Acredito que nos entendemos, na caminhada diária o EU se calou nas minhas viagens. Sou consciente que boa parte das minhas atitudes não lhe agradaram, mas aprecio a quietude de quem sabe não ter forças para debater, ainda mais comigo, o dono do nosso destino.
Não comentei da culpa que me atingiu, dos sentimentos que viviam me batendo, nem das noites que fingia dormir para que ele não me visse a sucumbir. Porém desconfio que saiba, mesmo não dizendo. O que é melhor. A verdade falada se torna mais concreta que minha própria existência, e não quero discutir existencialismo com alguém que desistiu da vida e se deixou levar por uma falsa esperança de um ego prometedor de uma nova boa vida. Eu sei que fui e sou falso, mas deixemos isso de lado... Ele não se incomoda, não será eu o incomodado!
O bastardo é paciente e onipresente, mesmo que me faça acreditar que não está lá, ele está. Então nada que antes eu fazia com o mais puro prazer, me traz o ápice que antes eu encontrava só de realizar minhas maldades. Um tormento sem gritos do meu ser.
Foram-se dias, meses assim, o EU silencioso e eu gritando no escuro do vácuo do meu próprio espaço. Nem um som para me alegrar, já que até meu tormento eu quis calar, envergonhado por não admitir erros passados e impotência futura. Sim, a vida me pegou como pegou meu EU!
Me pergunto, como?
Não deixei o positivismo, a esperança, a felicidade e o lado bom das coisas me afetarem, não abri espaço para o sentimentalismo que meu EU acreditava ser necessário para viver pleno e ser alguém. Prefiro por ser ninguém, embora esse ninguém se tornou algo incomparável e inexplicável.
Não gostaria de usar tal palavra, mas usarei do meu modo mais obscuro de ser. Eu fui pleno na minha própria plenitude, isso garanto! Só que meu EU acordou bem nos dias que se seguiram meus desagrados, então foi uma avalanche, fui pego na minha plenitude. E dessa fase difícil, ele com sua paciência foi calmo, não abriu a boca, não fez comigo o que fiz com ele, não me empurrou do penhasco, não me afogou no meu poço, apenas esperou e com simples palavras me desarmou.
"Compaixão, esse sou eu te perdoando com meu coração".
E sem mais eu chorei, chorei não as lágrimas do crocodilo que me habitava, mas a de uma criança quando nasce e leva palmadas para se despertar. E nisso, meus gritos saíram do meu vácuo e foram ouvidos.
AHHHHHHHHH esse é meu grito!
E no meio do caos que em mim se instalou, a escuridão se acendeu com uma luz que nas palavras do meu EU se chama compaixão e perdão.
A luz ilumina minha escuridão, e agora estou perdido. Como alguns dizem "sem chão", não sei o que será de mim, já que não sei mais quem eu sou, não me aprecia ser o que já fui e não quero desistir como já vi desistirem incontáveis vezes...
VOCÊ ESTÁ LENDO
Dois Lados de Mim
General FictionA história de um EU e um Alter-ego. A briga entre dois seres opostos para ver quem sobressai, quem reina em primeiro plano nos olhos da vida. Um alter-ego frio, calculista e maquiavélico. Um Eu depressivo, cansado e farto dos sussurros internos de s...