Capítulo XXVIII - A Resiliência de Lílian Katarina II

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Para uma mente bem estruturada, a morte é apenas uma aventura seguinte.

Harry Potter e a Pedra Filosofal

***

Doze dias depois eu saí de casa pela primeira vez. Num início de manhã, sentei-me na minha varanda, na cadeira de balanço e tomei meu chá matinal. Erva cidreira. Observei a rua que ainda estava um pouco vazia e o sol já se abria.            Devido ao pouco movimento na rua, dei apenas um ou outro bom dia. Alguns vizinhos me olhavam com pesar e eu não poderia culpá-los. Pobre família Morris, sempre de luto. Levantei-me da cadeira e entrei em casa, notei que Genevra havia finalmente se levantado. Ela estava com a mesma roupa desde a primeira noite que eu passei em casa após voltar à Rye: uma longa camisola branca. Fazia três dias que ela não lavava o cabelo e estava apenas bebendo água. Meu pai tentou fazê-la comer pão, sopa e frutas, mas ela não queria nada. Eu era incapaz de odiar minha madrinha. De fato, ela foi uma mãe terrível, porém compreendeu este fato ainda que tarde demais e agora lamentaria pelo resto de sua vida, assim como a intragável mãe do Dean. Genevra tinha muito em comum com ela, o que não era surpresa. O que me pegou despercebida foi que assim como a mãe do meu personagem, Genevra se arrependeu amargamente e notou que sim, amou seu filho, mas apenas não entendia aquele sentimento. Agora Genevra enxergava sua culpa na morte do Éron e se torturava dia e noite por isso. Na verdade, ela sempre soube que estava falhando como mãe, mas tinha a falha certeza de que teria tempo o bastante para retratar sua relação com seu menino. Não teve.

Naquela manhã, sentada à mesa da cozinha, eu a olhei.

— Madrinha.

Genevra levantou os olhos fundos e infelizes. Meu pai nos olhou. Eu peguei a mão dela que estava fria e ela se surpreendeu.

— A senhora precisa reagir. — eu pedi em um tom quase mudo. — Todos nós perdoamos você. Ér... Philip perdoa você.

Genevra apertou minha mão com força naquela manhã. Mais tarde naquele dia ela tomou sopa de feijão, tomou um longo banho e trocou de roupa. Eu finalmente liguei meu celular e havia dezenas de ligações e mensagens de Antonella. Respirei fundo e massageei as têmporas. Liguei de volta.

— Lílian! — ela berrou quando me atendeu.

Limpei a garganta.

— Antonella. — falei baixo.

Um silêncio momentâneo surgiu.

— Por favor, me diga que está tudo bem. — ela pediu. — Eu estive tão preocupada. Até pesquisei passagens até Rye para te procurar, eu juro!

Antonella me arrancou um sorriso.

— Não está tudo bem. — admiti.

Ouvi Antonella dar um longo suspiro.

— Comece.

Eu tentei usar todo o eufemismo possível naquela ligação enquanto contava o que tinha me feito correr da cidade universitária até Rye de uma hora pra outra. Eu não chorei em nenhum momento, o que me deu a certeza de que eu estava caminhando para melhorar. Antonella fungou algumas vezes, mas tentou disfarçar. Contei da segunda carta da Universidade de Cambridge.

— Você retornará, certo? — Antonella questionou com urgência na sua voz ainda um pouco chorosa.

Dei um suspiro longo.

— Eu vou. — falei.

Sabia que a minha amiga estava sorrindo.

— Lily, isso tudo vai passar. Você vai passar por cima disso, eu prometo. — disse Antonella. — Você tem amigos, você tem amor, todos estão com você nessa.

As Treze Rosas BrancasOnde histórias criam vida. Descubra agora