Era uma manhã nebulosa, triste, fria e monótona, gostaria de dizer a você que era um dia maravilhoso, esplêndido, radiante, alegre, onde os passarinhos cantavam e o único sentimento era tão puro, que não se podia identificá-lo, pois era uma mistura de todas as coisas boas, era como uma manhã de Natal pintada em filmes hollywoodianos, mas seria uma enorme mentira, gostaria de ter um funeral assim, com pessoas felizes em total harmonia, mas não... Fúnebre o ar estava triste, o vento inerte, sufocante até.
Toda sua calma e tamanha cede de meu eu, eram eminentes, como tudo, sufocante, deixando tal cenário magnificamente convidador, para uma mente maníaca e fraca no momento, pois a vida já tinha engolido meu eu aos poucos e eu, o próprio "braço direito" ou como conhecido "alter-ego" tinha dado o empurrão final.
Assim, nas entranhas deste monumentoso cenário meu eu quis participar, acanhado ficou com medo, eu como um alter-ego ajudei, recitei lindamente o pior dos conselhos:
"Viva a vida, não deixe ela te viver, abra os portões e abrace as oportunidades, o diferente e o novo são bons, não tema pelo desconhecido, convide-o e faça-o teu amigo".
Dado em outro contexto, meu conselho não seria um estopim como foi, mas neste caso, de um eu devorado pela vida, como ele se declarava sentir, não veio a calhar.
Todo o monumentoso cenário e meu conselho pareciam estampar a frase: "Se entregue, pois seu funeral já está acontecendo", hoje vejo que errei, admito um certo sentimento egoísta, nada incomum, já que me consideram um alter "ego", meu único desejo era sair da sombra de um ser fraco, inferior, inerte na vida, sem vida, pobre, perdedor, desejava com todas as forças, respirar o ar mais gracioso da dádiva da vida, não queria desperdiçá-lo como estava ocorrendo, queria gritar para todos, desfrutar o mundo, a vida, as pessoas. Mas diante de tamanho gozo, vi que a única razão de vivermos, é termos a certeza da morte, o resto é resto, vivemos para morrer, a vida é apenas o período entre seu primeiro suspiro ao nascer e o último ao morrer, digamos que nossa existência com a vida, são os efeitos colaterais de sentimentos, momentos, pessoas, lugares, as coisas que nos fazem criar um espaço no universo de tantas vidas.
"Desculpe! Já dá para perceber meu arrependimento, mas, é exatamente como me sinto, uma existência".
Matei meu eu!
O fiz abraçar a esperança de uma nova vida nos confins da escuridão, abri as portas para mim e fechei as dele, abusei da vida, pois nunca aceitei as barbaridades vistas com os maus olhos do meu eu completamente cego. Mas hoje, como já disse, não gostei do que estava vivendo, ele estava certo, depois do barulho, o silêncio, e é tão ensurdecedor que nos fechamos do mundo sem nem mesmo querer. Esta era a vida, esta é a vida.
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Dois Lados de Mim
General FictionA história de um EU e um Alter-ego. A briga entre dois seres opostos para ver quem sobressai, quem reina em primeiro plano nos olhos da vida. Um alter-ego frio, calculista e maquiavélico. Um Eu depressivo, cansado e farto dos sussurros internos de s...