Capítulo 6

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"Burocracias, Senhor, como bem sabe

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"Burocracias, Senhor, como bem sabe. Philcrocks não é seguro. Entre os feiticeiros corríamos o risco de termos outro sabote", disse um homem, o mais atarracado das quatro figuras, a medo, baixando a cabeça como se demonstrando respeito.

"Sim, Gaston, está certo..." Disse o homem atarracado. Também ele parecia proferir as palavras com relutância. Gaston... Gaston... aquele nome era-me familiar, tinha-o ouvido recentemente, mas não sabia onde.

Gaston continuou "Vivemos tempos conturbados em Philcrocks. Um sabote não era benéfico para a imagem do rei de momento". "Mesmo vir aqui, Senhor... é arriscado..."

"O que poderia ser arriscado no mundo dos humanos." Disse o homem de quem todos pareciam ter medo e de quem guardavam uma distância respeitosa. A sua voz era grave e firme, impunha respeito mesmo parecendo ter achado piada ao que... Gaston... disse. "Não há seres mais inofensivos...".

Fiquei confusa... falavam dos humanos como se não fossem humanos. Alguém tinha levado demasiado a sério esta coisa do cosplay ou os homens estavam numa espécie de delírio colectivo.

Gaston parece ter engolido algumas palavras e o corvo parecia fazer uma vénia sempre que o dono se dirigia ao homem alto.

O homem atarracado fez um esforço por subir para um dos bancos altos junto ao balcão. Depois uma garrafa da vitrine para onde olhava e 4 copos lavados voaram até ao balcão. Espera, voaram? Não. Olhei em volta mas mais ninguém parece ter reparado.

"Lá nisto os humanos são melhores que os sleves ou feiticeiros, fazem o vinho melhor que há..." Disse com uma voz ressonante e simpática e pegou no copo que a garrafa que levitava encheu primeiro. Nem a garrafa suspensa no ar parece ter atraído as atenções.

Gaston clareou a voz, parecendo tentar ver-se livre mais do medo do que algum catarro. Por baixo do capuz vislumbrei um homem de feições austeras de meia idade. Os seus cabelos escuros pelos ombros confundiam-se com o traje. "O mundo humano já não é seguro como bem sabe senhor... desde há largos anos que há ataques, você sabe perfeitamente que procuram.... bem... aquilo que nós sabemos..."

O homem alto virou-se na direção de Gaston. O capuz envolvia a sua cara na escuridão.

Gaston pareceu necessitar de clarificar desajeitadamente. Não devia ter mencionado aquilo. Não àquela pessoa em quem ele não confiava completamente.

"A pedra." Sussurrou, inevitavelmente. Os restantes homens, à exceção do homem mais alto, pareceram encolher-se com a palavra. "Feiticeiros cometem atrocidades em busca da p... daquilo... do poder que aquilo detém... o poder é uma das armas mais letais, ultrapassado pela ganância, contudo"

O homem alto pareceu ignorar o esclarecimento, indiferente ás palavras de Gaston. A sua postura permaneceu impávida, os demais mantinham uma distância respeitosa. Após algum tempo, o homem, que pareceu aborrecer-se a observar o ambiente dirigiu-se aos companheiros. "Amanhã no porto, senhores". E num momento estava ali, no momento seguinte não estava. Olhei rapidamente em redor, mas nem sinal do homem.

O quarto homem, que permanecera calado até agora dirigiu-se a Gaston. "Devias ser mais cuidadoso nas palavras, Gaston. Marchal é poderoso e isso faz dele perigoso..." sussurrou, olhando para a porta, temendo ser ouvido. "Não sabemos do que é capaz."

Gaston pareceu perturbado com as palavras pela forma como bebeu um copo de vinho num movimento impetuoso e se levantou.

"Pobre príncipe Caradan" fungou o homem atarracado. "Tão bom rapaz... tão novo para... morrer... assim..." O homem pegou no copo de vinho e pareceu beber a sua mágoa.

"Se ainda cá estivesse... nada disto era necessário" disse o homem do corvo. O animal baixou a cabeça num movimento pesaroso.

Abanei a cabeça, tentando afastar aquele pensamento tonto. Lara, os corvos não entendem conversas.

"É verdade que houve ataques de magia Zelve, também aqui, entre humanos?" perguntou num sussurro o homem de altura média e costas corcundas a Gaston.

"Temo que sim, Alquis, Philcrocks já não é segura... nem o mundo humano. Eles não vão descansar enquanto não encontrarem a... o que procuram..." O homem clareou a garganta como saindo de um devaneio. "Não devíamos estar a falar disso aqui. Qualquer um nos pode ouvir."

"Os homens trocaram algumas palavras mais baixo, de forma que nem mesmo aproximando-me os consegui ouvir. Num momento o homem atarracado saboreava o seu vinho, no outro olhava para um jornal que apareceu do nada à sua frente. Quase me desequilibrei do banco onde me sentara. Ninguém parecia reparar no estranho grupo.

"Lara!" Alguém gritou, abanando uma mão à minha frente. Dei um salto no banco em que me sentava, saindo do transe em que me encontrava. Os olhos de Aile arregalaram-se e olhou para onde olhava momentos antes tentando compreender algo.

"Já te chamei algumas vezes! Para onde estavas a olhar? Há um rapaz? É giro? Não vejo ninguém!"

"Ah, nada, só um grupo de homens estranho, vês, aqui ao lado, capas negras, capuzes"

Aile semicerrou as sobrancelhas na minha direção. "Lara, não vejo ninguém com essa descrição! Não está ninguém ao balcão!" Zeck que aproximara também não parecera reparar nos três indivíduos encapuzados. Estaria eu a ficar maluca? Tentei ignorar o meu coração que acelerava. Eu realmente precisava de uma bebida mais forte. Já era tarde quando Aile saiu com Gordon e Zeck me deu boleia para casa. Olhando para trás, os três homens de capas pretas tinham desaparecido.

Rapidamente percebi onde tinha ouvido o nome Gaston recentemente. Ou melhor, lido. No livro em cima da mesa de jantar permanecia o bilhete "Devolver a Gaston". Seria possível ser o mesmo Gaston que vira no bar de Lain? Lain não era grande e o nome era suficientemente incomum para elevar as possibilidades. Seriam aqueles homens estranhos colegas do meu irmão? Só havia uma maneira de descobrir.

 Seriam aqueles homens estranhos colegas do meu irmão? Só havia uma maneira de descobrir

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Philcrocks - Primeiro rascunho (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora