Dois Lados de Mim

Reviva à Escuridão

A Escuridão

Eu ouvi, nos confins de mim, eu ouvi.

Inacreditável! Esta é a única palavra que consigo dizer, repetir e sentir. Como um susto, que te pega de surpresa em um grito estourando seus tímpanos.

Como pode? Que nome será isso? Eu agora sinto!

A vida entrou sem luz, sem escuridão, sem emoção, mas entrou! No momento da minha infinita inércia o suspiro que me levou, me trouxe no reviva.

REVIVA!

E eu revivi, e eu acordei, e eu, mesmo sem sentido, senti a vida correndo sob e sobre mim. Inacreditável! Nem quando me considerava vivo, sentia tanto quanto estou sentindo. O que será isso? Eu ouvi um "acorde" longínquo se aproximando e me mandando. Quem ousou mandar em mim? Quem ousou perturbar meu inferno? A única inacreditável, simples, ingênua, e nenhum pouco plausível resposta é Meu EU. Quem diria... No meu reviva os valores que condenei, me fizeram repensar, querer abraçar e usar, já a essência que cultivei em mim, evaporou ou ficou para trás no vácuo inferno da minha ex estadia, e como consideração também não gostaria de buscá-la ou reacordá-la, me trouxe as chamas do inferno a me fez queimar sem carbonizar.

Indo contra meus princípios, quero reviver e não mudar, porque ninguém muda, todos melhoraram e a isso vou me entregar. Ainda serei eu, ainda tenho minha escuridão, meu terror e anseio por discípulos que me sigam, mas hoje, hoje procurarei ser aquele que teve a segunda chance de vida, porque somente eu sei o sofrimento, a angústia, a dor sem doer, a morte sem morrer que vivi. Doeu e ainda dói em mim.

Repito reviva.

Repito reviva.

Mantra de uma nova "vida".

Nego a sobrevivência, nego a eterna vida, nego toda a escuridão que me habita. Mas sou viciado, embora serei um assumido sem recaída. E neste primeiro passo, sou somente admissões, revelações e perdões.

Sou assassino. Sou psicopata. Odiava e invejava meu EU. Ansiava a vida de forma egoísta, queria ser governante de um mundo baseado no meu narcisismo. Revelo que a escuridão me pertence, que sou tão dela quanto ela de mim. A escuridão me queimou no fogo do inferno, e a fumaça me rodeia até hoje na eterna tentação, infeliz vício do poder querendo se emponderar. Por fim, peço perdão pelos pecados, aos seguidores devastados, aos perdidos que me seguiram, aos fortes quebrados, aos iluminados apagados, e o mais importante...

"Desculpe meu EU por ter te empurrado, assassinado, cantado poesia na sua nem tão fúnebre partida, gostado, apreciado, comemorado e acima de tudo, não ter te respeitado. Perdão"

E agora, este sou eu... Não um alter-ego arrependido, porque quem eu sou, faz parte de quem eu fui, e se sou o que sou, é porque já fui o que era, e se meu passado me fez ser melhor, não há arrependimentos na melhora, e sim comemorações nos novos olhos e horizontes que a mim me foram dados, como dádiva, como reviva, como segunda chance, daquelas bem clichês que antes eu ria. É como dizem, irônica essa vida.

Vamos...

Agora eu acordei, e este é meu REVIVA.