Acordei com um corvo debicando as migalhas do bolo que Harry deixara no meu quarto. Como tinha o animal entrado ali? Os seus olhos negros refletiam os primeiros raios de sol que penetravam as enormes janelas do quarto. Rolei na cama, envolvendo-me naquele mar de lençóis e peles que nem nos meus sonhos imaginara. O cheiro a madeira e ervas era-me agora familiar. Um ramo de rosmaninho adornava a minha mesa de cabeceira, cortesia da Sra Fitz e acordar com aquele cheiro tinha-se tornado a minha rotina matinal favorita. Algo farfalhou debaixo da minha almofada. O barulho transportou-me subitamente para a realidade. A carta. Tirei-a rapidamente debaixo da almofada. O meu coração saltou uma batida. Tinha um selo vermelho com um brasão cravado. Uma cobra em redor de um bastão. O brasão do reino de Ashen. Estava prestes a abrir algo que não me pertencia. Provavelmente não era nada de significante, uma qualquer informação inútil, mas o meu subconsciente repugnava o ato. O corvo corvejou ao meu lado.
Retirei o pequeno pedaço de papiro amarelo do envelope com mãos trémulas.
"Excelentíssima Alteza, príncipe Marchal,
Parece que me enganei quanto ao paradeiro da pedra. Recebi a sua notificação reportando que matou o humano. Contudo, vejo que foi em vão. Enviarei reforços para Philcrocks.
Rei Ashen."
Matou o humano? Matou o humano? Matou Ray? Marchal... matou Ray.
Parei de respirar. O ar deixou de entrar nos meus pulmões. Marchal matou o meu irmão. E ele nem sequer tinha a pedra... porque ma tinha dado. Engoli em seco e ignorei as lágrimas que me escorriam pelo rosto. Cerrei os meus punhos e deixei-me cair contra o colchão, imóvel, incapaz de respirar, desejando que as mantas me cobrissem e eu pudesse desaparecer. O corvo aninhou-se ao pé de mim, aconchegando a sua cabeça no meu braço. Noutra altura teria achado aquilo estranho, mas agora mal registei o movimento.
Não sei quanto tempo passou até várias pancadas na porta quebrarem o meu entorpecimento. Não respondi.
"Lara, é o Harry. Está tudo bem? Não estavas no corredor como habitualmente e decidi passar aqui. São horas de ir tomar o pequeno almoço! Sabes que eles não servem depois das 11h! Bem eles não têm a culpa... são sleves sabes! Só seguem ordens!"
Não respondi.
"Lara!" Harry bateu incessantemente na porta.
Rolei os olhos e levantei-me. "Fica queto" disse para o corvo quando me levantei. Um olhar no espelho e percebi que parecia um fantasma. Tentei inutilmente ajeitar o cabelo com mãos trémulas.
"Um minuto" Gritei a Harry. A frase curta foi eficaz a esconder a avalanche de sentimentos que me tomava.
Olhei para o espelho e dois olhos castanhos fitaram-me. Raiva brilhava neles, tão intensamente que ofuscava a mágoa, a tristeza e tudo o mais que não interessava. Vingar Ray era tudo o que me restava e eu iria destruir Marchal.
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Philcrocks - Primeiro rascunho (Concluído)
FantasyLara, uma feiticeira que odeia magia, deve abraçar os seus poderes na Academia de Guardiões de Philcrocks e aliar-se ao seu maior inimigo, o príncipe Marchal, para vingar a morte do seu irmão. * Lara luta todos os dias para manter a magia na sua vid...