CAPÍTULO 38

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Um prisioneiro nunca se sente livre o suficiente de quem o aprisiona.

Eduarda estava ao meu lado, no chão, com sua respiração descompassada e seu peito que subia e descia violentamente. Fiquei observando a chuva caindo lá fora e as gotículas de água sendo condensadas no vidro embaçado do portal da varanda.

- Foi o melhor gozo da minha vida... Eu vou te adorar pelo resto dos meus dias, se você deixar. – Sussurrou, divertida, aquelas palavras que me tocaram profundamente.

Levantei meu corpo nos cotovelos e a observei, cheia de culpa. Estávamos seminuas, ela mais que eu. Apesar de não ter lhe dado resposta para sua pergunta, o fato de termos feito amor daquela forma tão doce e tão entregue, aquietou seu coração e me deu tempo pra pensar no que realmente eu queria da minha vida dali pra frente.

- Não consigo mais ser eu sem você. – Ela continuava a falar, enquanto acariciava minhas costas, de cima embaixo. – Depois se levantou e notando que eu não a olhava, segurou meu queixo e me forçou a encará-la. – Eu quero você Fernanda! Isso aqui não é uma brincadeira pra mim. E você? Me quer?
- Não pareceu que eu queria?
- Não é assim, dessa forma. Você ta sendo evasiva. Sabe do que to falando.
- Quero! – Disse, me arrastando por cima do seu corpo e forçando um beijo cheio de tesão.
- Meu amor... você quer um tempo pra pensar na gente? – Segurou minha boca entreaberta e me encarou.

Levantei de cima dela e repentinamente me lembrei de Nicole na creche. Olhei pro relógio assustada e constatei que tínhamos gastado quase três horas nos amando ali naquele chão frio, pouco coberto pela toalha de mesa. Meu corpo estava dolorido e o dela, cheio de marcas vermelhas, certamente também.

- Droga! – Passei a mão nos cabelos, exasperada.
- Que foi?
- Já passou da hora de pegar minha filha na creche e não vai dar tempo de atravessar a cidade toda e chegar até lá com esses engarrafamentos todos.

Disquei o número de Brenda, contra a vontade e pedi, meia sem jeito, que ela pegasse Nicole na creche, porque eu estava presa em um “engarrafamento”. Ela não fez nenhuma pergunta e se ofereceu de bom grado. Eu desliguei o telefone e dei um suspiro alto. Senti as mãos quentes de Eduarda cercarem minha cintura nua e sua cabeça descansar em minhas costas, depois de dar pequenos beijos em meu ombro.

- Você sempre acha uma solução pra tudo, né!? Mesmo que pareça um problema impossível de resolver.

Acariciei seus braços e me deixei levar pelo calor da sensação que aquele corpo quente, grudado no meu, provocava. Fechei os olhos e senti o sutil cheiro de sexo recente que invadia o ambiente. Não era minha intenção transar com Eduarda ali, daquele jeito largado, mas quando eu olhei seus olhos pedintes, meu coração disparou e meu corpo todo foi tomado por uma força muito maior do que eu poderia resistir e que me atraía pra ela, toda vez que ela me olhava tão profundamente, como fez.

- Nem todos os problemas têm uma solução ética ou viável. – Virei-me de frente pra ela e acariciei seu rosto. – Vai ter sempre alguém, dentro do problema que vai sair perdendo, dependendo do ponto de vista.

Ela ficou parada, me fitando e analisando cuidadosamente minhas palavras.

- Não me importo de perder agora, se eu ganhar depois. O importante é conseguir o objetivo.
- Hum... vejo que o mercado financeiro perdeu uma boa corretora. – Fingi dar um soco em seu queixo.
- Fernanda?
- Hum!?
- Eu não vou negar que faria tudo pra ficar do seu lado, mas só te peço que não brinque com meus sentimentos.
- Shiii... Não fala, pra não estragar tudo. Vem cá. – Abracei-a.

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