Nem sei dizer quantos dias passaram que eu ando caminhando embriagado e alucinado, sei que minha promessa era exatamente essa, sei que queria ir além de mim e reprimir qualquer resquício de você em mim, meu eu. Mas, agora vejo o resultado, fiz você se perder de você, e agora também fiz eu me perder de mim, como é possível? Fazer tudo que fiz, afirmar quem sou, e deixar o caminho me levar a caminhos que me fizeram abraçar a perdição? E por perdição quero dizer exatamente isso, estar perdido, desencontrado da minha verdadeira essência, mesmo que não seja uma boa essência. Cá entre nós, de bom eu não tenho nada, tanto que eu me comparo a escuridão, e é isso que sou, o rei das trevas no meu próprio mundo, sempre recrutando aliados e fazendo eles caminharam com as trevas ao meu lado, e de tão convincente que sou, lhes mando levar um tiro por mim e eles levarão de bom grado.
Todo caso, ao longo dos dias que acredito que se perderam em meses, não me recordo em que tempo o caminho se deslocou, enquanto eu seguia meu rumo, vendo as luzes se apagarem, o ar levantar calafrios, os gritos aumentarem e sussurros virarem conversas de malandragem eu virei qualquer esquerda e tive um blecaute.
Deveria me acostumar ao blecaute da alma, já que a ausência dela é exatamente o que me guia, as trevas, mas tudo que lembro é um sussurro na minha mente dizendo "você é covarde, veja!" e logo depois... Blecaute.
O que é isso?
Não sei distinguir a voz sussurrada, não sei descrever os acontecimentos, nem mesmo me lembrar dos caminhos que me levaram. É estranho, como uma falta de memória, embora eu lembre de toda a discórdia, bagunça, libertinagem, luxúria e loucura de tudo que passei, mas não me lembro dos sentimentos, eu sei que os abomino, mas eu queria sentir nem que fosse a dor, para saber que estou vivo e que ainda caminho, mas aparentemente nem isso.
Hoje anseio a dor de qualquer sentimento, queria até ser um idiota apaixonado e ter o coração quebrado, só para eu sentir os estilhaços em mim, mas nem digno a isso sou, sei que espantei o amor, espantei a esperança, mas a dor, a dor eu a queria, já que ela me dizia o quanto a vida me doía e se mostrava maligna ao brincar com as almas. Me chame de idiota, eu deixo! Mas a dor me mostrava que eu estava perdido, mas que estava em casa, já sem ela, não sei onde estou, ou acho que sei, não sei.
Talvez eu me perdi em mim, e como não tenho nada e ultimamente não sou nada, o buraco sem fim que transformou minha alma virou um buraco negro sugando cada milímetro de sentido, mesmo que seja um sentido de dor, ou até mesmo o sentir do vácuo que habitava em mim. Pelo menos quando não tinha nada eu sabia que existia um nada. Hoje nem ao menos o nada é sentimento, e não sentir nada, me leva a crer que estou morto e não quero estar morto.
Será que morri? Por isso o blecaute em mim?
Não posso ter morrido, eu não aceito qualquer tipo de morte perante a mim, eu vejo ainda, eu ainda consigo caminhar, que morte é essa que me permite andar? Não devo ter morrido, não estou morto! A morte é um absurdo! Tanta luta para viver e do nada morrer e nem sentir a morte se aproximar e me levar? Quero ao menos o prazer do último suspirar!
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Dois Lados de Mim
General FictionA história de um EU e um Alter-ego. A briga entre dois seres opostos para ver quem sobressai, quem reina em primeiro plano nos olhos da vida. Um alter-ego frio, calculista e maquiavélico. Um Eu depressivo, cansado e farto dos sussurros internos de s...