Escuridão: O Despertar

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"Saúdem minha chegada, faz um ano que estou a caminhar nesta estrada!".

Hoje estou comemorando. À 365 dias atrás eu nasci de mim, tomei meu lugar por direito e resolvi por aproveitar o que antes era só uma nuvem e desejos. Sou alguém diferente hoje, admito! Talvez mais forte e mais decidido do que antes fui, porém reconheço que descobri uma fraqueza a qual não conhecia em meu próprio ser. É como dizem, todos são capazes de tudo, e ninguém conhece ninguém. Quem diria, eu seria um desses seres ninguém? 

Minha fraqueza foi descobrir que sou meu próprio inimigo, assim como meu EU foi para si próprio. Conseguem entender? Não? Vou explicar... 

Estava eu caminhando e me deparei com um assassinato feito com arma branca, lógico que o fogo em mim se acendeu para manter-me a olhar a cena e não intervir como qualquer um faria, de fato eu olhei, sorri e apreciei, porém quando pousei minha cabeça a descansar, a cena se repetiu e todo o sangue que vi, tomou minha mente como se embriagasse-me de álcool com sabor de ferro e vermelho como o sangue do tal assassinato que nem mesmo participei ao lado. Me assustei, admito. E para eu admitir algo, é preciso muitos argumentos a me levar a crer em algo sem corpo físico. 

Enfim, não dormi. 

Só vi o sangue me afogando a cada noite, e depois de incansáveis insônias, passei a ver o meu próprio nascimento como assassinato. Não era mais um dia feliz, não era mais a escuridão brilhando sobre a luz, não era mais eu tomando o lugar do meu EU, não era mais nada de bom que criei para justificar quem matei e como matei. 

Reconheci. Sou assassino, como qualquer um que mata sem lei. Eu matei.

Sentimentos aos quais eu não conhecia se afloraram, e se os desagrados já me perturbavam, imagine eu sendo afogado por uma culpa que nunca imaginei sentir, por um medo que já mais existiu, por uma dor que jamais doeu, por um arrependimento de fazer o que fiz para ser quem eu sempre quis.

Doeu.

Dói.

As memórias dos tempos que vivi no escuro me bateram ao nocaute de mim mesmo. O pior, foi lembrar da vida nos olhos daquele que vivia antes de ser apunhalado por seu próprio ser contador de mentiras. Eu e ele já tivemos uma vida coexistida.

E logo, as palavras do Amor viraram em 180 graus a faca já então apunhalada.

"Mata-se por amor. Morre-se por amor. Nasce-se por amor. E você, você irá cair por amor, renascerá por amor e morrerá novamente, não negue, seu egoísmo clama pelo desconhecido que tanto nega".

Eu matei meu EU por um amor egoísta a vida que não tinha. Ele morreu por um falso amor. Meu falso amor.

E o inesperado aconteceu, no ano da comemoração de meu um ano, o despertar dele se fez presente no meu consciente.

"Voltei"

Anunciou ele como se não tivesse passados meses. E lógico, me calei em paralisação por não ter reação. Foi um querer não querer, eis nossa questão. Viver ou Morrer?

"Não me saudará?" - Perguntou.

"Não".

"Então continue a caminhar, temos seus olhos e os meus, quero viver como você viveu, através dos olhos do EU".

E assim, a cada passo que dei, seus olhos viram como eu já havia visto, e não sei o que aconteceu, mas meu mundo ruiu no momento que a culpa me atingiu e meu EU anunciou uma volta pacífica, como se esperasse que eu desistisse em agonia, já que a paciência não era minha amiga.

Dei-me paciência, porque não se ganha a força um ser positivista.

Paciência meu ego. Paciência.

Dois Lados de MimOnde histórias criam vida. Descubra agora