Capítulo 2

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CAPÍTULO 2

“Às vezes é preciso abrir mão de certos princípios, para experimentar os melhores prazeres.”

Cheguei em frente da porta do quarto e notei que estava entreaberta, não achei que precisava bater e fui entrando devagar  vasculhando o lugar  com os olhos. Eram sete e meia da noite de um dia chuvoso de Domingo, as janelas estavam fechadas pelo excesso de chuva que caía de forma abrupta nos vidros e escorriam em forma de cachoeiras macias entrando por uma fresta da janela e caindo no tapete vermelho mofado. Lembrou-me as poesias sensuais e dramáticas de Vinícius de Morais, onde os boêmios apaixonados choram suas mágoas pelo objeto de adoração. Aquele quarto com cheiro de sexo tinha todo um clima preparado pra seduzir, sem romantismos, como um encontro de amantes rápido e furtivo. Furtiva, assim que eu me sentia aceitando me esconder em uma espelunca pra estar alguns minutos com o objeto do meu desejo, havia semanas. Olhei de relance pro criado mudo, onde tinha outra taça pousada ao lado da garrafa do vinho que ela tomava. Como que adivinhando meus pensamentos, ela caminhou graciosamente até a mesa e encheu outra taça. Fiquei observando cada gesto que ela fazia e tentava adivinhar também qual seria o seu próximo passo, afinal, era a primeira vez em minha vida que eu vivia esse tipo de situação. Se fosse um encontro normal, eu saberia muito bem como agir, mas aquele era diferente de tudo que eu tinha experimentado.

- Você é mais que pontual dotôra... - Ela disse olhando pra mim de forma debochada - Sinal que não quer perder nem um minuto.

- Estou pagando por cada minuto, nada mais natural do que aproveitá-lo da melhor forma possível...

- Sei... Sei como é... - Falou caminhando em minha direção e me oferecendo a taça que trazia nas mãos.

- Obrigado – Agradeci, notando o decote generoso que o espartilho que ela usava deixava a mostra. Ela notou e deu um sorrisinho malicioso de canto de boca, parecia que se divertia com o meu olhar de desejo.

- Não agradeça dotôra, não é nada com o qual esteja acostumada a beber... - Disse ela sentando de pernas cruzadas mostrando-as generosamente torneadas, enquanto tentava ajeitar alguns fios rebeldes de sua meia-calça preta.

- Você não sabe nada sobre mim...

- Tem razão, mas pela sua cara de nojo quando entrou aqui, dá pra adivinhar que a senhorita grã-fina não está acostumada com esse tipo de hotel barato, muito menos com vinhos que custem menos de 50 dólares, não é dotôra!? - Ela soltou uma risada escandalosa e ficou observando meu evidente desconforto com as suas palavras.

Ela tinha razão, já estava pensando em como eu fui estúpida ao me envolver numa situação tão sem sentido quanto aquela. Enquanto eu sorvia um pouco daquele “vinho barato” pra relaxar um pouco, eu voltei a observar o interior do quarto com mais atenção. Tinha poucos móveis, realmente o suficiente pra um encontro rápido: uma cama, um criado mudo e uma pequena penteadeira com quatro gavetas e vários tipos de perfumes, além de uma pequena escova de cabelo e alguns preservativos que ainda estavam espalhados por ali. Pelo menos ela parecia ser muito cuidadosa com a própria saúde. Antes de “contratar” seus serviços eu quis saber sobre todos os detalhes de como seria e se ela usaria algum tipo de proteção comigo. Disse que poderia pagar mais caro pela sua sinceridade, ela disse que frequentemente fazia check-ups e exames de HIV e que eu não precisava me preocupar com isso. Ouvi sua voz bem perto de mim, me tirando dos meus devaneios...

- Eu não estou acostumada a atender mulheres, pelo menos não sozinhas. Os homens trazem suas esposas ou namoradas, ou até mesmo seus casos, mas elas nunca vêm a mim sozinhas. – Ela olhou pra mim, esperando uma contrarresposta, fiquei em silêncio a olhando dentro dos olhos – Mas o seu dinheiro é bem-vindo...

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