Capítulo XX- Martírio II

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Antes das duas horas da manhã nós já estávamos em casa. Eu tranquei a porta quando chegamos e papai ajudou Éron a chegar ao seu quarto, deitando-o em sua cama. Caminhei até eles devagar e fiquei parada na soleira da porta. Éron me olhou levemente grogue.

— Eu sinto muito por isso. Eu não queria ser um...

Ele se calou ao sentir o olhar de reprovação do meu pai.

— Não diga um absurdo, Philip. — papai reclamo  fechando a janela e cobrindo o corpo do Éron com uma manta. — Vamos cuidar de você por que você é nossa família. É isso que famílias fazem.

Eu queria dizer algo, mas não conseguia. Eu estava estática, assustada e levemente irritada por ninguém ter me contado que Éron estava enfrentando algum distúrbio em seu corpo.

— Muito obrigado, Amadeus. Por tudo isso. — a voz do Éron soava frágil.

Papai sorriu e beijou o topo da cabeça do seu filho. Quando ele saiu do quarto, eu saí junto com ele. Papai sentou-se à mesa da cozinha e eu lhe servi um copo d'água.

— Obrigado, querida. — ele disse dando uma longa golada.

Fiquei em silêncio.

— Por favor, não fique aflita. Ele ficará bem. — meu pai disse levantando-se.

Eu neguei e esfreguei os olhos.

— Eu não sei o que pensar, na verdade. — soei exausta.

Papai me abraçou e eu o apertei, segurando o choro com força.

— Vamos tentar dormir agora. — ele me deu um beijo na testa e foi ao seu quarto.

Eu me arrastei até a sala e me deitei no sofá, olhando para o teto. Eu não sentia um pingo de sono. Seria por isso que Éron se mudou para Rye? Por que estava doente? Fiquei me remexendo no sofá durante horas sem conseguir fechar os olhos. Por volta das cinco horas da manhã, eu cochilei, mas assim que o sol subiu e atravessou a janela da sala, eu fui despertada. Levantei e me certifiquei de que tudo não havia sido um pesadelo. Era real.

Suspirei e fui até o meu banheiro. Escovei meus dentes e penteei meu cabelo. Quando saí do meu quarto, ouvi o barulho do meu pai na cozinha e o cheiro de café se espalhando pela casa.

— Não irei à loja hoje. — papai disse quando me viu entrar na cozinha.

Ele pegou uma grande panela e pôs ao fogo.

— Pode ir, pai. — eu disse enquanto pegava as ervas do meu chá. — Não vou à escola hoje. Eu cuido dele.

Eu cuidaria do Éron em qualquer circunstância, com certeza. Mas aquela atitude minha também levava um quê de segundas intenções. Eu precisava ficar sozinha com ele. Papai me olhou e ligou o fogo da panela.

— Aqui está a sopa que eu fiz ontem. Quando ele acordar mande-o tomá-la. — ele disse enchendo sua xícara de café. — Diga a ele que eu repus os remédios.

Respirei fundo. Remédios. Apenas assenti. Mergulhados num silêncio atípico, tomamos nossas bebidas quentes. Quando a sopa começou a ferver, eu desliguei o fogo. Papai pegou uma maçã, beijou minha cabeça e deixou a cozinha, depois deixou a casa. Eu e Éron estávamos sozinhos. Comecei a lavar a louça a fim de me distrair, mas era impossível. Eu não conseguia parar de pensar na noite anterior. Pensei em Dean Stanford, e nesse instante, quase quebrei um copo. Desliguei a torneira e apoiei meus braços na pia, olhando pra baixo.

— Estou enlouquecendo. — sussurrei para as paredes.

— Lílian. — era a voz de Éron.

Virei para trás e o vi. Ele estava mais pálido, com os olhos fundos e a voz rouca, estava usando uma blusa branca e um moletom menos desgastado. Não o respondi, apenas peguei um prato fundo e pus à mesa.

As Treze Rosas BrancasOnde histórias criam vida. Descubra agora