Capítulo XXV - Universidade de Cambridge

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É preciso não dar de comer aos urubus. É preciso enquanto é tempo não morrer na via pública.

Torquato Neto

***

Naquela manhã de terça feira fez sol e eu estava de pé às cinco da manhã, pois meu trem iria partir dali a uma hora. Levantei sem demora e tomei um banho gelado e rápido como um piscar de olhos. Vesti um jeans confortável e um pouco velho eu devo admitir, coloquei uma blusa de manga vermelha que tinha escrito em linhas pretas: everyday is a brand new day. Eu poderia jurar que aquela blusa havia sido fabricada na América.

Peguei minha mala de rodinhas e a arrastei para fora do quarto. Quando cheguei à sala prendi meu cabelo dourado, que estava tão longo nesse momento do ano, num alto rabo de cavalo. Meu pai saía da cozinha com uma xícara em mãos.

— Bom dia, meu bem. — ele sorriu e estendeu a xícara para mim.

O cheiro do meu chá preferido chegou ao meu nariz. Erva cidreira, bem quente e cheiroso. Eu sorri e dei logo uma golada.

— Estou tão orgulhoso. — papai passou a mão pelo meu rosto.

Eu abracei sem jeito por causa da xícara em minha mão e quando eu o soltei, ele beijou minha testa. Fiquei balançando a xícara de chá, a esfriando, com a unha pintada de vermelho escuro e levantei os olhos pra encontrar a imensidão verde do olhar de Amadeus.

— Pai, eu acho que não devo ir. — admiti.

Eu estava gritando por dentro. Com todas as forças do meu peito eu sabia que não queria pegar aquele trem. Embora pegá-lo fizesse tudo o que eu mais quis o ano inteiro se realizar, eu estava ancorada à Rye de alguma forma.

— Lílian, você deve ir. — meu pai falou com seriedade. — Primeiramente, por que é a oportunidade dos seus sonhos. Em segundo lugar, Philip não irá se perdoar nunca se ele fizer você ficar. Eu estou aqui, meu bem. Eu cuidarei dele.

Eu não poderia contar com alguém melhor que Amadeus para cuidar do Éron. Puxei o ar e o segurei, depois soltei devagar. Assenti devagar e terminei de beber meu chá.

— Pai, eu te amo. — falei com um sorriso de lábios.

— Eu a amo mais. — ele disse pegando a xícara das minhas mãos, agora vazia, e voltou à cozinha.

Fiquei sozinha na sala contemplando as paredes. Eu estava há alguns passos de deixar de ser limitada à Rye. Eu seria uma mulher numa grande cidade. Mas sentiria falta da grande garota de Rye.

— Está na hora. — era a voz de Éron.

Quando me virei, ele e meu pai saíam da cozinha. Peguei minha mala e deixei minha casa com a minha família. Eu não quis ir sentada no banco da frente, preferi que eu e Éron dividíssemos o banco traseiro para que pudéssemos ir de mãos dadas o caminho inteiro que infelizmente não foi longo. Chegamos à estação as cinco e quarenta e oito. Descemos do carro e paramos perto do trem que esperava apenas sua hora de partir. As pessoas já chegavam e embarcavam. Olhei Éron e meu pai.

— Doze minutos. — eu disse.

Minha mão suava demais. Meu coração parecia que ia estourar. Meus olhos se encheram de água e eu olhei meu pai com desespero.

— Pai, por favor...

Soou a primeira chamada para o embarque do meu trem. Senti meus pés suarem dentro das minhas sandálias.

— Lily. — meu pai pegou minha mão. — Acalme-se.

Respirei fundo e olhei Éron. Faltavam dez minutos pro meu embarque.

As Treze Rosas BrancasOnde histórias criam vida. Descubra agora