A Escuridão
Estou no escuro de mim mesmo. O quão ruim isso pode ser? Já tentei acalmar meu espírito, minha mente, meu corpo, tentei de tudo, e nada, nem um resquício de qualquer sentimento ou qualquer lembrança daquela noite que iniciou minha festança.
Será um castigo?
Já pensei em tantas hipóteses, mas nada me ilumina, hoje, pela primeira vez na vida queria uma luz e uma lembrança, nem mesmo meu EU me respondeu quando o chamei, e até mesmo quando lhe gritei, estou convencido que me matei, ou voltei ao breu só que mil vezes pior que eu vivia antes de nascer.
Aquelas palavras me assombram, quem ousaria me chamar de covarde, somente um estúpido que não teme pela própria vida, somente mesmo! Pensando bem, o que eu deveria ver?
A voz disse "você é covarde, veja!", o eu que deveria ver? A única coisa que vejo é a ausência de qualquer sentido, não há mais nem sentido em causar escuridão e medo, não existe mais nem a chama de iluminação que eu lutava a ofuscar com meu negro brilho.
Devo estar cego, uma cegueira interna. Eu disse que poderia ser um funeral, mas mortos não conversam com si ou discutem teorias de sentidos, não é mesmo?
Morto eu não devo estar, já que a caminhada sem sentido eu já venho fazendo a não sei quanto tempo, já que até a noção de tempo e espaço me foram tomadas. Estou convencido, devo ter sido assaltado, do tipo que levam seu espírito e lhe carregam a alma para o vale dos condenados. E olhe, eu não acredito em cemitério de malditos, mas estou tendo quase certeza que me roubaram como eu roubava a luz dos forasteiros iludidos.
A Luz
O sussurro foi meu, pedi que meu alter-ego visse o que tanto ignorava ver e não dava importância, ele quis fazer festa e se banhar em luxúria, se embriagar, ficar louco e perder a noção dos pensares da sua mente, tanto quis que conseguiu, não temi pela sua morte, ou pela nossa, mas algo muito pior aconteceu, ele se perdeu. Parece pouco?
Quão desesperador você acha que é estar perdido? Sozinho? Sem noção de tempo e sentimento?
Nem para meu pior inimigo eu desejaria perder os sentidos, por este e por outros motivos eu tentei salvá-lo de si próprio. Em vão. No estado que ele se encontrava o sussurro foi mais um estopim do que aviso, ele ouviu e ignorou, talvez achou que eu estava clamando por misericórdia ou pedindo perdão, mas não, foi um alerta, porque na caminhada cega que ele fez, seu destino se deu no mesmo abismo que ele me empurrou. Ele não sabe, mas o alter-ego de um assassino se tornou suicida, sem precisar de quaisquer palavras ou empurrão, ele próprio caminhou até a beirada e se jogou.
Não se ouviu nenhum grito, mas como ele mesmo disse, sua festa poderia ser um funeral, tão quanto poderia que foi. Ele pulou.
Digo de novo. Ele pulou. Passou de assassino à suicida.
O alter-ego que se dizia forte e fazia pose de durão, se deixou levar em sua própria escuridão, tão vazio quanto o negro espaço, teve seu próprio buraco negro, foi sugado. Falou tanto de mim, se perdeu como nem eu me perdi, se não fosse trágico seria cômico, eu riria sobre seu túmulo e ainda faria sétima missa pro meu querido defunto.
Mas tenho coração, ele é bom e ainda pensa em salvá-lo, eu consigo sentir o desespero de sua solidão, querendo jogar uma corda e tirá-lo do fundo do abismo e ainda dar-lhe um abraço, sou patético, eu sei, ele me matou e eu quero salvá-lo.
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Dois Lados de Mim
General FictionA história de um EU e um Alter-ego. A briga entre dois seres opostos para ver quem sobressai, quem reina em primeiro plano nos olhos da vida. Um alter-ego frio, calculista e maquiavélico. Um Eu depressivo, cansado e farto dos sussurros internos de s...