CAPÍTULO 42

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“Não há escuridão eterna. A luz vem para nos resgatar das trevas e dar vida àquilo que aos nossos olhos já está perdido.”

- Era ela?
- Sim.
- Ciumenta?
- Um pouco. Sei lá. Acho que sim. Mas... isso não tem importância agora.

Olhei pro mar mirando os reflexos do sol da manhã na água e pensando em como há épocas em que as coisas vêem numa sequência louca em nossa vida e nos sentimos perdidos em um redemoinho que vai nos arrastando até onde nem imaginamos ir. E o pior não é estar no meio do redemoinho, o pior é não sabermos mesmo onde iremos parar, depois de tudo.

- Porque vocês não tentam conversar de novo?

Maurício me tirou dos meus pensamentos com o semblante interessado.

- Porque não dá. – Suspirei pesado.
- Não dá porque ela não quer mais ou foi você que desistiu primeiro?

Olhei-o pensativa.

- Já passou nosso tempo. – Respondi secamente abaixando a cabeça.
- Eu realmente lamento.
- Pra alguém que queria “me pegar” você se conformou muito rápido em não ter nada comigo.
- E quem foi que disse que me conformei!? – Se aproximou e me deu um cutucão com o braço. – Caso você não tenha notado ainda estou tentando!
- Não preciso dizer que não tem chance nenhuma, não é? Você é casado.
- E você é apaixonada.... por outra pessoa. Quem me dera fosse eu.

Sorri.

- Você continua o mesmo...
- De verdade. Despeitos a parte, acho muito bonita a forma que você gosta dessa sua amiga. De tudo que você fez por ela. Sei lá, eu acho que ainda não acabou não, pra vocês.

Ele colocou a mão entre as minhas, em meu colo.

- Deve ser estranho pra você eu dizer isso, mas eu acredito no sentimento que une vocês duas e tem muita água pra rolar ainda.

Olhei-o franzindo o senho. Ele poderia estar certo e por um momento senti uma ponta de esperança em meu peito. Mesmo sabendo que dentro em pouco ela poderia se casar e ir pra tão longe de mim, que eu não a alcançasse mais. Todos se separam um dia. Porque não há amor que resista a tantos desencontros.

Ele me levou até o portão de casa e nos despedimos, não sem antes me lançar uma galanteria lisonjeira. Agradeci e mandei lembranças pra sua esposa. Desse dia em diante nunca mais o vi, mas acredito que ele tenha trazido de volta algum tipo de esperança, não só em relação a Eduarda e eu, mas à minha vida como um todo.

Uma única palavra passou a rondar a minha cabeça: recomeço. E foi isso que tentei fazer.

Depois da primeira cirurgia, no fundo, eu sentia que alguma coisa ruim, poderia me acontecer, de novo, mas eu tinha certeza que poderia sair dessa coisa, como havia feito tantas outras vezes em minha vida. Mais exames e mais testes. Segunda cirurgia. Arranca-se pedaços de você como se nunca tivessem lhe pertencido realmente. Pedaços de doenças incuráveis como as vezes, o amor se transforma. Sete meses de batalha e mais meses de recuperação. Agora, eu me olhava no espelho e meus cabelos já estavam bem maiores. Curtíssimos, mas sadios. Mesmo assim eu usava sempre um gorro ou um boné, tão acostumava eu estava a cabelos longos.

Meus olhos possuíam um ar vítrio, porque não havia mais brilho. Não havia mais eu. Essa mulher que se olhava no espelho não era mais a Fernanda que sempre pensei ser. Toco o meu peito, que antes possuíam dois seios sadios e lembranças de carícias ousadas dançam em minha mente. Outras coisas, como a ponta de um dedo frio. Um sopro quente de amor e o arrepio da pele branca e delicada num dia frio de inverno. Uma lágrima cai. Duas. Três. Já não conto mais. Gemo ao perceber que nunca mais terei essas sensações. Elas não mais me pertencem.

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