A Escuridão
Estou convencido, estou pagando meus pecados nesta caminhada sem fim.
Estou morto e conhecendo meu inferno pessoal, trouxeram anos da minha vida que vivi sendo espectador do meu EU e juntaram ao meu desejo de não sentir, e aqui estou, caminho no breu insensível do meu ser, e como nunca pensei, é horrível e dói na alma que jamais pensei ter.
É estranha a sensação, ela dói sem doer. Mata ser morrer. Machuca sem ferir. Devo ter sido muito ruim, já que meu fim será viver assim.
Tive minha vida interrompida por mim, reconheço que de assassino virei suicida, reconheço que apunhalei pelas costas eu e meu EU, meu egoísmo é uma cobra, peçonha infeliz esse carma que existe em mim.
Terminei com duas vidas sem motivo algum, minha estadia é mais que bem vida neste purgatório, até isto é mais digno do que meu ser imundo e bandido. Ladrão de sonhos, ladrão da luz, ladrão da esperança, ladrão de vidas.
Este sou eu, ladrão de vidas.
Não teria termo mais digno para nomear o que me tornei, e por falar em dignidade, só me resta nomes chulos para expressar o que daqui em diante serei.
Um condenado.
Um eterno.
Um assassino.
Um suicida.
Um covarde.
Matei vidas, matei minha vida e matei sua companhia.
Interrompendo o mais belo ciclo, aquele que nasce com um suspiro e se finda com o mesmo, levando a luz e a vida, trazendo a morte e a escuridão do sono eterno sem sonhos. Até minha declaração é mórbida.
Desliguei-me da vida, sem dor, sem último fôlego, sem adeus e agora abraço meu próprio demônio no meu próprio inferno.
Sou covarde, quis tudo e não lutei por nada. E sem luta, jamais se vence batalhas. Desertor da minha própria guerra paralela, nasci covarde e morri pior ainda...
Adeus dignidade.
A Luz
Não deveria ter coração bom e pensar com a emoção.
Fui morto por um traiçoeiro e agora a esperança positivista que ele quis tanto matar me chama a dias para fazê-lo acordar, é como se cometesse traição comigo mesmo, a razão diz não, mas o coração pede por perdão, onde irei parar se a ele ressuscitar?
Minha vida foi interrompida, fui apagado em um blecaute na minha mente e vivi como co-protagonista da minha própria existência, vendo tudo que antes era esperança, paz e amor ser jogado no lixo e consumido por trevas de alguém que não sabe o significado de ter valor.
Agora me pergunto, porque tenho que dar fim ao blecaute, a interrupção e ao coma do meu alter-ego? Melhor optar a dormir com ele, aliás, já tivemos até uma festa de funeral, porque evitar concretizar seu último pedido? É como ler o testamento e assinar embaixo dos seus últimos desejos.
Mas no final de todos os pensamentos, os únicos que prevalecem é que mesmo com toda a escuridão, eu jamais deixei de ser quem eu sempre fui. E mesmo que a vontade seja assinar, enterrar, deitar e lhe abraçar na escuridão, vou rasgar o testamento, cavar a terra com duas pás e pegar um despertador que tocará na terceira badalada da madrugada, o recebendo feliz na sua volta ao mundo depois de todo o ódio vivido no seu próprio purgatório.
Fomos interrompidos, mas agora interromperei seu martírio. Somos um, e hoje, ele virá comigo.
"Se atente, na terceira badalada da madrugada siga a única luz que mandarei em seu caminho meu querido".
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Dois Lados de Mim
General FictionA história de um EU e um Alter-ego. A briga entre dois seres opostos para ver quem sobressai, quem reina em primeiro plano nos olhos da vida. Um alter-ego frio, calculista e maquiavélico. Um Eu depressivo, cansado e farto dos sussurros internos de s...