Capítulo VIII - O Poeta

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Nada é tão moderno quanto nós ao nascermos.

J.M Coetzee

***

Rafael estava parado no meio da sala com sua mochila verde escura pendurada num ombro só. Ele me olhava hesitante, desviei o olhar enquanto colocava meu material na mochila, aí ele se aproximou.

— Eu sinto muito pelo acontecimento da lista. — ele disse com a voz baixa.

Coloquei minha mochila nas costas e assenti com pesar.

— Eu agradeço por você ter se manifestado. — sorri. — Considerando que muitas vezes você quase não se manifesta no geral, foi muito legal da sua parte. Obrigada.

Ele riu e olhou os pés, depois olhou pra mim novamente. Sua pele negra entrava em um contraste lindo com seus dentes absolutamente brancos e eu poderia apostar que seus olhos castanhos brilhavam no sol quente.

— Foi muita coragem sua vir aqui na frente e se expor desse jeito, queria conseguir com a mesma facilidade. — Rafael disse sem graça. — E as suas palavras... magníficas.

Eu ri. Na verdade, eu estava entrando em desespero. Eu tinha acabado de abrir algo meu para duas dúzias de pessoas e para a minha surpresa elas estavam de fato ouvindo. Notei que ele também não estava muito confortável.

— Obrigada, Rafael. — agradeci. —  Bom, eu vou indo, tenho aula de... de... alguma coisa, agora.

Praguejei por dentro por não conseguir dizer MATEMÁTICA. Rafael assentiu e eu atravessei a porta da sala com pressa, mas antes que eu pudesse seguir para algum lado do corredor, eu senti uma mão em meu meu braço.

— Eu vou direto ao ponto. — era Rafael novamente, ele fechou os olhos, respirou fundo e me olhou. — Você está afim de almoçar comigo hoje? A gente pode sair daqui juntos e quem sabe eu possa te mostrar algumas coisas que eu escrevi, e...

Ele se auto interrompeu quando eu comecei a rir. Mas não de um jeito como quem ralha, mas eu estava impressionada. Por fim, eu sorri demasiadamente feliz.

— É claro. — aceitei. — Eu vou adorar, definitivamente.

Rafael expirou devagar como quem tira um peso das costas.

— Então, até mais tarde. — ele sorriu e seguiu para o lado contrário do corredor.

***

A manhã havia terminado e eu estava extremamente feliz, por diversos motivos. Eu tinha falado em voz alta coisas que eu nunca imaginei que iriam sair da minha boca, eu havia terminado três listas de exercícios de química e física, eu tinha ganhado o apoio da minha professora de literatura para a coisa mais importante da minha vida no momento: ingressar na faculdade. E no final de tudo, eu ainda ia tinha um almoço diferente e promissor. Tudo isso me fazia quase esquecer a madrugava anterior que ainda assombrava meus pensamentos.

— Lily, a gente vai sair pra comer pizza e acertar os detalhes da minha festa. — Bárbara enlaçou seu braço no meu enquanto cantarolava a palavra "festa". — Você vem, certo?

Reprimi os lábios e segurei uma risada.

— Então, eu tenho coisas pra fazer agora. — falei sutilmente. — Mas você pode me mandar tudo depois, prometo que vou cuidar da decoração direitinho.

Beijei meus dois dedos indicadores cruzados em sinal de promessa. Bárbara soltou uma exclamação e apontou pra mim freneticamente.

— Você vai sair com um garoto! — ela afirmou surpresa.

As Treze Rosas BrancasOnde histórias criam vida. Descubra agora