CAPÍTULO 35

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“Todos os caminhos convergem para a felicidade de quem acredita nela.”

Toquei insistentemente o interfone do endereço escrito no papel amassado. Na décima primeira vez uma senhora que ia entrando no pequeno prédio me olhou de cima embaixo perguntando quem eu estava procurando.

- Eduarda!? Não conheço essa aí, não! – Disse a mulher de cabelos vermelhos.
- Não é possível que ela não more aqui. Foi o endereço que ela me deu.

A velha mulher olhou pra mim e pro papel que eu segurava na mão.

- Deixa eu ver! – Tomou-me o papel com suas mãos magras e cheias de veias verdes antes que eu pudesse ter qualquer reação e o analisou por cima dos óculos. Depois, deu um sorrisinho cínico. – Porque você não falou logo, menina!? Mas... você não parece ser do tipo que procura uma garota de programa... – Estreitou a vista com um sorriso zombeteiro. – Ou é?
- Não sei do que a senhora está falando. Só vim aqui pra falar com uma amiga.
- Amiga... Sei! Olha menina, não tem nenhuma Eduarda no 307 não. A guria que tem lá é a Michele e ela faz michê. Quer ir lá conferir? Se quiser pode subir comigo.

Olhei pra escada estreita e escura que dava pro segundo andar e pensei se eu realmente iria querer me meter ali. Agora eu não podia mais me aventurar como antes porque havia Nicole em minha vida.

- Eu subo com a senhora! – Decidi.

Na longa subida tive tempo suficiente pra me arrepender do que estava fazendo, enquanto ouvia a mulher falar sobre como estava exorbitante o preço das verduras e me pedir que a ajudasse com a sacola pesada da feira.

Quando chegamos ao terceiro andar a mulher me indicou o apartamento no final do corredor.

- Tomara que valha a pena ter perdido seu tempo vindo aqui. Essa daí costuma dormir até tarde, depois que atende o “pessoal” da noite. E olha que isso aí costuma ser muito movimentado. – Deu um sorrisinho zombeteiro. – Ah! Meus tempos de flor da noite...
- Obrigado. – Virei as costas indo em direção a porta indicada.
- Se precisar, Matilde. To às ordens! Não sou uma bela flor, mas... – Abriu a boca, mostrando seus dentes amarelos e encavalados.

Meu estômago revirou ao pensar naquela mulher decrépita me oferecendo prazer e apertei os passos até o final do corredor. Antes de bater na porta senti cheiro de madeira mofada e reparei na umidade das laterais. A luz era fraca, só o suficiente pra ver aonde se pisava. Meu coração acelerou e eu pensei novamente se o que eu estava fazendo não me traria complicações. Pelo que entendi, estava na boca do lobo.

- Seja o que Deus quiser! – Me benzi, apesar de não ser nem um pouco religiosa e dei três batidinhas de leve na porta.

Nada.

Bati de novo e nada. Esperei um minuto e bati de novo.

“Ta vendo? Ela não ta! Vai pra casa que é o melhor que você faz!”

Quando me virei pra ir embora ouvi uma voz irritada gritar atrás da porta e abri-la de supetão.

- O que é, porra!? Eu já não disse que te dou o dinheiro aman...

Uma loira de mais ou menos uns 20 anos abriu a porta só de roupão. Metade do seu corpo aparecia através da fresta e ela parecia não ligar pra isso.

- Que qui foi madame? Se enganou de porta, é!? Ou tá procurando alguma coisa aqui? – Me encarou com a mão na cintura.
- Aqui mora alguma Eduarda? – Falei me sentindo um pouco ridícula.
- Qui é que tu qué com a deinha? - Perguntou, mascando um chiclete irritantemente.
- Ela está?
- Depende... Quem é tu?
- Uma amiga.
- Amiga! – Soltou uma gargalhada histérica. – Desde quando essa doida tem “amigas”!? Fala sério!
- Então, ela está? Eu posso falar com ela? – Olhei de soslaio pra dentro do apartamento.
- Que qui é? Ela ta te devendo alguma grana é? Tu é alguma cana?
- É um assunto particular.
- Ela num tá não.
- Sabe onde posso encontrá-la?

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