zelador ainda era um mistério, mas eu pretendia investigar pessoalmente. 

Pesquisamos, perguntamos e fizemos o possível para encontrar a família da garota morta. Tudo que descobrimos é que ela vivia com um presidiário chamado Bruno, preso acusado de estupro e tráfico de drogas. Em pouco tempo consegui uma entrevista com ele.

Todos os alunos maiores de 13 anos da Liberty Way foram intimados para o interrogatório, mas estes foram adiados em dois dia, até a segunda.

Quando soube que a vítima era envolvida com um criminoso cogitei a possibilidade de alguém de fora do colégio está envolvido na morte dela. Aproveitei aquele dia para interrogar o tal senhor Bruno Erick. 

— Não estou aqui para julgar você pelos seus crimes anteriores então não omita informações. Estou investigando o assassinato da senhorita Charlotte Daves. 

— Eu sei.

Prestei atenção no rosto dele, estava calmo e impassível para um cara de 30 anos que estava preso acusado de estupro e tráfico. 

— Procuramos por familiares da senhorita Daves, aparentemente o senhor mantinha uma relação com ela. Que tipo de relação era essa?

— Eramos amigos.

Arquei as sobrancelhas, não era a resposta que eu esperava. 

— Preciso repetir que não estou aqui para julgar o senhor?

— Eramos amigos e parceiros...nos negócios.

— Há quanto tempo?

— Quatro anos.

— Ela tinha 13 anos quando começou a "trabalhar" com você? 

— Não, ela já tinha 18.

— Na ficha escolar dela consta que ela tinha 17 quando se matriculou na escola, e que seu aniversário de 18 é daqui a dois meses.

— Charlotte tinha 22 anos, daqui a dois meses ela faria 23! 

Parei alguns segundos para entender a situação, aquele menina era mais complicada do que eu pensava.

— Sabe porque ela falsificou os documentos?

— Era um esquema.

Acenei para que ele continuasse contando. 

— Charlotte se matriculava nas escolas e atraia os adolescentes para... comprar drogas. Quando ela conseguia um número X de clientes saia fora e partia para outra. 

— Ela fez isso desde que tinha 18 anos e em muitas escolas?

— Sim.

Isso aumentava consideravelmente o número de inimigos que aquela moça devia ter. 

— Como se conheceram?

— Ela veio me procurar porque precisava de casa, trabalho e não tinha para onde ir.

— E quanto aos pais dela ou parentes próximos?

— Ela era órfã. Veio me procurar depois que o orfanato em que vivia fechou.

Nesse caso aquele orfanato seria meu próximo passo. 

— O senhor suspeita de alguém em especial?

Ele acenou negativamente, sabia que não ia mais conseguir nada com aquele senhor. Fiz algumas perguntas rotineiras e terminei o interrogatório antes do meio dia. 

Logo ao chegar na delegacia pesquisei sobre as antigas casas de acolhimento para crianças. Naquela cidade havia tido apenas uma, e uma criança identificada como Charlotte viveu lá parte da infância e toda a adolescência. 

— A antiga tutora do orfanato é uma senhora chamada Sophia Agatha, tem 68 anos e ainda mora nessa mesma cidade. — James me entregou um papel com o endereço e uma ficha com informações sobre o orfanato.

— Bem, vamos tomar um chá com a senhora Agatha. 

— Não seria melhor a senhora descansar? Vai interrogar muitos alunos na segunda.

— Sozinha não. Quero interrogar pessoalmente apenas os da sala dela, os que a conheciam. 

— A senhora acha que foi mesmo um aluno? 

— Tenho quase certeza, mas temos que saber mais sobre o passado de Charlotte antes de continuar. 

Charlie Tem Que Morrer | Completo Onde histórias criam vida. Descubra agora