Capítulo 13

124 5 0
                                    

CAPÍTULO 13

“Porque você me olha, se você não me vê. Sobre os oceanos, em doces guerras frias. Não deixa anoitecer, não deixa escurecer o nosso dia.”

Orlando Moraes

Deixei o celular cair de minhas mãos enquanto tentava digerir as informações recentes e dissimular minha emoção. Henrique ficou me olhando preocupado e abaixou pra pegar o celular do chão.

- O que aconteceu Fernanda? Você está bem??

- S-i-m...

Peguei o telefone de volta da mão dele e num rompante disse a Adelaide que não podia ajudar mais.

- Não diz uma coisa dessas dona Fernanda. Só a sinhora pode tirar ela de lá. Por favor... Não a deixe sozinha quando ela mais precisa. Ela confia na sinhora.

- Adelaide, eu... - Não podia negar que estava morrendo de preocupação. Não queria me envolver mais mas também não podia negar que só o fato de pensar que ela podia estar numa cela fedorenta e suja me revirava o estômago. Eu não podia virar as costas. Sentia-me responsável de alguma forma por ela.

“Cadê seu senso de justiça Fernanda? Cadê sua humanidade?”

- Tudo bem Adelaide. Pra onde a levaram, você sabe?

Ela me deu todos os dados que precisava. Como um foguete me despedi dos donos da casa e de Cecília e rapidamente peguei a estrada de volta pro Rio. Estava ansiosa e sentindo um aperto imenso no peito.

Henrique, notando meu estado e sem fazer muitas perguntas, fez questão de me acompanhar o caminho todo, tendo se oferecido pra dirigir o meu carro, mas vendo minha recusa, resolveu me seguir no seu até o Rio. Não era hora pra discutir bobagens, eu precisava tomar pé da situação de Eduarda e ver como poderia ajudar, rezando pra que não fosse tarde demais. Era um domingo e nesse dia os trâmites legais são sempre mais complicados. Eu teria de esperar a segunda-feira para realmente dar talvez entrada em um HABEAS CORPUS se fosse necessário.

Fui diretamente pra 1ª DP na Praça Mauá. Eu era leiga no  assunto, mas sabia que não poderia entrar sem um advogado naquela delegacia. Assim, liguei pro Doutor Guilherme ainda no carro e expliquei-lhe a situação, que prontamente me  indicou um tal de Doutor Machado, dizendo que era o melhor criminalista que conhecera. Fiquei uns 40 minutos com Adelaide, que só fazia chorar e rezar seu terço, na ante-sala da delegacia, enquanto esperava o advogado chegar. Henrique se ofereceu pra pegar um café forte pra nós duas e saber mais detalhes sobre o caso com o investigador de plantão, enquanto Adelaide me explicava o máximo de detalhes que seu nervosismo evidente deixava.

Doutor  Guilherme chegou acompanhado do Doutor Machado, este, um senhor de idade avançada, de traços marcados pelas lutas nos tribunais da vida. Passava seriedade e competência e possuía cabelos tão brancos quanto a camisa que utilizava por debaixo do terno.

- Fernanda, este é o Doutor Machado. Ele será o responsável pela defesa de sua amiga. – Falou Guilherme, com certo orgulho estampado no rosto.

- Muito prazer. Já sabe meu nome. – Eu disse automaticamente apresentando a senhora ao meu lado. – Esta é Adelaide, a “mãe postiça” de Eduarda. – Ela me olhou com um sorriso de canto de boca que transparecia todo carinho que sentia pela sua protegida.

- Satisfação senhora. Posteriormente, creio que vamos  precisar do seu depoimento. Bem, espero poder ajudá-la senhorita Fernanda. Vocês chegaram a falar com o delegado? – disse calmamente consultando seu relógio.

- Não. Achamos melhor esperar pelo senhor. – Senti a presença de Henrique logo atrás de mim, encostando a mão no meu ombro e na outra, trazia dois copos de café fumegante numa bandeja. Lembrou-me aquele dia na casa de Adelaide. - Meu nome é Henrique, muito prazer Doutor...

CoquetelOnde histórias criam vida. Descubra agora