Uma semana havia passado desde a visita de Killua a casa dos Grace. Pelas redes sociais Martin procurou nos perfis de seus colegas da escola sobre o acidente e ficou sabendo que Jorge e Juca haviam melhorado e iriam sair do hospital em breve. Não havia encontrado mais notícias sobre Carlos ou Daniela, apesar de ter procurado muito principalmente pela garota. Não tinha coragem de mandar mensagem para ela, então a única solução era ter informações de terceiros. Pelos comentários dos alunos, a explosão tinha sido de um carro estacionado em frente à escola e o motivo dela não havia sido encontrado até então. Isso não era surpresa, tinha certeza que a causa de tudo aquilo fora ele.
Sua mãe havia contado tudo o que acontecera a seu pai naquele mesmo dia quando ele voltou para casa. Aparentemente ele também não sabia muita coisa sobre o passado de sua mãe ou teria sido instruído por ela a não falar porque, quando Martin perguntou, ele apenas disse que sabia que ela fazia parte de uma comunidade semi-bruxa e que também possuía magia e havia se afastado da família antes de tê-la conhecido. O que deixou Martin mais irritado porque sabia que poderia extrair informações mais facilmente de seu pai. E mesmo com várias outras investidas, sua mãe foi relutante em dar maiores explicações sobre seu avô, mas com relação aos seus pais ela estava mais flexível.
" Sua mãe era uma cabeça dura, fazia sempre o que queria e nunca me escutava. Nem o próprio marido, o seu pai, segurava ela. Se ao menos tivesse me escutado aquela vez... ela poderia estar viva. Você me lembra muito ela. " Comentou certa vez.
Ela ainda contou diversas histórias sobre sua infância com a irmã, mas pouco mencionava seu avô e o porquê do afastamento repentino da família.
Mas o que mais havia incomodado Martin nesta semana era a resposta, que ainda não tinha, para o convite que recebeu. Era mais difícil do que parecia. Sua vontade de conhecer mais sobre esse mundo, sobre si mesmo e até sobre sua família aumentara, mas o medo também. Afinal havia um louco, solto por aí, atrás dele e ninguém conseguia dizer direito o porquê.
Ele fitou aquela carta pela milésima vez naquela noite. Não havia outro jeito. Teria que aceitar e investigar por si próprio toda aquela história. Além do mais, se havia mesmo alguém querendo mata-lo, tinha que aprender a se proteger de qualquer maneira. Pegou uma caneta de nankin pois achou que uma comum rasgaria o papel fino e assinou no final, dobrou e, com ele em suas mãos, saiu do quarto e desceu as escadas até a sala onde sua mãe geralmente descansava no final da tarde. Ela estava distraída lendo um livro quando ele entrou.
- Mãe?
- Oi filho – disse ela reparando a presença do filho e fechando o livro.
Martin respirou fundo e sem dizer nada entregou a carta a ela. Ela hesitou um pouco mas tomou o papel das mãos dele e abriu reparando na assinatura.
- Têm certeza que é isto que você quer? – Perguntou ela.
Martin afirmou com a cabeça.
- Está bem, vou mandar para o Killua – E dizendo isso pegou seu celular, acessou algum tipo de aplicativo e posicionou como se fosse tirar uma foto do papel. E realmente tirou. Mas ao invés de somente aparecer uma fotografia no celular, a carta desapareceu de sua mão. – Pronto. Agora é só esperar que ele responda.
Martin fingiu que aquilo era a coisa mais normal de se ver.
- Não vai me dizer nada? - Perguntou ele. "Se fosse levar alguma bronca que fosse naquele momento", pensou.
Lilian o encarou por um tempo.
- Não. Pensei muito e, acho que é melhor você ir. Agora que descobriram que você já tem seus poderes precisa aprender a se defender antes que ele venha atrás de você e te.... – Ela não pode terminar a frase, mas não era preciso, Martin entendeu o que ela queria dizer.
O celular tocou um som de notificação, diferente do habitual que sempre tocava quando sua mãe recebia mensagens dos amigos.
- Ele recebeu. – Ela disse lendo a notificação - Você já está matriculado na academia, parabéns.
Aquela felicitação não fora nada animadora, soava mais como uma decepção.
- Está bem, eu vou para o meu quarto então. – Ele ainda não tinha superado as mentiras que sua mãe contara durante sua vida toda, mas entendia a preocupação dela.
No resto do mês a relação com seus pais foi bem diferente do habitual. Sua mãe continuava com o ar de decepção e tristeza todos os dias e seu pai tentava anima-la e fazia um intermédio entre Martin e Lilian já que quase não se falavam. Até mesmo o assunto de seus pais biológicos esfriara e o garoto parou de perguntar sobre eles, já que sua mãe não respondia com a mesma empolgação de antes.
Com o passar dos dias Martin começara a ficar ansioso afinal não sabia nada do que teria que fazer. O que teria que levar para a academia, se teria que comprar algo especial, e se tivesse, onde compraria objetos mágicos? E mais importante, onde ficava essa tal academia e como chegaria lá?
Como sua mãe não parecia nada interessada em falar, Martin achou que, para o seu próprio bem, não tocaria no assunto da academia até que chegasse perto do dia da partida, uma semana e meia antes da data de início de seus estudos resolveu que iria pegar escondido o contato de Killua no celular dela. O que não resultou em nada. Conseguira, por um milagre, pegar o aparelho quando ela se distraiu e o deixou largado na sala de jantar, mas não encontrou nenhum contato de Killua ali. Procurou em todos os aplicativos por alguma coisa, mas em nenhum deles havia mensagens e nenhum histórico de contato dele. Achou estranho mas largou o aparelho onde encontrara e não falou nada com sua mãe. Achou que deveria esperar mesmo, afinal se ele não aparecesse na academia com certeza Killua iria vir atrás dele para saber o que tinha acontecido. Pelo menos ele achava que iria.
No último dia antes do começo de seus treinamentos, Lilian finalmente foi falar com o filho enquanto ele jogava videogame no quarto.
- Martin.
- Oi? – Respondeu ele surpreso, afinal fazia dias que não se falavam direito.
Continua na parte 2..
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Guardião e a sociedade secreta - Livro 1 (COMPLETO)
FantasyVocê gostaria de possuir magia? E se o método para obtê-la fosse obscura e perigosa e afetasse inúmeras gerações? Martin, um jovem que achava que era tão normal quanto seus colegas de escola, terá que corrigir o terrível erro de uma sociedade enquan...