CAPÍTULO 39

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“Para sempre é sempre por um triz...”

Nunca fui absolutamente romântica. Li muitos romances na idade de 13 anos como toda menina que sonha com um príncipe encantado. Mas, poderia dizer que nesse exato momento estava dentro de um romance sem precedentes na minha vida e completamente abandonada ao mesmo. Eu tinha de admitir que ela me fazia feliz, apesar de tudo que passamos, vale a pena cada minuto de felicidade que passamos juntas e não foram poucos.

Lembro-me que durante três anos dividimos mais que momentos, compartilhamos nossas almas e nossos corações. Eduarda chegou a trabalhar como freelancer numa casa de show conceituada servindo drinques, mas como seus estudos estavam cada vez mais puxados e ela não tinha mais tempo pra se dedicar a eles como deveria, eu ofereci ajudá-la até terminar o curso o que me custou um pouco de trabalho convencê-la. Descobri que ela poderia ser tão orgulhosa quanto eu e me fez prometer que aceitaria a devolução de tudo quanto eu gastaria com ela nessa fase.

- Pensei ter ouvido você dizer que quando duas pessoas estão juntas elas ajudam uma à outra. – Comentei casualmente numa noite que ela dormira em minha casa.
- É, mas não é exatamente esse o nosso caso, né Fernanda!? A gente nem mora junto.
- Porque você não quis vir pra cá.
- Porque você não estava preparada!
- E agora, ainda acha que não estou? – Peguei suas mãos. – Olha, a casa é bastante grande e não vejo porque você ainda tem de pagar aluguel por aquela espelunca!
- A gente já conversou sobre isso e você disse que preferia que eu terminasse meus estudos e que depois veria como ficaríamos e eu também sempre preferi assim. Além do mais, aquela espelunca é o que eu posso pagar com o meu dinheiro.
- Eu já cansei de oferecer ajuda.
- Só que eu não quero, que droga! – Levantou-se contrariada. 

Dei um suspiro. Ela continuou:

- Não dá pra você perceber que pela primeira vez na minha vida eu tô tentando sobreviver sem precisar de mais ninguém me livrando dos meus próprios problemas?
- Ok, ok!!!! Me desculpa, tá!? Me desculpa se eu estou preocupada com você a ponto de querer o melhor pra você.

Ela sentou-se ao meu lado me abraçando.

- Fernanda, eu sei que por mais que você goste de mim tem a Nicole e você não tá pronta pra assumir a gente agora. Além do mais, ela ainda não entendeu porque eu posso dormir com você e ela não.

Acariciei sua face com ternura.

- Eu entendo... e decidi esperar o seu tempo, lembra? – Disse ela.
- Lembro.
- Quanto a Nicole...
- Deixe-a pensar que somos  amigas. Ela é muito pequena pra entender certas coisas e assim é melhor.

O fato é que apesar de estarmos juntas, num tipo de compromisso em que eu dormia na casa dela e ela na minha, não estávamos dispostas ainda em abrir mão de nossa liberdade social e pessoal. Talvez, mais da minha parte do que da dela.

Ao longo desses três anos juntas pouco brigamos e passamos todas as festas de fim de ano  juntas, ora em Petrópolis, junto com Adelaide e as meninas, ora em minha casa. Montávamos árvore de natal e fazíamos ceia, como se sempre tivéssemos sido uma família. Eduarda me ajudava nas coisas práticas do dia a dia, como pegar Nicole na creche e levá-la ao médico, quando ela mesma não dava o diagnóstico. Quando eu ia a seu apartamento e não encontrava nada na dispensa, no dia seguinte, depois do trabalho, eu ia ao supermercado e deixava compras em seu armário com um bilhetinho carinhoso. Eu sempre era recompensada em dobro com esses mimos.

Adelaide havia virado dona da pensão, depois que Dona Emília morrera e a filha da mesma vendeu o casarão pra ela. Ariane, agora com 14 anos já era considerada quase uma adolescente normal, tirando a personalidade introspectiva. Thaís, já estava na faixa dos 11 anos e já ajudava a mãe nos afazeres da pensão, além de estudar.
Aos poucos elas foram entendendo que a relação que me ligava à Eduarda era muito mais que fraternal, até o dia em que nos pegaram na varanda nos beijando e tivemos de explicar que não estávamos fazendo respiração boca a boca e sim, namorando.

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